O compartilhamento do ocorrido com a atriz Klara Castanho mostra que falta empatia e sobra julgamento para algo que precisa ser visto de forma muito mais ampla. O ocorrido escancarou um tema que ninguém quer falar, mas acontece todos os dias. A jovem atriz, após ser vítima de violência sexual, decidiu seguir em frente com a gestação e entregar o seu bebê de forma voluntária para a adoção.
Não há palavras para descrever o sofrimento de uma mulher violentada em tantos aspectos: físico, emocional, psicológico. Sua identidade foi destruída. O ocorrido mostra que falta preparo por parte dos profissionais para lidar com isso de forma sigilosa e ética, mas traz à tona uma importante pauta: a adoção como opção.
O que muitos talvez não saibam é que entregar uma criança para adoção é um ato permitido pela “Lei da Adoção”(Lei 13.509/2017). O processo é basicamente o seguinte: após manifestar interesse antes ou logo após o nascimento, a mulher é encaminhada para a Justiça da Infância e da Juventude, onde é ouvida por uma equipe interprofissional.
Essa equipe redige um relatório que será enviado ao Judiciário. Inicialmente, avalia-se a possibilidade de algum representante familiar receber a guarda da criança. Se não houver, a criança é redirecionada para programas de acolhimento ou sob guarda provisória de alguém capaz de adotá-la.
Existe, portanto, um fluxo para que a vontade dessa mãe seja respeitada – inclusive de forma sigilosa – e para que a criança receba o devido cuidado. Importante salientar que a entrega voluntária para adoção é um processo que deve ser realizado apenas pelo Poder Judiciário.
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A escolha de Klara e de tantas outras mulheres abre caminho para discussão dessa pauta tão esquecida. E não só isso: é uma alternativa para mulheres vítimas de abuso, ou mesmo que não se vêem aptas a cuidar da criança, seja qual for o motivo.
A partir do momento em que elas escolhem a adoção, surgem novos desafios. Porém, também se abre a oportunidade para que esse bebê encontre uma família que possa acolhê-lo, criá-lo e amá-lo. Há muita coragem por trás da decisão de seguir uma gestação por vezes indesejada e mesmo fruto de violência, optando pela manutenção da vida desse bebê. A adoção é um caminho lindo.
Nenhuma mulher deveria ser julgada por tomar essa decisão. Nesse momento tão frágil e difícil, ela na verdade merece ser acolhida, compreendida e respeitada.
Sabemos que há situações em que, ao manifestar interesse na entrega voluntária, a mãe é drasticamente condenada – tanto por familiares quanto por equipes de saúde. Essa realidade não pode continuar e escancara a falta de preparo de profissionais e do governo ao lidar com a questão de forma ética e sigilosa, e mostra o quanto esse assunto ainda é tabu.
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Em primeiro lugar, devemos capacitar os profissionais que auxiliarão a mulher no processo da entrega, a começar por médicos e enfermeiros do pré-natal. Essa capacitação precisa estar relacionada não simplesmente à aspectos técnicos, como saber escrever relatórios, mas também a como receber essas mulheres.
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, existem cerca de 29 780 crianças acolhidas, sendo que 4 150 estão disponíveis para adoção. E pasme: há 32 923 pretendentes disponíveis. A grande questão é que a maioria esmagadora das pessoas deseja crianças abaixo de 4 anos, sem deficiência ou doenças e sem irmãos – o que corresponde a uma fração pequena.
É necessário que seja estimulada a adoção das crianças atualmente marginalizadas. Se você tem interesse em acolher uma criança, procure a Vara de Infância e Juventude da sua região para compreender os próximos passos.
O Brasil tem muito a caminhar rumo à melhora nos processos de adoção.
Klara, a você: sinto muitíssimo pela violência física, psicológica e emocional que passou, mas te admiro imensamente por trazer à tona este tema tão importante!
A adoção como opção Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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