Não é apenas a nova onda de casos de Covid-19 que preocupa os infectologistas. Até a última semana de maio deste ano, foram registrados 9 318 casos de dengue. Já são 382 mortes, um aumento de 139% em comparação com o mesmo período no ano passado. O último pior surto foi em 2019, com 840 óbitos no ano inteiro.
Conheça abaixo o cenário atual e o que está por trás dele, além de se atualizar sobre sintomas, tratamentos, métodos preventivos e outras informações importantes a respeito da dengue.
Onde há mais casos?
O estado com mais doentes graves é Goiás (2 972), seguido de São Paulo (1 359) e Paraná (1 265), segundo último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde.
Já o ranking de óbitos é diferente, com São Paulo na primeira colocação (134). Santa Catarina (43) e Goiás (41) fecham o pódio.
“No geral, a letalidade entre as pessoas que contraem a dengue é baixa, cerca de 0,04%. É preciso fazer uma análise regional para entender por que houve mais óbitos em determinado local”, explica Expedito José de Albuquerque Luna, pesquisador do Laboratório de Epidemiologia do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP.
Dentro do estado paulista, por exemplo, a cidade de Araraquara acumulou sozinha cerca de 10 mil casos, com 17 mortes. A má qualidade de atendimento médico do local e a capacidade de registrar os casos oficialmente são alguns dos pontos a serem considerados.
A chegada de um novo subtipo da dengue em determinada cidade também colabora para a subida nos números. Lembrando que a dengue possui quatro tipos, enumerados de 1 a 4. Uma infecção não garante imunidade sobre a outra, e pessoas já afetada por uma cepa, ao serem atacadas por outra, correm maior risco de complicações.
O mês de maio tradicionalmente encerra o ciclo do período mais intenso de transmissão – a tendência é que os números comecem a cair daqui em diante. Importante lembrar, no entanto, que a situação volta a piorar no fim do ano, com o verão.
Segundo o Infodengue, sistema de alerta para doenças transmitidas por mosquitos mantido pela Fundação Oswaldo Cruz, há estados com tendências de manter os casos de dengue em alta. O Paraná tem 157 cidades com clima propício para proliferação do Aedes aegypti. No Ceará, são 102 municípios com esse aviso e, na sequência, vem a Bahia, com 36, e a Paraíba, com 28.
Região Sul passou a conviver com o mosquito
Outra peculiaridade deste ano foi o aumento de casos nos estados mais frios do Brasil. Se em 2019, época do último surto, a Região Sul teve 33 mortes, só no primeiro semestre de 2022 foram 109.
“Em função do aquecimento do planeta, até as regiões de serra têm registrado infestações do mosquito da dengue. Isso ocorre também na Europa. Nosso ponto fraco é não ter o saneamento básico e pouco acesso à agua potável”, explica Luna. Por quê?
Áreas com lixo exposto ficam repletas de criadouros do Aedes aegypti. Já a falta de água potável faz com que muitas famílias armazenem o líquido em tambores, onde o mosquito é capaz de despejar ovos.
Por que 2022 teve um aumento de casos?
É também normal essa intervalo de alguns anos entre grandes surtos. Uma das explicações é a variação de subtipos. Quando há um salto em um ano de uma espécie do vírus, a população fica imune até que seja atingida pelo pico de outra cepa.
“A qualidade da vigilância epidemiológica no Brasil muda bastante em cada região, mas o que se sabe é que há a predominância do tipo 1, padrão seguido há alguns anos. Em 2018, surgiram mais casos do tipo 2, mas ele não substitui o primeiro vírus”, explica Luna.
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Uma possível subnotificação de casos nos últimos dois anos por causa da pandemia da Covid é outra explicação para esse salto entre 2019 e 2022. Muitos não procuraram atendimento médico em meio ao caos das unidades de saúde, e só agora esses números teriam sido computados.
O período de chuvas, bastante intenso no início de 2022, também facilita a circulação do vírus. Afinal, a combinação de calor com acúmulo de água promove a proliferação do inseto.
Perfil das mortes
Segundo informações do Ministério da Saúde, os óbitos por dengue de 2019 para cá ocorreram com ambos os sexos e prevaleceu entre os maiores de 60 anos. Neste ano, no entanto, foram registrados um número considerável de mortes também em pessoas com menos de 50 anos.
Os sinais de doença grave mais registrados foram:
- extremidades frias (41,5%)
- alteração da consciência (38,8%)
- pressão baixa (36,9%)
- taquicardia (36,7%).
O que é dengue?
Trata-se de uma doença infecciosa causada por um arbovírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A doença não tem tratamento específico, causa sintomas como febre alta e dores no corpo e pode até matar.
Sua incidência aumenta no verão, em dias quentes e úmidos.
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Sintomas da dengue
Ela provoca, entre outras coisas, uma inflamação exacerbada nos vasos sanguíneos. Em decorrência disso, os sinais de sua presença são:
- Febre acima de 38,5˚ C
- Dores de cabeça, nas articulações e muscular intensas
- Dor ao movimentar os olhos
- Mal-estar
- Falta de apetite
- Enjoo e vômitos
- Manchas vermelhas no corpo
- Coceira leve
Na maioria dos casos, os sintomas da dengue duram até dez dias. Mas a fraqueza e mal-estar podem permanecer por algumas semanas. Confira aqui os sintomas que exigem mais cautela.
Diagnóstico
Se o paciente apresenta os sintomas clássicos, geralmente a detecção é feita no consultório do médico mesmo. Mas o diagnóstico também pode ser confirmado com um exame de sangue nas redes públicas e privadas. Nesse caso, é realizado de acordo com a fase da doença e da disponibilidade nos serviços de saúde.
A partir da confirmação, o médico pede mais testes para saber o estado geral do indivíduo e se o número de plaquetas no sangue está baixa – sinal de risco de sua versão mais grave, a dengue hemorrágica.
Tem tratamento ou remédio para dengue?
Não há medicamentos específicos. Normalmente, a cura é espontânea, conforme o próprio corpo debela o vírus da dengue. O que os médicos fazem é prescrever fármacos e adotar certas estratégias para aliviar os sintomas e conter eventuais complicações.
O estado de saúde pode piorar se a pessoa fizer uso de fórmulas com ácido acetilsalicílico (aspirina, por exemplo) ou anti-inflamatórios não hormonais.
Se há sinais de gravidade, é preciso acompanhamento médico. No geral, as orientações para quem está infectado são: fazer repouso e ingerir bastante líquido.
A piora da dengue também pode demorar para ser percebida. A tendência é que a pessoa melhore dentro de uma semana. Casos mais graves, contudo, tem uma virada nesse mesmo momento, a febre e o mal-estar voltam mais fortes.
Já tem vacina?
Sim. A Dengvaxia protege contra os quatro sorotipos, mas só é indicada para quem já teve dengue, pelo menos, uma vez. Em pessoas que nunca foram infectadas, o imunizante aumenta o risco de desenvolvimento da forma grave, em caso de uma infecção subsequente.
O imunizante está disponível na rede privada somente para esse público específico, seguindo orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Há centros de pesquisa buscando, nesse momento, uma vacina mais eficaz e ampla para a dengue, segundo Gustavo Cabral, imunologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), que trabalha nessas soluções.
A dengue é contagiosa? Como ela é transmitida?
A única forma de transmissão do vírus é através da picada da fêmea do Aedes aegypti. Se está infectado, o mosquito passa o vírus o para frente ao picar uma pessoa.
Como prevenir?
A melhor forma de prevenção é evitar a circulação do mosquito. Ele se reproduz depositando ovos em água parada. Anote as dicas:
- Não deixe acumular água no quintal, nos pratos das plantas e em outros recipientes
- Tampe bem as caixas d’água
- Piscinas devem ser higienizadas com regularidade, e cobertas de lona para manter o tratamento com o cloro. As bordas são um convite para as larvas e precisam estar sempre limpas
- Previna-se das picadas com repelentes e inseticidas
- Fique atento a calhas e lajes que possam servir de reservatório de água
- Cuide bem do lixo. Não deixe resíduos a céu aberto e denuncie entulhos abandonados nos bairros
Dengue: qual a situação atual e o que você precisa saber sobre a doença Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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