O biohacking aparece a partir de uma multiplicidade de ambientes, circunstâncias e comunidades e reúne desde entusiastas presentes em universidades como professores e alunos até praticantes de laboratórios de garagem, cozinha ou armário.
Ele engloba uma porção de soluções biotecnológicas, como criação de implantes de biochips, probióticos e até dispositivos cerebrais, sem falar em edição genética.
É possível reconhecer um biohacker quando você passa pelo corredor da universidade? Vejamos.
O biohacking vai muito além de um hobby. Durante o dia, boa parte dos adeptos trabalha como pesquisador em universidades brasileiras. À noite, essa turma mexe, observa e analisa moléculas, desmonta e combina componentes de equipamentos.
Seja por motivos recreativos ou científicos, o laboratório (da faculdade e às vezes até o de casa) se torna uma metáfora para recriar interações entre o corpo e a tecnologia.
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Cultura de garagem, o hacking (sem o “bio”) ganhou atenção principalmente a partir da ascensão da internet na década de 1990. Apesar da conotação negativa que o termo ganhou em alguns círculos, o conceito remete a cidadãos comuns botando a mão na massa entre softwares e hardwares.
Num segundo momento, aparecem pessoas interessadas em adotar a perspectiva (bio)hacking, uma proposta de transpor as metáforas das Tecnologias de Informação e Comunicação para o corpo e a biologia.
Os biohackers aparecem ao lado de dispositivos como impressoras 3D, microscópios, estufas, pipetas, centrífugas. Em busca do compartilhamento de informações, por meio da leitura de artigos científicos e tutoriais, os cidadãos, os cientistas e os pacientes interagem a partir de mil e uma possibilidades.
Essas comunidades se baseiam na perspectiva de uma medicina e biologia Do-It-Yourself (ou “faça você mesmo”), no sentido de construir ou realizar experimentações com equipamentos, substâncias químicas, processos e dados.
No entanto, o discurso do biohacking passa a ser capturado por gurus do mercado fitness e wellness, propagandeando a promessa de rejuvenescer uma década, aumentar as capacidades físicas ou cognitivas e até viver 180 anos!
Por trás dessa narrativa prevalece a pseudociência. Há uma banalização preocupante do tema, ladeada de charlatanismo, potenciais perigos à saúde e a ideia equivocada de uma juventude eterna.
As discussões sobre os riscos e os aspectos éticos aparecem de forma pujante em torno do assunto e instigam a sociedade civil a se esclarecer e se engajar, em direção a novas tomadas de decisão sobre esse fenômeno. Não há um consenso sobre o tema.
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Entretanto, restringir ou proibir essas práticas pode ter um efeito contrário, isto é, instigar ainda mais o interesse (e até as falsas promessas).
Os debates, eventos e fóruns públicos são mais efetivos em contraste com medidas proibitivas, pois conduzem a reflexões, mediadas por cientistas, sobre os riscos e as perspectivas, e promovem o engajamento do cidadão em torno do conhecimento científico.
A iniciativa de criar laboratórios de biohacking em universidades públicas brasileiras tem sido cada vez mais debatida por uma diversidade de atores, como pesquisadores e formuladores de políticas públicas.
Essa é uma tendência incipiente, mas, se bem pensada, estruturada e supervisionada por profissionais capacitados, pode render frutos à nossa sociedade.
* Juliano Sanches é mestre em divulgação científica e cultural e doutorando em política científica e tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Você sabe o que é biohacking? Entenda o fenômeno, seus riscos e promessas Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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