segunda-feira, 18 de julho de 2022

4 destaques sobre diabetes do Endodebate

Endocrinologistas e outros profissionais de saúde se reuniram recentemente em um evento científico anual para discutir as principais novidades sobretudo nas áreas de obesidade e diabetes. Trata-se do Endodebate.

VEJA SAÚDE acompanhou o evento e trouxe os principais destaques, que vão de novos medicamentos para melhorar a qualidade de vida de quem sofre dessas doenças até promessas de cura para o diabetes tipo 1, passando por métodos preventivos. Confira:

1) Transplante de ilhotas é a cura para o diabetes tipo 1?

Essa técnica, que já vem sendo testada há anos, voltou a ganhar destaque por causa de uma reportagem do jornal americano The New York Times, publicada no fim de 2021. Nela, relata-se o caso de um homem “curado” do diabetes tipo 1 com esse método. Mas muita calma antes de cantarmos vitória!

Começando pelo o que é o diabetes tipo 1: trata-se de uma doença autoimune, na qual o próprio sistema imunológico ataca células do pâncreas, o órgão que produz insulina. Sem esse hormônio, o corpo não consegue aproveitar a glicose como fonte de energia, e começa a definhar.

+ Leia também: O que é diabetes tipo 1: sintomas, tratamento, exames e complicações

O diabetes tipo 1, assim como o tipo 2 (mais ligado a um estilo de vida não saudável), não tem cura. Os pacientes costumam aplicar doses de insulina e outros medicamentos, além de acompanharem a glicemia com exames.

Mas tempos atrás pesquisadores tiveram a ideia de produzir as  chamadas Ilhotas de Langherans a partir de células-tronco. O nome é complexo, mas essas são células do pâncreas que produzem a insulina. E começaram a tentar infundir essas ilhotas nos indivíduos com diabetes tipo 1 – daí o nome “transplante de ilhotas”.

O problema é que, em geral, não adianta só repor essas células. Ora, o organismo da pessoa com diabetes tipo 1 está programado para atacá-las, lembra?

“O ideal seria, então, encapsular essas ilhotas de alguma forma para que sejam preservadas”, esclarece Carlos Eduardo Barra Couri, endocrinologista e pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

A isso se dá o nome de transplante de ilhotas encapsuladas. Esse pulo do gato, no entanto, ainda está em estudos.

O homem que serviu de exemplo na reportagem americana, aliás, recebeu apenas as ilhotas produzidas a partir de células-tronco, sem esse encapsulamento. “Para preservar os benefícios, ele deverá tomar remédios imunossupressores para o resto da vida. A ideia das ilhotas encapsuladas é não depender mais de tratamento”, diferencia Couri.

Mesmo com essa medicação em curso, o americano Brian Shelton diz com felicidade que está experimentando uma vida nova. Ele deu seu depoimento seis meses depois do procedimento, mas ainda está sendo observado por médicos e pesquisadores.

Os testes clínicos com as ilhotas já encapsuladas ainda não começaram.

2) Pesquisadores brasileiros iniciam estudo de prevenção a diabetes do tipo 1

Um estudo 100% brasileiro será iniciado em breve na Universidade Federal do Ceará. Durante dois anos, o uso da molécula alogliptina será testado como forma de evitar o diabetes tipo 1 em voluntários com predisposição a desenvolvê-lo.

“Hoje, há evidências modestas de que essa substância é benéfica a quem já está com a glicemia alterada”, afirma Renan Montenegro, endocrinologista, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina e do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (EBSERH).

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+ Leia também: Novo medicamento marca uma nova era no tratamento da obesidade

A alogliptina é comercializada há 15 anos contra a diabetes tipo 2 e serve para manter a glicemia em equilíbrio. O medicamento é um inibidor da enzima DPP-4, que age nos hormônios GLP e GIP, que controlam o açúcar no sangue.

Mas ela não faz só isso. Foi se percebendo, ao longo dos anos, que o medicamento também interfere no sistema imunológico, que ataca o pâncres no caso do diabetes tipo 1, como mencionamos antes.

“Esperamos que a molécula, no mínimo, atrase o surgimento do diabetes 1 nesse grupo com predisposição”, explica Montenegro. O estudo é conduzido por Montenegro com Jaquellyne Penaforte-Saboia, também endocrinologista e pesquisadora da Faculdade de Medicina e do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará.

3) A caminho da aprovação: remédio que previne insuficiências renal e cardíaca em diabéticos

Pessoas com diabetes tipo 2 correm mais risco de enfrentar mazelas cardíacas e renais. Mas um novo medicamento promete dar uma mão na prevenção dessas doenças. “A finerenona deve ser aprovada e lançada até o início do ano que vem no Brasil”, estima Couri.

O remédio bloqueia o receptor mineralocorticoide, que, em parceria ao hormônio aldosterona, tem influência contra inflamações, principalmente no músculo cardíaco e nos rins. “Há dois estudos que comprovam menos eventos cardiovasculares após o uso do remédio, e até um controle na evolução de pessoas com insuficiência renal”, explica Couri.

Já existem outros fármacos que agem dessa forma, segundo Couri. No entanto, as últimas novidades nessa seará aconteceram no início dos anos 2000. “A finerenona pode ampliar o arsenal que temos no trabalho de prevenção”, defende o médico.

4) Anticoncepcionais no contexto do diabetes

O Endodebate também discutiu os demais papeis que a pílula anticoncepcional pode ter na saúde da mulher, além de prevenir a gravidez. Há quem use alguns tipos de anticoncepcional para tentar melhorar a oleosidade da pele e dos cabelos, reduzir a acne e os pelos mais incômodos – aqueles que surgem no rosto, por exemplo.

+ Leia também: Anticoagulantes, diabetes e doenças cardíacas: uma questão de dose

Além desses pontos, estudos relacionam métodos contraceptivos ao diabetes. Veja: temos um leque grande de anticoncepcionais, que agem em hormônios diferentes, com efeitos distintos no organismo. Nesse sentido, há opções que podem aumentar a glicemia, e com isso complicar o diabetes, enquanto outras têm efeito contrário.

“Não podemos afirmar que há uma pílula anticoncepcional que previne o diabetes, mas ela pode colaborar com algumas mulheres”, afirma Cristiano Barcellos, endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Segundo o médico, a prescrição de um anticoncepcional em mulheres com diabetes pede uma avaliação pormenorizada. É necessário investigar doenças anteriores, fatores genéticos, estilo de vida e por aí vai para então verificar qual o melhor caminho. A glicemia e o diabetes são um ponto nessa equação, mas não o único.

Nesse quesito, cabe destacar a síndrome dos ovários policísticos, tratada frequentemente com anticoncepcionais. “Há um estudo dos anos 1990 apontando que meninas diagnosticadas com ovário policísticos terão o um risco 700% maior de diabetes no futuro“, afirma Barcellos.

Ou seja, ao conter essa doença, por consequência a mulher se afasta do diabetes. E não só. “Fazendo esse controle, também conseguimos agir na pressão alta, no colesterol e reduzir o risco de infarto”, complementa o médico.

Para saber mais, o indicado é levar essa conversa para o consultório e avaliar riscos e benefícios do tratamento. Até porque anticoncepcionais, claro, impedem a gravidez.

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4 destaques sobre diabetes do Endodebate Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

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