Respeitar a prescrição
Parece banal, mas muita gente não toma o remédio receitado direito ou interrompe o tratamento antes da hora. Pesquisas estimam que 50% dos pacientes não seguem as orientações dadas em consultório e 30% nem sequer iniciam o uso do medicamento.
Razões não faltam: negligência dos riscos, medo de reações adversas, dificuldades financeiras, descaso quando os sintomas somem… A má adesão é uma das maiores preocupações dos médicos hoje, especialmente diante das doenças crônicas, cuja piora costuma ser silenciosa por anos.
É o caso da pressão alta: o sujeito se sente bem após tomar os comprimidos por um tempo e larga o tratamento. O perigo? A piora do quadro até uma situação potencialmente fatal, como um infarto ou derrame.
Parar de tomar a medicação antes de completar o esquema previsto é uma questão de saúde pública no contexto dos antibióticos. “O uso incorreto pode provocar resistência bacteriana. E, em uma nova infecção, aquele mesmo medicamento será ineficaz”, explica o farmacêutico Diego Gnatta, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para melhorar a adesão a qualquer remédio, são bem-vindos lembretes na geladeira e via aplicativos de celular, de preferência com horário e dose combinados com o médico.
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Ficar atento a interações
Um remédio pode interagir com outro ou até mesmo com suplementos ou alimentos, causando efeitos indesejáveis. Exemplo: alguns antidepressivos mexem com a ação de medicamentos para pressão alta e podem gerar crises hipertensivas.
“Já antibióticos diminuem o efeito de contraceptivos, aumentando o risco de uma gravidez indesejada”, conta Stéphanie Guassi, farmacêutica da healthtech Mevo.
Há casos em que a combinação se torna tóxica, como o uso de paracetamol em paralelo à ingestão exagerada de álcool, capaz de provocar danos ao fígado. O ideal é avisar os médicos e o farmacêutico daquilo que você já usa.
Receitas digitais, que vêm ganhando espaço após a pandemia, automatizam e melhoram esse processo. Um estudo da Mevo em cima de 65 mil prescrições eletrônicas mostrou que, após sua implementação, a quantidade de receitas com interação medicamentosa reduziu 33%.
Formas de administração
Comprimido
Pode ser revestido para absorção imediata ou tardia, e ser até mastigável.
Cápsula
O remédio fica envolto em uma “capa” para ser liberado na parte certa do trato digestivo.
Sachê
O pó geralmente tem dosagem maior que comprimidos e é diluído em água.
Pomada ou creme
Solução para ser espalhada e absorvida na pele ou em mucosas.
Supositório
Introduzido em orifícios como ânus e vagina, dissolve-se com a temperatura corporal.
Spray nasal
Medicação aspirada pelo nariz para agir ali ou ser absorvida pelas vias aéreas.
Adesivo
Disponibiliza a medicação através da pele visando menos efeitos colaterais.
Injeção
Tem a subcutânea, aplicada abaixo da pele, e a intramuscular, que penetra o músculo.
Endovenoso
O medicamento é injetado diretamente na veia, com efeito sistêmico e mais rápido.
Estar com a receita certa na farmácia
Se você já pediu um remédio no balcão e não conseguiu comprá-lo, mesmo ele estando disponível, o problema é da receita. Não estamos falando aqui dos MIPs, os medicamentos isentos de prescrição, mas daqueles que exigem indicação médica. Há diferentes regras e um código de cores a respeitar: o receituário branco “simples” é para remédios livres de um controle formal, enquanto o branco “especial” é voltado aos controlados, como antibióticos.
Já o receituário azul é destinado a psicotrópicos, e o amarelo, a medicações de controle mais rígido, como opioides. Em geral, as receitas têm validade — se o prazo passou, é preciso voltar ao médico.
As tarjas
Sem tarja: são os medicamentos isentos de prescrição (MIPs), vendidos a qualquer um sem restrições.
Amarela: identifica os medicamentos genéricos, de modo a diferenciá-los dos similares e dos de referência.
Vermelha: exigem apresentação de receita assinada, que pode ou não ficar retida na farmácia.
Preta: demandam controle mais rigoroso, pois podem gerar dependência e efeitos colaterais mais sérios.
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Ficar ciente de ingredientes ocultos nos medicamentos
A base de qualquer medicamento é o princípio ativo, a substância por trás do efeito pretendido. Mas ela não costuma vir sozinha: há outros elementos na mistura para formar um comprimido, um xarope ou uma solução injetável.
O professor Diego Gnatta compara a uma receita de bolo, só que, nesse caso, são utilizados os adjuvantes farmacêuticos. A lista inclui sal, açúcar e um monte de aditivos químicos. É muito raro que esses ingredientes desatem reações adversas — mesmo alergias a corantes utilizados em comprimidos não são comuns.
Embora a indústria passe longe dos adjuvantes mais arriscados e venha aprimorando a receita dos medicamentos, há pontos de atenção. O periódico da Sociedade Europeia de Cardiologia publicou recentemente um alerta sobre o sódio escondido em remédios como antiácidos e analgésicos e sua possível repercussão na pressão arterial de pessoas hipertensas.
“Já xaropes costumam conter açúcar e devem ser evitados ou usados com cautela por quem tem diabetes, algo que a embalagem já adverte”, expõe o farmacêutico da UFRGS.
O que também pode ocorrer é um processo alérgico decorrente de uma substância presente na medicação — o organismo interpreta aquilo como algo capaz de lhe causar danos e emite uma resposta de defesa, desencadeando de uma simples coceira e vermelhidão na pele a eventos mais graves como choque anafilático.
É difícil identificar a alergia antes que ela se manifeste. Então, quando perceber sintomas estranhos após a ingestão de um remédio, interrompa o uso e fale com o médico.
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Entender a diferença entre automedicação e autoprescrição
Quando temos alguma queixa, como uma dor de cabeça, é habitual receber dicas de remédios de parentes e amigos. Mas é preciso ter cuidado e bom senso: tomar fármacos que precisam de receita sem aval médico, prática chamada de autoprescrição, é um comportamento que traz riscos à saúde.
Já a automedicação ocorre quando se faz uso de um medicamento isento de prescrição. “A Anvisa tem critérios para atribuir essa classificação, como o perfil de segurança do medicamento. Os MIPs servem para sintomas identificáveis e esporádicos e oferecem baixo risco de reações indesejáveis”, esclarece Marli Martins Sileci, vice-presidente executiva da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (Acessa).
Mas a automedicação não deve virar rotina, já que os MIPs só atacam os sintomas, não a eventual causa de um problema. Gnatta lembra que o perigo de ficar tomando remédio por conta a torto e a direito é postergar o diagnóstico e deixar uma possível doença se agravar. Por isso, lembre-se do slogan: ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado.
Saber se é para tomar em jejum ou de barriga cheia
Tudo vai depender do tipo de medicamento, e é dever do profissional que prescreveu dar a orientação adequada. Anti-inflamatórios tendem a causar desconfortos quando ingeridos de barriga vazia — a irritação no sistema gastrointestinal pode ser amenizada quando se engole o fármaco após a refeição, o que reduz seu contato direto com as mucosas do estômago.
Na contramão, hormônios para a tireoide pedem jejum para que não haja interações que cortem seu efeito. Algumas medicações contam até com recomendações específicas nesse sentido.
Há drogas para osteoporose que, após a ingestão em jejum, exigem que a pessoa não se deite por pelo menos meia hora. O motivo? Evitar um refluxo, já que o medicamento tem substâncias que podem provocar úlceras no esôfago se o uso for incorreto.
Checar se sempre dá para levar o genérico
A rigor, não deveria haver receio em fazer a troca de um medicamento de referência por um genérico. A única diferença, em tese, estaria no nome, já que o princípio ativo é o mesmo. O genérico não é mais barato por ser inferior. Enquanto o medicamento de referência traz embutidos os custos de pesquisa, desenvolvimento e marketing, os genéricos vêm ao mercado em um momento posterior, quando a patente do original expirou e ele pode ser fabricado por outros laboratórios, sem os custos prévios que são repassados ao consumidor.
“Os genéricos são registrados na Anvisa como cópias fidedignas daqueles de referência. São eficazes e seguros como os outros”, reforça Gnatta. Ainda assim, não é incomum deparar com médicos que receitam remédios de marca, citando desconfianças ou falta de pesquisas com os genéricos ou mesmo antevendo que o paciente achará que o que lhe foi prescrito será menos efetivo.
Se isso acontecer com você, vale uma boa conversa para entender as razões e, se for o caso, buscar uma segunda opinião. É uma decisão que irá pesar no bolso. Também convém não confundir os genéricos com os similares — cópias do original, mas com marca e, em geral, mais caros.
Outra associação equivocada diz respeito aos biossimilares. Eles não podem ser considerados os “genéricos” dos biológicos: são feitos à imagem do original e se mostram equivalentes, mas nunca idênticos, visto que o processo de fabricação a partir de organismos vivos é mais complexo.
Apesar de diferenças sutis, uma bateria de testes é solicitada para comprovar segurança e eficácia.
As classificações dos remédios
Referência
É o medicamento inovador e original, mais caro e que, após a quebra da patente, pode ser copiado na fabricação de genéricos e similares por outras empresas.
Genérico
Idêntico ao remédio de referência, não pode ter marca, sendo identificado pelo princípio ativo. Sem os custos de pesquisa e marketing, é no mínimo 35% mais barato.
Similar
Tem os mesmos princípios ativos e dosagem dos fármacos de referência e genéricos, mas é comercializado com marca e nome fantasia.
Biológico
É o medicamento inovador e original produzido a partir de um organismo vivo (como células e bactérias), enquanto os demais remédios são sintéticos.
Biossimilar
Medicamento extremamente semelhante ao biológico em que é inspirado, passa por testes de eficácia e segurança para mostrar equivalência.
Descartar os remédios de forma correta
Se for jogar fora um remédio vencido ou mesmo na validade, o correto é levar até um ponto de coleta em farmácias e unidades de saúde. Bulas e caixas de papel podem ir para o lixo reciclável, mas as embalagens primárias, que envolvem os medicamentos e têm contato direto com eles, também devem ser descartadas nesses locais específicos.
Lançar os remédios ou essas embalagens no lixo comum pode gerar contaminação na água e no solo. “Os medicamentos têm substâncias que podem ser tóxicas ou se tornar tóxicas após sua decomposição”, explica Sarah Chaia, líder do Comitê de Sustentabilidade da farmacêutica Roche, que elaborou uma cartilha sobre o assunto.
Além de afetar pessoas que bebem da água contaminada ou se alimentam de animais que vivem nela, o descarte inadequado também coloca em risco quem entra em contato direto com o resíduo, caso de garis, lixeiros e catadores — ainda mais se houver seringa no meio.
Saber se tenho direito a uma medicação
Você pode conseguir remédios de graça pelo SUS ou, de forma gratuita ou a custo mais baixo, pela Farmácia Popular, convênio do governo com farmácias privadas. Quem dita o que entra na lista desses fármacos é a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename).
“O governo paga uma parte do valor, e o cidadão a outra”, resume a farmacêutica Liliane Barros, professora do Senac-SP. Para usufruir, deve-se procurar drogarias conveniadas e apresentar receita médica e o CPF.
No caso dos planos de saúde, também há um rol de tratamentos que devem ser cobertos de forma obrigatória, formulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Quando o médico prescreve uma terapia de alto custo que não consta no rol e o paciente não tem condição de adquiri-la, muitas vezes é preciso recorrer à Justiça para pleitear a incorporação à Rename ou obter autorização especial para uso.
Ainda é possível se informar se já não existe uma alternativa mais barata ao tratamento receitado. “Muitas vezes, é prescrito um produto novo mais caro que não está na rede pública, quando há outros, tão eficazes quanto, obtidos de graça no SUS”, repara Gnatta.
Nunca abrir cápsulas ou cortar pílulas
A forma de administração escolhida para levar um remédio ao mercado não tem apenas a ver com a conveniência de quem vai tomar. Pauta-se também pela garantia de absorção da dose adequada e atuação no local esperado.
Um comprimido revestido ou uma cápsula estão ali para assegurar que o princípio ativo chegue intacto até o lugar desejado, sobrevivendo aos diferentes estágios pelo caminho — desde a passagem pela boca e o contato com o suco gástrico até o destino no intestino.
Ao abrir a cápsula e despejar o conteúdo em água, ou ao triturar um comprimido, você acaba com essa proteção e provoca uma absorção mais rápida, com consequências que variam de acordo com o remédio: anular a ação, provocar desconfortos ou gerar intoxicação.
Quando se quebra um comprimido ao meio, também há o risco de errar a proporção e ficar com princípio ativo de mais ou de menos — a exceção fica por conta de comprimidos que vêm de fábrica com uma demarcação para corte.
Outra questão para ficar de olho é a superfície onde se faz a partilha do medicamento, sujeito a contaminação. Está com dificuldade para ingerir um remédio? Veja com o doutor se não há alternativas.
Guardar direito os remédios
As condições de armazenamento recomendadas são definidas em estudos prévios ao lançamento dos medicamentos, com algumas preocupações por trás — entre elas, garantir a conservação até a data de validade anunciada na embalagem, sem que o remédio perca suas propriedades.
Boa parte dos fármacos pode ser alojada em temperatura ambiente, mas, em um país quente como o nosso, tem que ficar ligado quando passar dos 30 graus. A orientação é deixá-los em locais da casa menos suscetíveis a variações térmicas e longe do sol, de preferência em um armário ou recipiente fechado.
“As pessoas acham que guardar os remédios no banheiro é correto, mas é o local mais inadequado possível”, alerta Liliane. “Ali existe uma frequente alteração de temperatura por causa do chuveiro, além de muita umidade”, justifica a docente do Senac.
Algumas medicações em particular, como a insulina, cobram acondicionamento em geladeira — médicos pedem para retirar alguns minutos antes da aplicação para evitar irritações na pele. Além do cuidado com o remédio em si, é preciso levar em consideração peculiaridades da casa: nunca deixe medicamentos expostos a crianças e animais, por exemplo.
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Informar-se sobre o que fazer em caso de efeitos colaterais
Antes de tudo, crie o hábito de ler a bula (tem até versão digital). Além de instruções sobre o uso correto do medicamento, ela sempre vai indicar as diferentes reações adversas, comuns e incomuns, registradas ao longo das pesquisas e conforme o remédio foi sendo utilizado na prática.
“Elas ocorrem principalmente em crianças, idosos e pacientes com comorbidades e que usam múltiplas medicações ao mesmo tempo, além de pessoas que exageram na bebida alcoólica”, nota Evandro Félix, diretor de informações médicas da Mevo.
Na maioria das vezes, as medicações provocam efeitos colaterais leves, sem impactos nem motivo de alarme. Mas existem aquelas, caso de algumas empregadas contra o câncer, que provocam reações adversas mais expressivas (náusea, fadiga, queda de cabelo…).
Independentemente do problema em questão, caso o sintoma ou o incômodo se mantenham ou piorem, tem que falar com o médico. “Ele poderá diminuir a dosagem ou receitar outros remédios que amenizam essas reações”, diz Liliane.
Uma situação diferente, e que pede uma ação urgente, é quando há uma alergia ou outro tipo de repercussão mais grave do tratamento. Nesse caso, o mais indicado é procurar um hospital imediatamente.
O que nunca esquecer
Olhar a validade
Fora do prazo, não dá para garantir efeito e segurança esperados.
Manter contato
Algo vai mal no tratamento? Fale com seu médico.
Levar em viagens
Confira regras de transporte e se há no local de destino.
Ler a bula
A forma mais completa e ágil de tirar dúvidas sobre a ação e reação da droga.
Erros e acertos ao tomar remédios Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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