Cientistas que são gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e/ou queer (LGBTQ) são mais propensos a sofrer discriminação, exclusão, assédio ou enfrentar outros obstáculos em suas carreiras, revelou um novo estudo, que incluiu mais de 25 mil pesquisadores baseados nos Estados Unidos. Como resultado, esses profissionais estão mais vulneráveis a problemas de saúde e bem-estar decorrentes do trabalho e também consideram com mais frequência abandonar a carreira.
Publicada na revista Science Advances, a pesquisa é a maior do tipo já feita em termos de participantes, contando com mais de mil cientistas que se identificam como LGBTQ em sua amostragem. Ela focou em pesquisadores das áreas de ciências, tecnologias, engenharias e matemática – identificadas em inglês pela sigla STEM – o que exclui pesquisadores de áreas de humanidades, por exemplo.
Os autores da pesquisa – sociólogos da Universidade de Michigan e da Universidade Temple – entrevistaram milhares de participantes de 21 sociedades científicas dos EUA com perguntas sobre cinco aspectos de suas vidas profissionais, sendo eles: oportunidades de carreira, desvalorização profissional, exclusão social, problemas de saúde (e bem-estar) e intenções de deixar a área de trabalho.
Os resultados mostraram que os cientistas LGBTQ relatam ter menos oportunidades de desenvolver suas habilidades do que seus colegas não-LGBTQ, e também têm menos acesso aos diversos recursos de que precisam para fazer bem seu trabalho. Além disso, esses pesquisadores têm menos confiança para denunciar episódios negativos ou ameaçadores no ambiente de trabalho devido ao medo de retaliação.
Cerca de 20% dos profissionais LGBTQ também disseram que se sentem desvalorizados sobre seu conhecimento em suas respectivas áreas, apesar de terem a mesma experiência e nível de educação que seus outros colegas. Um terço (33%) dos entrevistados do grupo LGBTQ afirmou enfrentar algum tipo de exclusão social, em comparação com 22% dos não-LGBTQ. Profissionais LGBTQ também tinham 30% mais probabilidade de relatar algum episódio de assédio no ano passado do que seus colegas não LGBTQ.
A pesquisa sugere que esse tipo de discriminação pode ter um impacto na saúde e no bem-estar desses profissionais. No estudo, pesquisadores LGBTQ tiveram 41% mais chances de relatar problemas para dormir, 22% mais chances de ficarem estressados ou nervosos no ambiente de trabalho e uma probabilidade 30% maior de ter sintomas de depressão do que seus colegas, considerando os últimos 12 meses.
Isso se reflete em outro número: cerca de 22% dos cientistas LGBTQ relataram ter tido a intenção de deixar suas carreiras na ciência pelo menos uma vez no mês anterior à pergunta, em comparação com 15% dos pesquisadores não-LGBTQ.
Os autores do novo estudo compararam outros fatores dos pesquisadores do grupo LGBTQ e do grupo controle para verificar se não havia outras características que pudessem explicar as diferenças entre os resultados. Para isso, obtiveram dados sobre o grau de formação profissional e técnica de todos os participantes, número de horas trabalhadas, seus cargos dentro do laboratório e outros detalhes sobre suas rotinas e carreiras. Os resultados mostraram que esses dados não diferiam significativamente entre os grupos, ou seja, não poderiam explicar as diferenças nos resultados observados entre os cientistas LGBTQ e os não-LGBTQ.
Dados étnicos e demográficos dos participantes também foram coletados. Eles mostraram que, entre o grupo LGBTQ, mulheres e pessoas de minorias étnicas eram mais propensos a relatar os resultados negativos vistos na pesquisa do que os que eram homens e brancos, indicando que a sexualidade e a identidade de gênero não são os únicos fatores importantes nessa dinâmica e que há diferenças mesmo dentro do grupo LGBTQ.
Não é a primeira vez que esse fenômeno é identificado em estudos. Um relatório de 2019, por exemplo, mostrou que quase um terço de cientistas britânicos LGBTQ que trabalhavam em áreas como física e química já haviam considerado deixar suas carreiras por conta dos desafios e discriminação enfrentados no ambiente de trabalho. A diferença é que, nesse caso, pouco mais de 600 pesquisadores participaram do levantamento – o novo estudo inclui mais de 25 mil pessoas, LGBTQ e não-LGBTQ, gerando uma base de dados mais robusta e confiável.
“Já suspeitávamos que poderíamos descobrir que os profissionais LGBTQ enfrentam marginalização entre seus colegas, devido a preconceitos persistentes em relação às pessoas que se identificam com tal”, disse, em comunicado, Erin Cech, professora de sociologia da Universidade de Michigan e autora da pesquisa. “Mas o que mais nos impressionou é que essas desigualdades se estendiam também à forma como os colegas tratavam as contribuições científicas e técnicas [dos profissionais LGBTQ]. Essas desvantagens não afetam apenas as carreiras desses profissionais, mas também os afetam de maneiras profundamente pessoais – ampliando suas experiências de estresse, insônia e outros problemas de saúde.”
Cientistas LGBTQ são mais propensos a sofrer discriminação, exclusão e assédio Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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