Ao contrário da peste bubônica, da gripe espanhola e da peste antonina do passado, que se difundiram vagarosamente pelo mundo, a Covid-19 e agora a varíola dos macacos marcaram o início de um novo padrão das pandemias, que em semanas se espalham pelo mundo. Os vírus ‘emergentes’ alcançam rapidamente todos os recantos do planeta graças aos 202 mil voos diários – recorde registrado um pouco antes da pandemia – e aos 4,5 bilhões de passageiros anuais que os aviões transportam (2019).
Essa nova situação criará em curto prazo um imenso desafio para a saúde pública. Será importante encontrar formas de testar rapidamente todos que adentrarem um estádio, um grande escritório, escolas, aeroportos e mesmo rodoviárias.
O problema será maior com os vírus que permanecem contagiando por tempo maior, caso de alguns do gênero Orthopoxivirus, da varíola do macaco, cujo portador continua fonte de contágio vários dias depois de aparentemente recuperado.
Pesquisadores de vários países, inclusive do Brasil, buscam as respostas para o problema. A solução deve necessariamente ser de um sistema não invasivo que use inteligência artificial e que libere o resultado em segundos, do tipo dos detectores de metal de aeroportos e áreas de segurança, que emitem um sinal assim que alguém portando uma faca passa diante do equipamento, por exemplo.
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Mas isso é muito mais complexo para uma infecção. Já existe um totem em testes que visa indicar não apenas se a pessoa está febril ou apresenta outro sintoma de doença, mas também se seus sinais vitais sugerem contágio pelo vírus.
Para alcançar o resultado almejado, o equipamento identifica a temperatura, edemas faciais, sinais como vermelhidão dos olhos, microinflamações e, em frações de segundo, compara os dados previamente armazenados de doentes comprovadamente contaminados por vírus como o da Covid-19, da gripe , da gripe H1N1 e de outras 17 infecções respiratórias.
O totem desenvolvido no Brasil já foi testado em pacientes do Hospital Universitário da USP, na Prefeitura de Ilhabela, em centenas de moradores da favela de Paraisópolis, numa grande sala de call center com 500 funcionários e no Hospital da PM do Estado de São Paulo, entre outros locais. Com isso, possui um banco de dados com detalhes da temperatura e do aspecto de milhares de pessoas infectadas por vírus devidamente identificados por qPCR (o padrão ouro).
Assim que as informações de uma pessoa são coletadas pelo sistema, há uma busca automática de quem tem resultados semelhantes e, como uma espécie de sistema de reconhecimento facial, o equipamento indica que a pessoa que passa pelo totem está ou sadia ou, então, com alguma síndrome gripal. A pesquisa envolveu um total de 9 257 pessoas, que depois passaram a fazer os tradicionais testes de PCR ou antígeno.
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Até agora a inteligência artificial desenvolvida foi capaz de diagnosticar com segurança 84% dos casos. Mas o melhor é que, à medida que mais pessoas passam pelo totem, o banco de dados se torna maior e, portanto, mais seguro. Em outras palavras, ele tende a aumentar constantemente o acerto dos diagnósticos.
Certamente vai demorar até que esse tipo de totem com seus sensores térmicos esteja disponível em todos os locais de grande concentração de público. A boa notícia é que, ao contrário do que ocorria no início da pandemia causada pelo coronavírus, hoje já existe a ‘arma’ necessária para bloquear futuros ‘ataques’ dos vírus que certamente virão. Há muita esperança de que as pandemias do futuro não causem tantos óbitos como essa, pois a humanidade não estará mais desprevenida.
*Alexandre Aldred, da Faculdade de Medicina da USP, é especializado em Termografia Médica Diagnóstica e Propedêutica
Era de pandemias tornará testagem diária um procedimento necessário Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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