quinta-feira, 30 de junho de 2022

Biomarcadores personalizariam o tratamento de tumores de cabeça e pescoço

Um grupo que reúne pesquisadores do Brasil e de Portugal desvendou as alterações moleculares que indicam a resistência de tumores de cabeça e pescoço ao cetuximab, uma das poucas terapias aprovadas para esse tipo de câncer. Cerca de 60% dos pacientes não respondem bem ao tratamento.

Com os resultados, publicados na revista Cells, espera-se que os médicos possam em breve prever quais pacientes responderão ou não ao tratamento, considerado de alto custo. Baseados nos dados, os pesquisadores sugerem ainda testar combinações do cetuximab com outros fármacos, a fim de reverter a resistência ao agente.

“O tratamento para os tumores de cabeça e pescoço tem evoluído relativamente pouco e envolve ainda basicamente cirurgia, radioterapia e quimioterapia. O cetuximab é revolucionário, por ser uma terapia específica para um receptor celular bastante alterado nesses tumores, conhecido pela sigla EGFR”, explica Rui Manuel Reis, pesquisador do Hospital de Amor – anteriormente conhecido como Hospital do Câncer de Barretos – e da Universidade do Minho, em Portugal.

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Até então, não se sabia o que causava a resistência ao medicamento em uma parcela dos pacientes com tumores de cabeça e pescoço. Esse é um fator decisivo na decisão sobre como tratá-los. Além disso, a incapacidade de prever o sucesso do tratamento de alto custo faz com que ele não seja incluído no rol de medicamentos cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para esse tipo de câncer.

O cetuximab, porém, é utilizado de forma personalizada para tratar o câncer colorretal metastático, uma vez que existem testes genéticos para as mutações nos genes KRAS, NRAS e BRAF que predizem a resistência ao medicamento. A droga somente é administrada aos pacientes com potencial de responder de forma positiva.

O estudo publicado agora abre caminho para o desenvolvimento de abordagens personalizadas também para tumores de cabeça e pescoço.

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“Analisamos linhagens resistentes – em nível de DNA, RNA e proteínas – e encontramos alguns biomarcadores que foram bastante expressos, como a proteína mTOR. Nossa proposta é também usar regimes de combinação do cetuximab com fármacos que inibam essas proteínas expressas, revertendo esse fenótipo de resistência”, conta Izabela Faria Gomes, que realizou o trabalho durante doutorado no Hospital de Amor com bolsa da FAPESP.

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Atualmente, existem inibidores específicos da proteína e da via mTOR disponíveis no mercado. Dessa forma, a proteína que é expressa na linhagem resistente poderia ser inibida em regimes de combinação com outros fármacos que atuam sobre outras proteínas da mesma via de sinalização celular.

Linhagens resistentes

Para descobrir os mecanismos de resposta ao fármaco que podem estar ocorrendo, o grupo de Barretos desenvolveu um modelo in vitro para mimetizar a resistência que ocorre nos tumores dos pacientes.

Uma linhagem de tumor de cabeça e pescoço inicialmente sensível ao medicamento foi cultivada em laboratório e “bombardeada” por um ano com o cetuximab. As células que sobreviveram, ou seja, que desenvolveram resistência, foram então analisadas pelos pesquisadores por meio de diversas ferramentas moleculares para que se pudesse entender o que as tornava diferentes.

O modelo de resistência criado pelos pesquisadores está no momento sendo aperfeiçoado em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e com a Universidade do Alabama, nos Estados Unidos.

Futuramente, ele pode dar origem a um teste específico para detectar a resistência dos tumores de cabeça e pescoço à droga. Caso evolua para essa fase, o estudo poderá ser realizado em parceria com o A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, onde alguns pacientes são tratados com o cetuximab.

O próximo passo da pesquisa é validar os achados em modelos animais e em pacientes refratários à terapia com cetuximab. Além disso, em estudos futuros, poderão ser testados regimes de combinações entre cetuximab e outros agentes terapêuticos.

*Este texto foi produzido pela Agência Fapesp.

 

 

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O que é a síndrome do túnel do carpo?

Apesar de não oferecer grandes riscos à saúde, a síndrome do túnel do carpo pode ser bem incômoda. Entre os sintomas, formigamento, dores nos dedos e até a dificuldade de realizar alguns movimentos com a mão.

Descubra como ela acontece e o que pode ser feito a respeito:

1. A raiz do problema

Tudo começa com uma compressão do nervo mediano, um dos principais das mãos. Responsável pela sensibilidade dos dedos polegar, indicador, médio e parte do anelar, ele passa pelo punho sob o ligamento carpal e por uma estrutura conhecida como túnel do carpo, palavra grega para pulso.

2. Aperto no túnel

Os sintomas acontecem quando o espaço de passagem fica menor do que o normal e o nervo é fisicamente comprimido. Pode ser, por exemplo, pelo acúmulo de líquidos típico da gestação, por uma inflamação no tendão, por um trauma ou ainda
por predisposição genética.

<span class="hidden">–</span>Ilustração: Rodrigo Damati / Foto: Nature - Getty Images/SAÚDE é Vital

3. Conexão desligada

Em casos mais leves de compressão, o nervo ainda consegue funcionar, mas seus impulsos elétricos, que transmitem informações entre a mão e o cérebro, circulam com certa dificuldade. Daí podem surgir formigamento, sensação de choque ou desconforto inespecífico na região enervada por ele.

+ Leia também: Até quando os formigamentos pelo corpo são normais?

4. Falha no processo

Além de garantir a sensibilidade dos dedos, o nervo também responde por parte de sua capacidade motora. Se o aperto for grave, uma ordem para fazer força ou segurar um objeto não chega a eles. O movimento de pinça fica comprometido e tarefas habituais podem se tornar penosas.

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<span class="hidden">–</span>Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital

As possíveis causas

• Menopausa
Gravidez
Alterações hormonais
Diabetes
Doenças reumáticas (como artrose e artrite reumatoide)
• Traumas
Obesidade

E ficar muito tempo no celular ou computador?

É comum ouvir que existe relação, mas ainda não há consenso sobre o assunto.

O que se sabe é que passar muito tempo com a mão na mesma posição pode comprimir o nervo, mesmo que temporariamente, provocando os sintomas.

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O movimento repetitivo também leva ao inchaço dos tendões, que disputam espaço no túnel.

Tratamento da síndrome do túnel do carpo

síndrome do túnel do carpo

Fontes: Marcelo Rosa, ortopedista do HCor, em São Paulo; Teng Hsiang Wei, ortopedista e coordenador do Grupo de Cirurgia de Mão do Hospital das Clínicas de São Paulo; Fernando Cohen, ortopedista do Instituto Cohen, na capital paulista

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O que a contagem de calorias pode esconder

Emagrecer é matemática pura: você precisa comer menos do que gasta em termos de energia. Mas emagrecer com saúde é algo mais complexo, e não se restringe a contar calorias. Quando não olhamos para a composição de nutrientes no cardápio, nosso equilíbrio metabólico pode ir pelos ares.

O emagrecimento requer que, pelo menos por um tempo, entremos no que se chama déficit calórico. Para saber quanto o corpo gasta de energia, existe um cálculo que leva em consideração peso, idade e altura e determina a taxa metabólica basal, isto é, quanto o organismo consome de energia em repouso. Hoje há aplicativos de celular que fazem a conta pela gente.

Até aí, nenhuma novidade, basta contar as calorias das refeições. Mas você pode estar em déficit calórico montando um prato de 300 calorias com salada e uma fonte magra de proteína ou devorando um algodão doce, com as mesmas 300 calorias. O número é o mesmo, mas o efeito metabólico, não.

+ LEIA TAMBÉM: As dietas regionais que estão na moda. Vale apostar?

O algodão doce é um exemplo de alimento com calorias vazias, ou seja, tem bastante caloria e praticamente nada de nutrientes. A exemplo de biscoitos, salgadinhos e outros alimentos ultraprocessados e ricos em carboidratos simples, ele faz o corpo encarar um pico de insulina (hormônio que leva à glicose para as células), num processo que, com o tempo, estimula o acúmulo de gordura e o aumento de apetite.

Isso significa que, ao focar nas calorias e esquecer a composição nutricional, corre-se o risco de perder peso no início, mas engordar depois. E ainda ficar sujeito a doenças como o diabetes.

+ LEIA TAMBÉM: O que está mudando no tratamento do diabetes

Cada porção de alimentos tem uma distribuição específica de macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras), expressos em gramas. Mas há pegadinhas no meio. Uma pesquisa recente, financiada pela indústria da batata, aponta que não há diferença significativa entre comer uma porção de 300 calorias de batata frita e outra de 300 calorias de amêndoas todos os dias em termos de ganho de peso.

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Ok, mas o estudo não considera o valor nutricional de cada alimento. A amêndoa in natura é fonte de gorduras saudáveis e proteínas. A batata frita é rica em carboidratos simples, tem alto índice glicêmico e teor elevado de gordura saturada, cujo excesso aumenta o risco cardiovascular.

Fora isso, a amêndoa agrega fibras e micronutrientes, caso de vitaminas do complexo B, vitamina E e cálcio. A batata frita passa longe disso, e as versões industrializadas ainda vêm com conservantes e outros aditivos.

No longo prazo, quem exagera na batata frita, ou em preparos similares, corre maior risco de ficar com os níveis de colesterol e açúcar no sangue desequilibrados e uma pior saúde metabólica. Trocar uma porção de 300 calorias por outra não interfere na perda de peso em si. Porém, a decisão cobra um preço ao estado de saúde.

No final das contas, as calorias importam, sim, mas nunca sozinhas. Nosso corpo precisa ser nutrido, algo que algodão doce, batata frita e outros alimentos ultraprocessados não farão por nós. Eles não estão proibidos, mas devem ser consumidos com moderação.

O ideal é sempre priorizar alimentos in natura e com maior valor nutricional, que nos entregam um pacote mais balanceado de nutrientes, protegem nosso organismo e inclusive ajudam a manter um peso adequado lá na frente.

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* Marcella Garcez é médica nutróloga, diretora e docente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e pesquisadora do Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo

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quarta-feira, 29 de junho de 2022

NASA vai testar nova órbita ao redor da Lua – que pode ser usada no programa Artemis

A NASA lançou ontem (28), uma nave espacial do tamanho de um microondas em direção à Lua. O objetivo da agência é testar a possibilidade de uma nova órbita, nunca usada antes, a fim de preparar o caminho para futuras missões espaciais.

Chamada de CAPSTONE, a nave pesa quase 25 quilos e levará quatro meses para chegar ao destino. Depois, ela deve ficar pelo menos seis meses em órbita, recolhendo informações sobre a trajetória.

A CAPSTONE é um importante passo para o programa Artemis, que planeja colocar a primeira mulher em solo lunar. A nave vai desbravar uma nova órbita, conhecida pela sigla NRHO (near rectilinear halo orbit), que pode ser útil para as próximas viagens espaciais.

O novo caminho foi considerado mais vantajoso por otimizar os recursos necessários durante uma missão. No caso da Apollo, a órbita traçada pelo módulo era circular e ficava a pouco menos de 100 quilômetros da superfície da Lua. Eles podiam ir do solo para o módulo relativamente rápido – mas gastavam muito combustível.

Com o programa Artemis, os planos são outros. Primeiro, a NASA planeja montar uma estação espacial na órbita lunar. Chamada Gateway, ela usaria essa nova órbita testada pela CAPSTONE e serviria como uma plataforma de treinamento e alojamento para futuros astronautas rumo à superfície lunar. Assim como a CAPSTONE, a Gateway chegará a 1609 quilômetros de um polo lunar em sua passagem mais próxima e 70006,5 quilômetros no polo oposto, demorando sete dias para completar uma volta.

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Apesar da maior proximidade com a superfície, a nova órbita oferece vantagens importantes. Uma delas é a constante vista para a Terra que – mais do que um agrado aos olhos – proporciona comunicação contínua durante toda a rotação. Contudo, o principal benefício é, sem dúvida, a economia de combustível. Se manter na órbita NRHO demanda menos combustível pois, nesse percurso, naves espaciais sofrem atração gravitacional da Terra e da Lua. O resultado desse equilíbrio é um caminho relativamente estável para manter as naves.

“Tem o benefício de precisar de baixa energia para entrar e de baixa energia para sair”, relata Chris Baker, executivo do programa de tecnologia de pequenas naves espaciais da NASA, durante uma entrevista coletiva. Baker também descreve a espaçonave nessa órbita como “se equilibrando no ponto entre a atração gravitacional da Terra e a atração gravitacional da Lua”.

Além da nova órbita, a agência também planeja testar uma nova forma de navegação, em que a nave tentará determinar sua própria posição e velocidade no espaço. O objetivo é depender menos de informações vindas da Terra, o que pode ser útil para futuras explorações.

CAPSTONE tem previsão de chegada na órbita lunar para o meio de novembro. Depois dos seis meses em que servirá de cobaia aos cientistas, ela será posta em rota de colisão com a Lua e terminará seus serviços de desbravadora de órbitas.

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Como as healthtechs já fazem a diferença na saúde dos brasileiros

Inteligência artificial, telemedicina, 5G, internet das coisas, saúde 5.0, open health… Todos esses conceitos estão na mesa do setor de saúde (re)desenhando o presente e o futuro na forma como cuidamos do nosso bem-estar.

A transição digital impôs mudanças no comportamento social, assim como contribuiu para o avanço e a ampliação do acesso às novas tecnologias, tornando-se fundamental para o planejamento sustentável do ecossistema de saúde brasileiro.

Nesse contexto, as healthtechs – pequenas empresas inovadoras que atuam na área– têm um papel essencial na busca de soluções eficazes para o mercado e os pacientes, aprimorando a interface entre as instituições e os usuários, endereçando necessidades não atendidas e permitindo criar um sistema de saúde mais inclusivo e eficiente.

As novas tecnologias oferecidas pelas startups têm tudo para propiciar uma medicina mais preventiva, preditiva e personalizada. Um levantamento do segmento feito pela Liga Ventures, aceleradora de startups que as conecta a grandes empresas, identificou quase 400 healthtechs no país, distribuídas em 35 categorias.

Elas já atuam no setor de planos e financiamentos, desenvolvimento de dispositivos, realização de exames e diagnósticos, gestão de processos, agendamento de consultas, prontuário eletrônico, prescrição e triagem, além de munir usuários de orientações para o bem-estar físico e mental.

+ ASSISTA: Healthtech cria dispositivo para checar a pressão dentro do crânio e ganha prêmio

Em 2021, os investimentos nessas empresas superaram os 600 milhões de reais, segundo dados do Inside Venture Capital, o que demonstra o interesse do mercado pelo potencial de inovação que elas trazem para o setor. O valor é o triplo dos aportes registrados no ano anterior.

As grandes empresas vêm atraindo as healthtechs para próximo de si, criando poderosas sinergias em busca de ferramentas, aplicativos e outras soluções inovadoras. A partir da aplicação da inteligência artificial, por exemplo, startups e companhias maiores podem criar algoritmos capazes de resolver questões de fluxo de exames ou auxiliar no laudo de métodos de imagem, numa escala muito acima da capacidade humana.

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Cito dois cases concretos da DasaInova, Laboratório de Inteligência Artificial da Dasa, frutos de parcerias com healthtechs. O tempo de realização de tomografias foi reduzido para 20 minutos, com a mesma precisão do fluxo tradicional, com o uso de um algoritmo. Além de maior conforto para o paciente, a agenda do equipamento ficou mais flexível, ampliando o acesso ao exame para um número maior de usuários.

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Em outra ponta, a inteligência artificial permite ler centenas de exames de imagem e identificar, através da aprendizagem de determinados padrões, se o laudo precisa ser priorizado por indicar um possível tumor. Dessa forma, o diagnóstico será realizado precocemente, possibilitando iniciar o tratamento de maneira mais rápida e aumentando a chance de um melhor desfecho.

Referências como essas mostram como a simbiose entre grandes empresas e healthtechs é vantajosa para o sistema de saúde. O engajamento com as startups nos permite trabalhar em rede e acelerar a transformação da jornada de cuidado.

Essas iniciativas são baseadas na perspectiva da inovação aberta, ou seja, empreendendo recursos compartilhados entre a grande e a pequena empresa a fim de alcançar o resultado desejado, gerando benefícios para todos. A próxima era da saúde está sendo construída agora e certamente contará com a valiosa contribuição das healthtechs.

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* Fabiana Salles e diretora de Engajamento com Startups da Dasa e empreendedora no setor de saúde

 

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O cardápio afasta a pressão alta na gravidez?

A pré-eclâmpsia é uma condição marcada pelo aumento preocupante da pressão arterial na gestação. O quadro pode ser assintomático e acarretar prejuízos sérios para mães e bebês — de aborto espontâneo a parto prematuro.

Procurando estratégias para prevenir o problema, um estudo com mulheres chinesas publicado no British Journal of Nutrition
descobriu que a alimentação pode ajudar.

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Dietas com alto teor de vegetais e bom volume de proteínas foram associadas a uma redução no risco de pré-eclâmpsia.

A pesquisa também analisou se a quantidade de sal ou açúcar poderia influenciar esse desfecho, mas o curioso é que não encontrou nenhuma relação significativa.

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Doutor, como é mesmo o nome do meu câncer?

O filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C) começou a classificar os seres vivos, dividindo as espécies em animais e plantas. Depois os animais foram divididos segundo o critério de onde viviam: terrestres, aéreos, aquáticos e anfíbios. Desde então, não paramos de subdividir as coisas e esse hábito nos ajuda a reconhecer, entender e tomar decisões.

Na medicina como um todo, e na oncologia e na patologia especificamente, cientistas ficaram famosos por classificar e subdividir tumores e reconhecer subgrupos da doença. Assim nasceram o sarcoma de Ewing, tumor de Klatskin, o tumor de Wilms…

Só de ler esses nomes, os especialistas atualizados já sabem muito sobre como eles se apresentam, em que idade os tumores são comuns, localização do corpo, sinais e sintomas, velocidade de crescimento, qual o benefício de usar este ou aquele tratamento, a sobrevida esperada etc.

Mas há exceções que se comportam diferente do esperado. Bem, nesses casos, os profissionais se reúnem, investigam, debatem e descobrem que, apesar das semelhanças, há neles algo de diferente. Pode ser uma mutação genética e o surgimento de um primo do tumor conhecido, mas com sobrenome diferente.

O papel das mutações isoladas ou combinadas nos tumores elas tem modificado a forma como classificamos o câncer. Descobrimos que essas modificações no DNA costumam ser a causa da doença, determinam o grau da agressividade dela, e podem influenciar o tratamento.

Agora os tumores têm nome e um ou mais sobrenomes, traduzindo seu perfil biológico e comportamento. Exemplos: “oligodendroglioma com mutação do gene IDH e codeleção 1p/19q” ou “tumor torácico indiferenciado deficiente para o gene SMARCA4”. Não é grego, mas significa um subtipo específico de tumor no cérebro e de pulmão, respectivamente.

As pesquisas do momento visam encontrar medicamentos inteligentes que anulem o efeito dessas mutações e drogas que se encaixam num esquema “chave-fechadura” nas alterações moleculares causadas pelas mutações. Como são muitas mutações, há muitos novos medicamentos e cada um deles pode ser empregado em situações bem específicas.

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(Re)classificação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publica os livros de referência para todos os oncologistas usarem a mesma nomenclatura e o grau de estadiamento dos tumores. A cada nova edição dos famosos Blue Books da OMS, revisitamos nomes, eliminamos subtipos que não fazem mais sentido e reconhecemos novos com base em critérios mais modernos.

São conhecidos oficialmente 45 tumores diferentes na tireoide, mais de 110 no sistema nervoso e mais de 80 subtipos de linfomas. O total passa de mil tumores com nomes oficiais.

São tantas informações atribuídas a cada um deles, como apresentação clínica, localização, comportamento, mutações, aspectos de imagem, macroscopia, microscopia e relação com hereditariedade, que fica difícil para qualquer oncologista sozinho dominar todos os tipos.

Não à toa, há uma língua própria entre os vários especialistas focados em cuidar de pacientes com um determinado tipo tumoral, por vezes mal compreendida pelos especialistas de outro tipo tumoral. E vice-versa.

E isso está provocando uma transformação importante na oncologia, porque os nomes e sobrenomes trazem consigo a personalização do cuidado, a informação sobre o prognóstico e a escolha do tratamento mais eficiente e com menos efeitos colaterais.

Duas décadas atrás, um paciente que se apresentasse tossindo sangue em um consultório realizava um raio-X e, se o tumor fosse detectado, retirávamos o pulmão por cirurgia e o patologista analisava e laudava a amostra identificando se tratar de um carcinoma de pulmão, que poderia ser de pequenas células ou não pequenas células. O prognóstico variava de ruim a muito ruim com qualquer combinação de cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.

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Hoje, o raio-X foi substituído pela tomografia computadorizada, a cirurgia substituída por uma biópsia por agulha e o patologista recebe alguns pequenos fragmentos do tumor, aplica testes microscópicos e testes moleculares. Ao final, há dezenas de classificações possíveis para o diagnóstico.  As mutações podem acontecer em diversos genes ou até mesmo em regiões diferentes do mesmo gene e com significados diferentes. Numa localização X, significam que o tumor responde a uma droga específica e, numa localização Y, significam que não vale a pena tentar aquele medicamento.

O câncer de pulmão tem hoje muitos nomes, muitos sobrenomes e opções terapêuticas diferentes, com taxas de sucesso muito melhores. Depois de saber qual mutação o tumor contém, podemos monitorar sua presença através da biópsia liquidaque aponta fragmentos de DNA mutado circulando no sangue.

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Integração e personalização

A oncologia atual e praticada na fronteira do conhecimento é assim: requer especialistas para o diagnóstico e estadiamento da doença, técnicas modernas de laboratório, medicamentos inovadores… Agora, nada mais depende de um médico só; a concepção moderna é integrar para personalizar. Muito mais personalizado, muito melhor para o paciente, mas também muito mais caro para o sistema, numa equação difícil de resolver.

Do outro lado, ao descobrirmos tumores de muito baixa agressividade, com crescimento tão indolente que não causam impacto na vida das pessoas, podemos apenas monitorar  (a viglância ativa) e evitar tratamentos agressivos. 

Isso acontece principalmente em pacientes acima dos 70 anos, com outras doenças coexistentes e quando o risco de uma cirurgia ou quimioterapia são mais sérios do que o câncer em si. Se encaixam aí alguns tumores da tireoide, da próstata, leucemias crônicas, entre outros.

Tudo depende da individualização, que é mais segura para o paciente e barata para o sistema. A OMS chegou a tirar a palavra “câncer” do nome de algumas condições porque elas não merecem despertar aquela ansiedade ao paciente tampouco afetam sua qualidade de vida.

Meu pai teve câncer de próstata aos 62 anos. Era um tumor de baixo risco, de lenta progressão, e decidimos na época fazer apenas radioterapia, porque a ciência mostrava que ela tinha sucesso equivalente à cirurgia com menos efeitos colaterais. Não valia a pena usar uma bala de canhão para matar um passarinho.

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Ele passou pelo tratamento sem reações adversas importantes e a vida seguiu. Passaram-se 18 anos até que o câncer voltou, algo constatado pelos exames de imagem e sangue. Parece ser o mesmo tipo de progressão lenta de quase duas décadas atrás.

Só que agora, acima dos 80 anos de idade, meu pai tem um coração frágil, um pulmão que já não é o mesmo e o tratamento com hormonioterapia e outras combinações pode encurtar a vida dele pela toxicidade, coisa que o tumor não deve fazer. Decidimos não tratar.

Como é bom classificar, informar e decidir baseado na ciência! Para cada paciente oncológico, vale entender o nome, o sobrenome e os seus significados, porque câncer não é tudo igual. E acho que não vamos parar por aí.  Aristóteles não imaginava o que começou.

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terça-feira, 28 de junho de 2022

Entrevista: como conter bactérias multirresistentes geradas pela pecuária

Sabia que o tratamento cruel aos animais de criação está relacionado ao risco do aumento de bactérias resistentes a antibióticos? Pode ser difícil compreender essa conexão a princípio, mas ela existe – e fica clara no minidocumentário “Bactérias Multirresistentes: Uma Ameaça Invisível”, disponível no YouTube e produzido pela organização Proteção Animal Mundial.

“A necessidade de produzir carne de baixo custo e em larga escala fez a indústria submeter os animais a práticas não sustentáveis, como confinamento em pequenos espaços. Com isso, a imunidade dos animais é desafiada. Para que eles não fiquem doentes, os produtores usam antibióticos de forma preventiva”, diz Daniel Cruz, veterinário e coordenador de bem-estar animal da Proteção Animal Mundial. “E há outra parte da indústria que usa os antibióticos como promotores de crescimento”, completa, em entrevista exclusiva que concedeu para VEJA SAÚDE no lançamento do minidocumentário – confira o bate-papo mais abaixo.

O minidocumentário inclusive retrata a realização de uma pesquisa de campo, feita pela Proteção Animal Mundial em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que avalia essa relação entre pecuária, uso de antibióticos e o surgimento de bactérias multirresistentes.

É preciso entender que a resistência bacteriana está entre as dez maiores ameaças ao bem-estar global, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Todo ano, morrem 700 mil pessoas no planeta em decorrência de infecções que não respondem aos tratamentos com antibióticos. Nos próximos 30 anos, podem ser mais de 10 milhões de óbitos, estima a OMS.

A resistência bacteriana dá as caras com o uso exagerado ou inadequado de antibióticos, que acaba selecionando as cepas mais resistentes. A pecuária se tornou uma fábrica de micro-organismos resistentes, uma vez que recorre rotineiramente aos antibióticos – o que poderia ser evitado com práticas mais modernas e focadas no bem-estar animal.

Leia também: Novos hábitos ajudam a vencer as superbactérias, uma preocupação mundial

Ao longo da entrevista, Daniel Cruz aborda esses assuntos e discute como cada um de nós pode ajudar a conter essa tendência. Confira:

Veja Saúde: Como foi feito o estudo mostrado no documentário e o que ele prova?

Daniel Cruz: Colhemos amostras em diversos pontos  do Paraná que possuem grande concentração de produção de suínos e frangos. Assim que identificávamos uma granja, eram feitas coletas em trechos do rio antes de ele chegar à granja e depois de passar pelo terreno dela.

As amostras colhidas no trecho anterior apresentavam bactérias com uma média de cinco genes que conferem resistência a alguns tipos de antibiótico*. Depois que o rio passa pela granja, esse número pula para 22 genes. Ou seja, há um aumento representativo desses agentes de resistência microbiana nessas áreas de produção.

Uma vez encontrado esses genes em rios próximos às granjas, é sinal de que a própria água de consumo e os peixes estão contaminados. Isso facilita muito o contato de bactérias resistentes com o ser humano.

*As bactérias que resistem ao tratamento com antibióticos possuem em seu DNA genes distintos em relação às que são facilmente combatidas com medicamentos. Fonte: Relatório da Proteção Animal Mundial.

Como a pecuária pode contribuir para o surgimento de bactérias resistentes a antibióticos?

Os animais estão recebendo uma quantidade muito grande de antibióticos durante o seu ciclo de produção. A necessidade de produzir carne de baixo custo e em larga escala fez a indústria submeter os animais a práticas não sustentáveis, como confinamento em pequenos espaços. Com isso, a imunidade dos animais é desafiada. Para que eles não fiquem doentes, os produtores usam antibióticos de forma preventiva. E há outra parte da indústria que usa os antibióticos como promotores de crescimento.

Com o uso de tanto antibiótico, as bactérias encontram um terreno fértil para evoluir e escapar desses medicamentos.

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Além de estarmos expostos a bactérias super-resistentes, há risco de consumirmos esses antibióticos pela alimentação?

Sim. Cerca de 70% desses antibióticos são eliminados pelas fezes e pela urina dos animais, e as fezes são utilizadas de maneira frequente como fertilizante. Ou seja, vão direto para a lavoura, o que leva essa contaminação para outros alimentos.

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Por que vocês escolheram um local de produção de frango e porcos?

A suinocultura é onde os antibióticos são mais utilizados, e a avicultura vem em segundo lugar. Mas também há uso de antibióticos no gado. Cerca de ¾ dos antibióticos utilizados no mundo vão para a pecuária. Esse número comprova que as bactérias resistentes não estão restritas a ambientes hospitalares, como a maioria das pessoas pensa.

Esse é um problema só brasileiro? O que fazer para mudar?

Esse é um estudo em andamento, com algumas fases a concluir, mas os primeiros resultados são semelhantes aos que foram feitos no Canadá, nos Estados Unidos, na Espanha e na Tailândia. Então podemos dizer essa é uma realidade aqui e no mundo.

No Brasil, o que pedimos é que haja a proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento e como profilaxia [na prevenção de doenças]. O antibiótico é importante para manter a saúde de animais que precisam de tratamento, que estão efetivamente doentes. O que não concordamos é que todos os animais recebam doses preventivas só porque outras medidas que garantiriam a saúde e o bem-estar animal não são atendidas.

Em termos de legislação, vemos hoje regras um pouco mais duras na Europa, mas aqui ainda precisamos evoluir e melhorar a fiscalização. Fizemos esse documentário para conseguir divulgar que o problema da resistência bacteriana começa na pecuária.

Nota: Em conjunto a outras 13 entidades, a ONGs Proteção Animal enviou uma carta  aos congressistas contestando o Projeto de Lei 1.293/2021, que flexibiliza a fiscalização agropecuária por meio de programas de autocontrole geridos pelas empresas do setor.

O que consumidor pode fazer?

Reduzir o consumo. Essa é uma forma de tirar a pressão da produtividade das empresas, que maltratam os animais para suprir a demanda. Outro ponto é optar por empresas ou marcas que promovam o bem-estar animal, que atendam as mínimas necessidades deles. Temos trabalhos científicos comprovando que animais criados de forma saudável usam muito menos antibióticos.

Existem produtores responsáveis e empresas marcando compromisso de reduzir o uso de antibióticos.

Nota: Por meio do projeto Haja Estômago!, a ONG dá os caminhos ao consumidor para buscar alimentos de empresas responsáveis e ajudar a combater a questão das bactérias multirresistentes. Está em andamento, ainda, uma campanha em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

A ONG tem como objetivo proteger animais. Quando vocês começaram a olhar para a saúde humana também?

Hoje olhamos pelo prisma da saúde única que envolve a nossa, a do animal e a do meio ambiente. Além do fato de que tudo está conectado, quando mostramos que esse problema extrapola o bem-estar dos animais, conseguimos um pouco mais de atenção do público.

Confira o minidocumentário:

 

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Conheça a cirurgia genital afirmativa de gênero, ou de redesignação sexual

O 28 de junho marca o Dia do Orgulho LGBTQIA+ em todo o mundo. E eu gostaria de aproveitar a data para esclarecer sobre a cirurgia genital afirmativa de gênero, ou redesignação sexual, que ainda é cercada de tabus.

Esse procedimento existe para adequar os órgãos genitais do sexo biológico do indivíduo ao gênero pelo qual ele se identifica. Nem todas as pessoas trans optam por fazer a cirurgia: aproximadamente 70% das mulheres trans e 35% dos homens trans decidem se submeter a ela.

O tema é tão carregado de preconceito que muitos não sabem que, desde 2008, são oferecidos no SUS procedimentos ambulatoriais e cirurgias para pacientes que queiram fazer a redesignação sexual. De acordo com o Ministério da Saúde, cinco hospitais do SUS estão habilitados para realizar essas cirurgias e três unidades fazem acompanhamento em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos.

Os procedimentos também podem ser feitos na saúde privada. É importante ter o cuidado de procurar um especialista em reconstrução genital.

Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), as filas de acesso para a redesignação sexual superam os dez anos de espera atualmente.

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Na saúde, o cuidado com a população trans é estruturado pela atenção básica e pela especializada. A primeira é responsável pelas avaliações e direcionamentos para os tratamentos e áreas médicas específicas, de acordo com a necessidade individual. Na segunda, o processo é dividido em ambulatorial (com acompanhamento psicológico, terapias e aplicação de hormônios) e hospitalar (cirurgias de modificação genital e/ou corporal e acompanhamento pré e pós-operatório).

Todos os pacientes precisam estar cientes de que tanto o processo de hormonização quanto o cirúrgico são irreversíveis. Não necessariamente uma pessoa transgênero precisa fazer a redesignação sexual, ou qualquer outra modificação em seu corpo.

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Atadas pelo medo da discriminação, muitas pessoas trans não procuram atendimentos médicos – as mulheres trans principalmente. Elas tendem a esconder o órgão genital, repuxando-o por entre as coxas numa manobra conhecida como tucking, que significa “comprimir” em português. Esse processo pode causar inflamação, irritação da pele do pênis e até fimose. A pele irritada cronicamente eventualmente dificulta a cirurgia genital afirmativa de gênero.

Para iniciar o processo terapêutico e realizar a hormonização, é necessário ser maior de 18 anos. Já as cirurgias de redesignação sexual também exigem vivência com o nome social. A cirurgia de afirmação de gênero pode incluir tanto a construção de um novo órgão genital, quanto a remoção de órgãos acessórios, como testículos, mama, útero e ovários. Esses procedimentos são uma escolha particular.

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Na mulher trans que deseja realizar a cirurgia de redesignação genital, o procedimento mais comum é utilizar a própria pele do pênis para fazer o canal vaginal. É removida uma parte do pênis, preservando a uretra, a pele e os nervos que dão sensibilidade à região. E é construída uma neovagina e um neoclitóris.

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O neoclitóris é confeccionado com o tecido da glande e a irrigação e inervação do órgão são preservadas. Quando não há pele suficiente – ou nos casos de perda do canal vaginal na primeira cirurgia –, pode-se utilizar o intestino grosso para esse fim, com bons resultados.

Cerca de 60% a 70% das mulheres trans alcançam o orgasmo com a cirurgia afirmativa. A sensibilidade e a forma de prazer se tornarão apenas diferentes de antes da cirurgia – e isso deve ser esclarecido desde o princípio.

No homem trans que possui clitóris e vagina, o procedimento pode ser realizado pelo método da metoidioplastia (mais comum), e pela faloplastia (mais complexa). A metoidioplastia descola o clitóris das estruturas circunjacentes e, então, corrige a curvatura genital e ajusta a nova uretra. Geralmente, utiliza-se tecido da face interna da boca, não deixando cicatrizes.

Nesse procedimento, realizamos a mobilização dos corpos cavernosos, técnica de nossa autoria, que consiste em separar a parte interna dos corpos cavernosos que está imersa no períneo, colada ao osso da bacia. Isso facilita a confecção de um falo de maior comprimento. 

Explico: na metoidioplastia, a ereção é possível, porém muitas vezes o falo fica pequeno, impossibilitando a penetração. Nós, da divisão de cirurgia reconstrutora urogenital da Universidade Federal da Bahia (UFBA), estamos entusiasmados com a nossa técnica de metoidioplastia, em que o tamanho do falo fica um pouco maior.

A faloplastia é um procedimento mais complexo realizado com tecidos de antebraço, pele abdominal, perna – ou outros. Ela traz vantagens e desvantagens para o paciente. O lado bom é adquirir um falo de bom tamanho; o ruim é que não há ereção e, para a penetração, será necessária uma prótese peniana em 50% dos casos.

Além disso, a sensibilidade é reduzida em alguns episódios, a depender do tecido utilizado.

O tempo de recuperação para a cirurgia de redesignação sexual é breve. A internação dura cerca de dois a três dias para mulheres trans e cinco dias para homens trans. Dois meses após o procedimento, as relações sexuais são liberadas.

*Dr. Ubirajara Barroso Jr. é professor livre docente da pós-graduação strictu sensu mestrado e doutorado e coordenador da Disciplina de Urologia da UFBA, professor adjunto de urologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, chefe da Unidade do Sistema Urinário do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (UFBA), chefe de cirurgia reconstrutiva de uretra de crianças e adultos do Hospital da Universidade Federal da Bahia e urologista da Rede D’Or.

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Um remédio para alopecia areata

Cientistas da Universidade Yale, nos Estados Unidos, divulgaram os resultados de uma pesquisa feita com o baricitinibe, medicamento da Lilly, em portadores de alopecia areata, doença que faz os cabelos (e outros pelos) caírem aos montes.

Mais de 1,2 mil voluntários participaram do ensaio, que comparou a droga a um placebo (simulação de fármaco sem princípio ativo). Ao final, um terço dos que tomaram a dose mais alta do remédio viu o cabelo crescer quase todo de volta.

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A justificativa é a origem desse tipo de alopecia: uma resposta anormal do sistema imune, que passa a ver o cabelo como ameaça. “O baricitinibe desliga um processo inflamatório importante nessa reação”, explica a médica Fabiane Brenner, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

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O achado é positivo, mas a nova indicação no Brasil depende de análise regulatória e poderá esbarrar no custo elevado. A Food and Drug Administration (FDA), que regula o setor nos Estados Unidos, aprovou recentemente o baricitinibe neste contexto.

Mecanismo de ação na alopecia areata

baricitinibe e alopecia areata

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Enquete: qual é o maior desafio da menopausa?

Os fogachos são só a ponta de um iceberg de problemas que aparece na menopausa, mas muita mulher ainda sofre sozinha. Na reportagem de capa da última edição, tiramos o climatério do armário e oferecemos dicas para lidar melhor com essa etapa da vida. Mas e você, o que mais incomoda na menopausa?

Responda nossa enquete e veja o que outras internautas dizem sobre o assunto:


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População de ursos polares é encontrada em habitat inusitado

Pesquisadores identificaram um grupo especial de ursos polares no sudeste da Groenlândia. Descritos em um artigo publicado na revista Science, os ursos podem ter encontrado um tipo único de refúgio contra os efeitos das mudanças climáticas – no qual ficaram isolados o suficiente para se tornar geneticamente distintos de outros ursos polares.

Na última década, os cientistas pesquisaram ursos polares em quase 2.900 km na costa leste da Groenlândia. O objetivo era aprender mais sobre a saúde e os movimentos dos animais. Eles acreditavam lidar com apenas um grupo de ursos polares vivendo ao longo de toda a costa.

“Foi uma descoberta totalmente inesperada”, revela Kristin Laidre, primeira autora do novo artigo. “Francamente, foi meio acidental que percebemos que estávamos lidando com duas subpopulações de ursos, não uma.”

Depois de colocar coleiras de rastreamento por satélite em alguns dos animais, os pesquisadores notaram que os ursos do sudeste da Groenlândia eram mais reservados e não se aventuravam em lugares em que poderiam encontrar com ursos do nordeste. Depois de analisar amostras genéticas, o grupo descobriu que os ursos do sudeste, na verdade, são os mais geneticamente isolados do planeta. Isso significa que eles não cruzaram muito com ursos fora de seu grupo.

Os ursos do sudeste também são especiais pelo habitat que ocupam. Nos fiordes por onde andam, o gelo marinho está presente durante 100 dias por ano – ursos polares podem ficar sem comer por até 180 dias. Já que eles caçam no gelo marinho, o curto período os deixaria com menos de um terço do ano para encontrar comida.

Porém, os ursos encontraram outro jeito de procurar alimento quando o gelo marinho desaparece: caçar em gelo flutuante em água doce. Lá, eles perseguem e caçam focas – como normalmente fazem no gelo marinho.

Embora alguns grupos de ursos sejam conhecidos por também caçar com esse método alternativo, acredita-se que esse grupo seja único por depender dele. Sem o gelo de água doce, sua população não seria capaz de sobreviver ali.

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A maneira como o recém-descoberto grupo de ursos polares encontrou uma forma de sobreviver em um ambiente desfavorável sugere que o gelo glacial de água doce pode servir como um “refúgio climático” para alguns outros ursos no futuro. Contudo, Laidre diz que não se deve encarar esses ursos recém-descobertos como uma história de sucesso ou um modelo de sobrevivência.

Existem poucas regiões com esse tipo de gelo de água doce abundante. E embora esse gelo tenha sido até agora poupado do aumento das temperaturas na região, ele se tornará cada vez mais vulnerável com o aquecimento do planeta.

Ações para conter as mudanças climáticas e conservar esses ambientes continuam sendo vitais para a sobrevivência dos ursos polares. Do jeito que está, espera-se que a população global de ursos polares diminua em 30% nas próximas três gerações, de acordo com Laidre.

Ela espera que, se o grupo de ursos recém-descoberto for designado como uma subpopulação única, diferente de outros ursos polares, eles terão mais destaque nos esforços de conservação. O isolamento genético do grupo os torna uma parte importante da manutenção da diversidade genética entre os ursos polares – um fator chave para manter a saúde da espécie.

O desaparecimento do gelo marinho é uma prévia do que está por vir para o Ártico no futuro. Até o final do século, espera-se que grande parte do Ártico gelado fique mais de 100 dias por ano sem gelo. Sem gelo, não há caça às focas e não há comida suficiente para os ursos. Isso é o que fez do urso polar o rosto preferido para histórias sobre a destruição climática e seu impacto na fauna mundial.

Como esse grupo de ursos foi descoberto por acidente, Laidre não tem certeza do tamanho da população. É estimado que talvez existam “várias centenas” e que o grupo provavelmente esteja lá há algumas centenas de anos. O bando de ursos também cresceu lentamente com a migração – os cientistas identificaram pelo menos dois “imigrantes”, que ajudam a manter a população saudável, aumentando a variedade genética. Laidre espera lançar uma nova pesquisa que se concentre nesse grupo singular  de ursos para ter uma ideia melhor de quantos existem e como são suas vidas.

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segunda-feira, 27 de junho de 2022

Tomar leite diariamente pode proteger o coração, sugere estudo

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) notaram que o consumo de cerca de um copo de leite de vaca por dia pode reduzir o risco de mortes por doenças cardiovasculares. 

O trabalho usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), investigação que acompanha 15 mil brasileiros de todo país, com questionários e exames periódicos. Isso permite uma visão de longo prazo sobre a prevalência de doenças e os hábitos de vida que influenciam o funcionamento do corpo. 

Nesse recorte específico, foram incluídos 6,6 mil participantes que não tinham doenças cardíacas no início da coleta de dados. O consumo da categoria foi avaliado por meio de questionário, e classificado em grupos distintos: laticínios totais (leite e seus derivados, do queijo ao sorvete), subgrupos com alto e baixo teor de gordura e somente leite. 

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Os pesquisadores então avaliaram o estado de saúde dessas pessoas, em um período de 8 anos, com foco em óbitos por doenças cardiovasculares. No fim das contas, a turma que ingeria laticínios no geral – e especialmente leite – tinha um menor risco de morrer por panes no coração.

No grupo do leite, o perigo foi 66% menor em quem tomava quantidades superiores a 260 ml (para homens) e 312 ml (para mulheres). É o equivalente a mais ou menos um copo por dia

Como se trata de um estudo observacional, o trabalho não estabelece relação de causa e efeito. Mas os pesquisadores descartaram alguns fatores que poderiam influenciar os resultados, como idade, prática de atividade física, tabagismo e ingestão diária de vegetais. 

O trabalho foi publicado no periódico científico European Journal of Nutrition e reconhecido em uma premiação da American Heart Association. Isso porque reflete com dados o que já vinha sendo apontado por outras pesquisas: o consumo adequado de laticínios pode trazer mais benefícios do que riscos à saúde. 

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+ Leia também: Leite integral: não precisa fugir dele nem de seus derivados

As gorduras saturadas do leite 

Apesar de serem fonte de cálcio e proteínas de alto valor biológico, leite e derivados passaram por um período de ostracismo por causa da gordura saturada, que também está presente na categoria. 

Mais ligado aos entupimentos em vasos e artérias e ao ganho de peso, esse nutriente deve ser limitado a cerca de 10% das calorias totais do dia. 

Comer com equilíbrio, contudo, é diferente de excluir totalmente a categoria do cardápio — o que tem sido feito erroneamente por alguns profissionais de saúde e pessoas, seja com foco em emagrecimento, seja por uma suposta intolerância à lactose que não chega a ser de fato investigada.  

O problema mesmo, reforçam os especialistas, está no consumo de gordura saturada em excesso, em especial a dos alimentos ultraprocessados. O estudo da UFMG também avaliou essa relação, e concluiu que a classe eleva o risco de morte por doenças crônicas — esses dados ainda não foram publicados. 

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em posicionamento do ano passado, não recomenda restringir os lácteos, e ressalta inclusive que há estudos relacionando laticínios com baixo teor de gordura a um risco menor de diabetes tipo 2. Os produtos com menor concentração de gordura saturada são os desnatados ou parcialmente desnatados. 

Por fim, os autores do trabalho mineiro concluem que seus dados reforçam a importância de preferir produtos in natura ou minimamente processados. Eles destacam ainda que o consumo de laticínios entre os brasileiros é baixo em comparação com outros países, embora o país seja um grande produtor do alimento. 

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Diabetes e herpes-zóster: do controle da glicose à vacinação

Muitas pessoas entendem que, se os níveis de glicose não forem bem controlados, o diabetes podem provocar sequelas no longo prazo, como infarto do coração, derrame cerebral, insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, cegueira etc. Mas você sabia que o diabetes favorece doenças infecciosas? 

Isso mesmo: o aumento crônico da glicose faz com que o sistema imunológico fique lento e as defesas, frágeis. Daí a maior ocorrência de gripe, pneumonia, infecções de pele… e também de herpes-zóster, uma doença que ganhou notoriedade recentemente por causa do cantor Justin Bieber

Estudos mostram que pessoas com diabetes acima de 65 anos têm um risco 3 vezes maior de ter zóster. Nos adultos abaixo dessa faixa etária, o risco fica em cerca de 1,5 a 2 vezes. 

Além disso, o diabetes eleva a probabilidade de a dor surgir nos locais das lesões por zóster, mesmo após elas desaparecerem (é a chamada neuralgia pós-herpética). 

+Leia também: Covid aumenta risco de desenvolver diabetes ou de descontrole da doença?

Situações como estresse psicológico e traumas predispõem ao surgimento de herpes-zóster. Não à toa, a incidência cresceu durante a pandemia de Covid-19.

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Também vale destacar que só tem herpes-zóster quem já teve catapora, porque se trata de uma reativação do mesmo vírus. Pois é: depois de uma primeira infecção, ele fica “escondido” no sistema nervoso e, diante de um descuido do sistema imune, volta a provocar estragos. 

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Por isso é fundamental a vacinação de catapora (varicela) na infância e a específica para herpes-zóster nos adultos. A mais recente vacina contra esse problema lançada no Brasil é composta por fragmentos do vírus e tem alta eficácia. 

Atualmente, a vacinação é indicada para adultos acima de 50 anos, ou a partir de 18 anos naqueles que estão com sistema imune debilitado e, portanto, com risco maior de ter a doença. São, por exemplo, as pessoas infectadas pelo HIV, ou as que passaram por quimioterapia e transplante de medula e de órgãos.

A vacina também é indicada para quem acabou de ter o quadro de herpes-zóster, respeitando o intervalo de seis meses entre a infecção e a aplicação da dose.

Pessoas com diabetes, via de regra, devem se vacinar conforme a indicação de bula – ou seja, acima de 50 anos. Em outros cenários, o imunizante pode ser indicado, mas é necessário conversar com o médico. 

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