segunda-feira, 4 de julho de 2022

Morcegos selvagens se lembram de toque de celular após quatro anos

A memória dos morcegos pode ser melhor do que você imagina.

Pesquisadores treinaram 49 morcegos selvagens da espécie Trachops cirrhosus para associar um toque de celular a uma recompensa em comida. Quatro anos depois, alguns deles ainda reconheciam o som e voavam em direção ao lanchinho – enquanto morcegos não familiarizados com o alerta sonoro simplesmente o ignoraram.

Essa espécie comum na América Central e do Sul se alimenta de insetos e sapos, que encontra seguindo seu coaxar de acasalamento. Os morcegos conseguem diferenciar os chamados de várias espécies de sapos para não comer os venenosos.

Para investigar como esses mamíferos voadores aprendem os chamados de suas presas e por quanto tempo podem reter essas informações, a pesquisadora May Dixon, da Universidade Estadual de Ohio (Estados Unidos), reuniu-se com colegas para treinar morcegos capturados na natureza. Os resultados do estudo foram publicados na revista Current Biology.

Os morcegos foram primeiro expostos ao coaxar de sapos que são suas presas comuns. Acima dos alto-falantes, eram colocados pedaços de comida – assim, quando os morcegos ouvissem o coaxar e voassem na direção do som, encontrariam uma refeição de qualquer jeito.

Com o tempo, os pesquisadores substituíram o coaxar por um toque de celular e mantiveram a dinâmica da recompensa. Eles também passaram a tocar outros três toques para os morcegos, sem associá-los a um lanche. Entre 11 e 27 dias de treino, os morcegos aprenderam a diferença entre toques que podiam ser ignorados e toques que significavam refeição grátis.

Quarenta lanches depois, os morcegos foram microchipados para identificação posterior e devolvidos à natureza.

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Entre um e quatro anos depois, a equipe de Dixon foi atrás dos morcegos treinados – e encontrou oito deles, que foram expostos novamente aos toques. Todos se lembraram de seu treinamento: quando escutavam o toque premiado, voavam em direção ao alto-falante para se alimentar. 

Dezessete morcegos novatos também foram capturados e expostos ao som, mas não fizeram muita coisa além de contrair as orelhas. (Talvez se perguntando de onde vem o barulho irritante, como você se pergunta, sonolento pela manhã, sobre seu despertador.) É possível conferir trechos do teste neste link.

Os morcegos treinados também puderam diferenciar o toque “refeição” de toques novos, embora muitos tenham se confundido em relação aos sons não associados a recompensas – voando em direção ao alto-falante como se também esperassem encontrar comida.

Os resultados surpreenderam os pesquisadores: “Quatro anos me parece muito tempo para guardar um som que você pode nunca ouvir novamente”, afirma Dixon em comunicado. Há ainda o fato de serem animais selvagens: na natureza, há muito mais coisas que eles precisam lembrar (como identificar uma presa ou predador, por exemplo) do que se estivessem em cativeiro.

E a maior parte dos estudos sobre retenção de memória animal é realizada com animais em cativeiro, porque são condições que facilitam as investigações – mas “não refletem as demandas cognitivas complexas dos ambientes selvagens”, escrevem os pesquisadores.

“Ser capaz de estudar a memória no ambiente selvagem é importante”, afirma em comunicado Gerald Carter, coautor do estudo. “O ambiente e o cérebro são diferentes na natureza em comparação ao cativeiro.”

Segundo a pesquisa, “a memória notavelmente longa do morcego indica que a capacidade de lembrar de presas raramente encontradas pode ser vantajosa para esse predador e sugere habilidades cognitivas até então desconhecidas em morcegos”.

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