O Brasil se viu livre do sarampo em 2016, mas o descuido com a vacinação fez a doença voltar. A Fundação das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgaram um alerta mundial sobre o aumento da circulação desse vírus. O sarampo não tem tratamento e pode matar.
Por ser uma infecção altamente transmissível pelo ar, a meta de imunização de 95%. Só que o Brasil não chegou ainda nem nos 75%, e há estados com menos de 60% de cobertura. “Regiões com menos de 71% de pessoas vacinadas têm o risco de surto aumentado”, reforça Stephanie Amaral, oficial de Saúde do Unicef no Brasil.
Em 2018, o vírus entrou no país pela região Norte por causa do aumento do fluxo migratório. No ano seguinte, o Brasil perdeu o selo de eliminação da doença. Hoje, há contágio em grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, lugares com fácil acesso à imunização.
Desde que o vírus foi reintroduzido por aqui, foram contabilizados 40 mil casos e 40 mortes. A única forma de brecar essa escalada da doença é melhorando os índices de vacinação.
“Se o vírus por um acaso chega em um contexto de alta taxa de vacinação, basta isolar essa pessoa e pronto, dificulta-se a vida do vírus. Mas quando surgem buracos na imunização, fica mais difícil de controlar”, argumenta Max Igor, infectologista do Hospital Santa Catarina.
Campanha de vacinação do sarampo mira mais vulneráveis: as crianças
O governo lançou uma campanha nacional em abril que inclui a tríplice-viral (sarampo, caxumba e rubéola) e a injeção contra gripe. Com a baixa adesão, o fim do programa foi adiado para dia 24 de junho. Os alvos são as crianças de 6 meses a menores de 5 anos e os profissionais de saúde.
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O sarampo tende a ser mais grave em crianças e jovens adultos. Isso porque esse pessoal possui um sistema imune menos desenvolvido e pelo fato de ser o primeiro contato com o vírus.
Por que pais não estão vacinando seus filhos?
A pandemia afastou a população dos postos de saúde, o que atrasou todo o calendário vacinal. Porém, a queda na imunização não é só culpa da Covid. Pesquisa feita pelo Unicef antes do coronavírus, entre 2019 e 2020, já identificava uma questão grave: a baixa percepção da gravidade das doenças. “Como não convivemos mais com essas infecções justamente por causa das vacinas, fica um falso sentimento de segurança”, relata Stephanie.
O estudo da Unicef também destaca um possível medo dos efeitos colaterais da vacina. “Como todo imunizante aprovado e utilizado em massa, há eventos adversos raríssimos. Mas um caso que circula pelas mídias sociais ganha uma proporção desmedida”, explica Stephanie.
Mas não tenha dúvida: não se vacinar é muito mais perigoso do que eventuais efeitos colaterais.
Quais são essas reações da vacina?
Segundo informações divulgadas pelo site da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), menos de 0,1% dos vacinados apresentam ardência, vermelhidão, dor e formação de nódulo no local.
Entre 5% a 12% podem sentir febre alta de cinco a 12 dias após a vacinação. Com até 4% dos vacinados pode ocorrer dor de cabeça, irritabilidade, lacrimejamento e vermelhidão dos olhos.
A inflamação do cérebro (encefalite), mais grave, aparece em 1 a cada 2,5 milhões de vacinados. Por outro lado, como dissemos, já tivemos 40 mil casos e 40 mortes desde a reintrodução do sarampo.
Uma fake news antiga é que a tríplice viral causa autismo. Esse papo surgiu nos anos 1990 e diversos estudos já comprovaram não haver ligação aí.
Vacinação dentro e fora da campanha
Com todo o território nacional em campanha para atingir 95% da vacinação contra o sarampo, está mais simples para as crianças receberem as doses, já que elas são o alvo da temporada.
Mas a verdade é que, mesmo fora de uma campanha, as crianças devem tomar a primeira dose da a vacina que protege contra sarampo, caxumba e rubéola com 12 meses, enquanto a segunda dose ocorre entre os 15 e 24 meses de idade.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) recomenda que crianças mais velhas, adolescentes e adultos que nunca foram vacinados recebam as duas doses. Quem não lembra se tomou deve correr atrás e tomar as injeções com um intervalo de um a dois meses entre elas.
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza a imunização a adultos com até 29 anos (duas doses, com intervalo mínimo de 30 dias) e para quem tem entre 30 e 59 anos – neste caso, apenas uma dose.
Em relação aos idosos, é um pouco mais complicado. Entende-se que quem nasceu antes de 1960 não precisa se vacinar. De qualquer forma, a recomendação é que os mais velhos sempre busquem um especialista para avaliar a necessidade da imunização.
O que é sarampo e como ocorre a transmissão?
O sarampo é uma doença provocada pelo vírus morbillivirus, e é altamente transmissível.
A transmissão ocorre entre pessoas por meio de grandes gotículas respiratórias e por aerossol [partículas menores] em locais fechados. Um indivíduo pode ser contaminado duas horas depois que alguém doente deixou a área. Para ter ideia, um único sujeito com sarampo é capaz de infectar de 15 a 18 pessoas.
As manifestações mais comuns são erupções na pele, febre acompanhada de tosse, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso.
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Complicações e tratamento do sarampo
Aproximadamente 30% dos casos podem apresentar uma ou mais complicações, como diarreia, otite média, pneumonia, encefalite (inflamação no cérebro) e panencefalite esclerosante subaguda (que atinge o sistema nervoso). Além de a doença aumentar o risco de morte, pode deixar sequelas graves.
O sarampo em si não conta com um tratamento específico. Medicamentos são indicados com o intuito de amenizar o desconforto decorrente dos sintomas e algumas das complicações.
Sarampo: baixa adesão à vacina preocupa, e fim da campanha é adiado Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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