terça-feira, 25 de abril de 2023

Documentos mostram verdadeira contribuição de Rosalind Franklin na descoberta da estrutura do DNA

A Fotografia 51 é considerada a pedra filosofal da biologia molecular. Trata-se da primeira imagem da estrutura dupla-hélice do DNA – aquela escada retorcida que hoje faz parte da sua lista de emojis. A responsável por essa imagem foi Rosalind Franklin, uma química britânica que trabalhava no laboratório de Maurice Wilkins, no King’s College London (Inglaterra), na década de 1950.

Wilkins mostrou a foto (que você vê abaixo) a outros dois cientistas: James Watson e Francis Crick. O momento eureka foi deles: a dupla, que publicou um artigo sobre a estrutura do DNA em 1953, teria desvendado que a molécula é composta por duas fitas conectadas por ligações químicas entre as bases nitrogenadas A, T, C e G. E aí está o manual de instruções da vida na Terra.

<span class="hidden">–</span>Montagem/Wikimedia Commons

Mas existe outra versão da história. Ela diz que Franklin foi uma colaboradora tão importante quanto Watson e Crick na descoberta da estrutura do DNA. Uma carta esquecida e um artigo inédito, ambos escritos em 1953, são evidências para esta versão, segundo uma pesquisa publicada nesta terça (25) na revista Nature.

Os acadêmicos Matthew Cobb, da Universidade de Manchester, e Nathaniel Comfort, da Escola de Medicina da Universidade John Hopkins, visitaram o arquivo de Franklin no Churchill College, em Cambridge (Inglaterra), e encontraram o material.

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A carta é da pesquisadora Pauline Cowan, do King’s College, para Crick. Ela convida o cientista para uma palestra de Franklin e um estudante de pós-graduação que trabalhava com ela, chamado Raymond Gosling. Mas também avisa: talvez o evento nem faça diferença para Crick, visto que seu supervisor, Max Perutz, já sabia mais do que a palestra conseguiria mostrar.

É que Perutz teve acesso a um relatório informal sobre as atividades no King’s College que incluía uma página sobre o trabalho de Franklin. Segundo a carta de Cowan, Rosalind Franklin sabia que Perutz havia compartilhado o material com Crick – e a pesquisadora parecia bem com isso. Segundo os autores, este relatório foi ainda mais significativo do que a Foto 51 para confirmar a estrutura do DNA.

Já o artigo que Cobb e Comfort encontraram é um rascunho escrito pela jornalista Joan Bruce, que entrevistou Franklin, e destinado à publicação na revista Time. Ela retrata um esforço colaborativo e escreve que as duplas Franklin-Wilkins e Crick-Watson, embora trabalhassem de maneira independente, “se uniram, confirmando o trabalho um do outro de tempos em tempos ou lutando por um problema comum”.

Juntos, os documentos mostram que Franklin não deixou de entender a estrutura do DNA ou foi passada para trás, como afirmam versões populares da história. Mas, junto a Wilkins, foi “metade da equipe que articulou a questão científica, deu importantes passos iniciais em direção a uma solução, forneceu dados cruciais e verificou o resultado”, escrevem Cobb e Comfort.

Para eles, entender a história de Franklin é crucial, porque ela se tornou um modelo para as mulheres que são (ou desejam ser) cientistas e enfrentou não só o sexismo rotineiro da época, mas também suas formas sutis que ainda hoje aparecem no meio acadêmico.

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