A Fotografia 51 é considerada a pedra filosofal da biologia molecular. Trata-se da primeira imagem da estrutura dupla-hélice do DNA – aquela escada retorcida que hoje faz parte da sua lista de emojis. A responsável por essa imagem foi Rosalind Franklin, uma química britânica que trabalhava no laboratório de Maurice Wilkins, no King’s College London (Inglaterra), na década de 1950.
Wilkins mostrou a foto (que você vê abaixo) a outros dois cientistas: James Watson e Francis Crick. O momento eureka foi deles: a dupla, que publicou um artigo sobre a estrutura do DNA em 1953, teria desvendado que a molécula é composta por duas fitas conectadas por ligações químicas entre as bases nitrogenadas A, T, C e G. E aí está o manual de instruções da vida na Terra.

Mas existe outra versão da história. Ela diz que Franklin foi uma colaboradora tão importante quanto Watson e Crick na descoberta da estrutura do DNA. Uma carta esquecida e um artigo inédito, ambos escritos em 1953, são evidências para esta versão, segundo uma pesquisa publicada nesta terça (25) na revista Nature.
Os acadêmicos Matthew Cobb, da Universidade de Manchester, e Nathaniel Comfort, da Escola de Medicina da Universidade John Hopkins, visitaram o arquivo de Franklin no Churchill College, em Cambridge (Inglaterra), e encontraram o material.
A carta é da pesquisadora Pauline Cowan, do King’s College, para Crick. Ela convida o cientista para uma palestra de Franklin e um estudante de pós-graduação que trabalhava com ela, chamado Raymond Gosling. Mas também avisa: talvez o evento nem faça diferença para Crick, visto que seu supervisor, Max Perutz, já sabia mais do que a palestra conseguiria mostrar.
É que Perutz teve acesso a um relatório informal sobre as atividades no King’s College que incluía uma página sobre o trabalho de Franklin. Segundo a carta de Cowan, Rosalind Franklin sabia que Perutz havia compartilhado o material com Crick – e a pesquisadora parecia bem com isso. Segundo os autores, este relatório foi ainda mais significativo do que a Foto 51 para confirmar a estrutura do DNA.
Já o artigo que Cobb e Comfort encontraram é um rascunho escrito pela jornalista Joan Bruce, que entrevistou Franklin, e destinado à publicação na revista Time. Ela retrata um esforço colaborativo e escreve que as duplas Franklin-Wilkins e Crick-Watson, embora trabalhassem de maneira independente, “se uniram, confirmando o trabalho um do outro de tempos em tempos ou lutando por um problema comum”.
Juntos, os documentos mostram que Franklin não deixou de entender a estrutura do DNA ou foi passada para trás, como afirmam versões populares da história. Mas, junto a Wilkins, foi “metade da equipe que articulou a questão científica, deu importantes passos iniciais em direção a uma solução, forneceu dados cruciais e verificou o resultado”, escrevem Cobb e Comfort.
Para eles, entender a história de Franklin é crucial, porque ela se tornou um modelo para as mulheres que são (ou desejam ser) cientistas e enfrentou não só o sexismo rotineiro da época, mas também suas formas sutis que ainda hoje aparecem no meio acadêmico.
Documentos mostram verdadeira contribuição de Rosalind Franklin na descoberta da estrutura do DNA Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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