A vacina Sputnik V, desenvolvida pelo Centro Gamaleya, na Rússia, atingiu 91,6% de eficácia contra a Covid-19 e um ótimo perfil de segurança, segundo dados preliminares de uma pesquisa publicada no periódico The Lancet. Parte das informações já havia sido antecipada em um comunicado no fim de 2020, mas a confirmação dos achados e avaliação de cientistas não envolvidos com o trabalho dá robustez aos dados.
Foram 19 866 voluntários analisados para essa análise preliminar: dois terços tomaram duas doses da vacina (com um intervalo de 21 dias entre elas) e o restante ficou com um placebo. Desses, 78 pessoas desenvolveram a Covid-19, sendo que 62 estavam no grupo que não recebeu o imunizante de verdade. É a partir desses dados que os pesquisadores concluíram que as injeções reduziram o risco de desenvolver a doença em 91,6%.
Além disso, análises secundárias apontam que, 21 dias após a aplicação da primeira dose, a vacina russa foi 100% eficaz na prevenção de casos graves e mortes. Algo semelhante foi visto com a Coronavac — saiba mais sobre essas diferentes taxas de eficácia clicando aqui.
O virologista Ian Jones, da Universidade de Reading, no Reino Unido, considerou os resultados positivos. Em um artigo de opinião que acompanhou o estudo, ele inclusive lembrou das críticas à falta de transparência que permeavam a vacina russa: “O desenvolvimento da Sputnik V foi criticado por uma pressa imprópria e pela ausência de transparência. Mas os desfechos reportados agora são claros. Isso significa que mais uma vacina pode se juntar na luta para reduzir a incidência da Covid-19”. Cabe destacar que Jones não está envolvido com os estudos.
Especula-se que a estratégia usada para o desenvolvimento desse produto esteja por trás de resultados tão positivos — embora ainda não dê para fazer comparações diretas, ela está entre as três vacinas que superam 90% de eficácia. A princípio, a Sputnik V usa um método parecido com a da Astra Zeneca: um pedaço do Sars-CoV-2 é inserido em um vetor viral (um adenovírus inofensivo), que é então injetado no corpo. Isso para o sistema imune reconhecer essa parte do coronavírus e, então, levantar suas defesas contra ele.
Só que ela recorre dois tipos de adenovírus, ambos circulantes em humanos — aplicando um em cada dose. Já a fórmula inglesa recorre a um só, advindo dos chimpanzés. Em teoria, a estratégia russa pode reduzir o risco de que uma eventual resistência do organismo contra o adenovírus atrapalhe a resposta imunológica.
Efeitos colaterais da vacina Sputnik V
O perfil de segurança foi considerado satisfatório. Nenhuma das reações adversas graves encontradas no estudo foi atribuída às doses, de acordo com um comitê independente de monitoramento dos dados. Foram observadas quatro mortes, mas, de novo, nenhuma teve relação com a vacina.
Os efeitos colaterais mais observados foram desconforto no local da injeção, dor de cabeça, cansaço e sintomas gripais leves.
O estudo publicado no The Lancet também esmiuçou os dados de 2 144 participantes com mais de 60 anos. E apontou um bom perfil de segurança nessa população. Além disso, indicou uma eficácia de 91,8% — estatisticamente igual ao da eficácia geral. Isso é animador se considerarmos que estamos falando de pessoas mais suscetíveis aos casos graves de coronavírus.
Limitações do trabalho
Essa pesquisa foi conduzida em Moscou, na Rússia, o que significa que a maioria dos participantes era branca. Trabalhos futuros com outras populações ajudariam a confirmar os resultados em diferentes etnias.
Além disso, como nos estudos com as outras vacinas, esse artigo focou na capacidade de as injeções evitarem casos sintomáticos de Covid-19. Mais experimentos devem avaliar seu potencial de impedir a transmissão do Sars-CoV-2.
E, claro, ainda não sabemos a duração da proteção que as doses oferecem.
Cabe destacar que essa pesquisa segue em andamento. Ela deve incluir, no total, 40 mil voluntários. E pretende seguir monitorando dados de eficácia e segurança.
A distribuição da Sputnik V
Rússia, Argentina, Bolívia, Venezuela, Paraguai e outros 11 países já têm registro desse imunizante. O Brasil não está entre essas nações. Para uma aprovação emergencial, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige estudos conduzidos no nosso território. Há planos para que isso ocorra no futuro, mas nada foi colocado em prática até o momento.
A vacina russa, assim como a Coronavac e a de Oxford, é de fácil armazenamento, o que facilitaria a aplicação nos quatro cantos do Brasil. Em comunicado, o Fundo de Investimento Direto Russo aponta que cada injeção custaria menos de dez dólares.
Vacina Sputnik V contra Covid-19: o que saber sobre eficácia e segurança Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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