quarta-feira, 19 de abril de 2023

A palavra “forró” surgiu mesmo de “for all”?

Não. Essa é uma lenda linguística, de origem desconhecida, que, de tão repetida, acabou ganhando um verniz histórico. Segundo ela, militares americanos estabelecidos no Rio Grande do Norte, à época da Segunda Guerra Mundial, teriam organizado uma festa dançante. Então,  para que todo mundo se sentisse convidado, fixaram uma placa na entrada com a inscrição “For All” (“para todos”) – que os brasileiros logo acabariam adaptando, por semelhança fonética, para “forró”. 

Só que não. E o mito é fácil de desconstruir: o termo “forró” (“baile popular em que casais dançam ao som de ritmos nordestinos”) já constava em dicionário por aqui desde 1913 – três décadas antes de o Brasil receber soldados dos Estados Unidos na Base Aérea de Natal.

A origem mais plausível da palavra seria uma redução de “forrobodó”, que também significa “baile popular”, ainda que sem a mesma restrição à região Nordeste. O termo foi dicionarizado em 1899. 

Em uma coluna de 2020 na Veja, o escritor e especialista em língua portuguesa Sérgio Rodrigues explica que “forrobodó” já era título de uma opereta de Chiquinha Gonzaga que estreou em 1911, no Rio de Janeiro. E vai além, lembrando que, de acordo com o gramático Evanildo Bechara, a palavra vem do galego forbodó (também “baile popular”). 

Cavando mais fundo, o avô do “forró” seria o termo francês faux-bourdon. E aí o significado era diferente: desentoação (que, no universo da música, quer dizer “fora do tom”). Isso porque, como conta Rodrigues, o forbodó era movido a “golpes de bumbo monorrítmicos”. O mesmo tambor rústico de som grave que, no Nordeste, sob o nome de zabumba, marca o ritmo da dança dos forrozeiros.

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