quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Animais têm sotaques? 

Sim. Os biólogos chamam essas diferenças regionais de dialetos. Essa é uma descoberta antiga: 2 mil anos atrás, Plínio, o naturalista romano, já havia observado que exemplares da mesma espécie de pássaro provenientes de lugares diferentes não soam iguais. Isso é possível porque as vocalizações de um sabiá ou bem-te-vi não vêm prontas no DNA: precisam ser aprendidas pelos bebês, exatamente como as linguagens humanas. Quando há aprendizado, a variação se torna inevitável. 

Os dialetos não se limitam a pássaros. Baleias, golfinhos e algumas espécies de macaco também exibem dialetos. Os pinípedes – grupo que inclui leões-marinhos, focas, morsas e outros mamíferos aquáticos – têm tratos vocais bastante complexos e seus chamados mudam um bocado de uma praia para a outra.

É importante diferenciar dialetos (que são algo de origem cultural) de variações genéticas. Galinhas brasileiras e chinesas provavelmente não pertencem à mesma linhagem. E pequenas variações anatômicas significam que elas vão cacarejar diferente. Mas essa é, por assim dizer, a “voz” dessas aves – não o sotaque. 

Outra possibilidade é que vocalizações diferentes evoluam por seleção natural conforme as necessidades de cada população. Um grupo de pássaros pode passar a cantar diferente dos demais membros da espécie com o passar de milhares de anos porque indivíduos que cantavam de um jeito, e não de outro, tiveram vantagens de sobrevivência e reprodução. Essas são adaptações genéticas, e não variações culturais. 

Fonte: Daniel Pessoa, biólogo, UFRN; artigo “Dialects in animals: Evidence, development and potential functions”.

Pergunta de @solrac_hayd, via Instagram

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