Acredito que foi Charles Chaplin que disse que a vida poderia começar na velhice e, com o passar do tempo, a pessoa vai se tornando mais jovem. Pois ser jovem sem sabedoria, ou sábio sem energia, era um desperdício.
E se eu disser que, de certo jeito, vivi uma vida ao assim, ao contrário?
Eu nasci com uma cardiopatia congênita – um problema no coração que me acompanha desde o nascimento.
Foram muitas as vezes que disseram aos meus pais que eu não iria sobreviver. Andar por hospitais, fazer exames e cirurgias era uma rotina comum. Eu nem conhecia uma vida diferente.
A cardiopatia me aprisionava numa fadiga eterna. Não importava o quanto eu descansasse, sempre estava cansada.
De vez em quando, os médicos faziam suas profecias: “você tem seis meses de vida”, ou “você tem uma semana no máximo”. É curioso, mas confesso que poucas coisas são tão empoderadoras quanto ouvir que se vai morrer… e não morrer.
Passado o susto e o tempo de validade, descobrimos que não existem tantas certezas assim na vida. E que, no fundo, quem determina nossos rumos somos nós mesmos.
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Sempre busquei viver o pouco que supostamente tinha da melhor forma possível. Nunca vi motivo para reclamar. Até que a insuficiência cardíaca evoluiu e só um transplante de um novo coração poderia me salvar.
Saber que sua vida depende da decisão de um desconhecido – no caso, de ser um doador de órgãos – é um tanto desafiador.
Mas o meu “sim” para o transplante chegou no dia mais lindo de todos: no meu aniversário de 30 anos! É aí que a vida gira 180 graus e eu começo a rejuvenescer.
Eu nunca havia experimentado a saúde que esse novo coração que pulsa no meu peito me deu! É como se, após 30 anos, eu redescobrisse o mundo com um corpo que parece ligado em uma tomada infinita.
“Era isso que vocês sentiam?”, me pergunto todos os dias. Me tornei a primeira triatleta transplantada de coração, porque um esporte já não bastaria para mim.
Fundei o Instituto Sou Doador para lutar pela conscientização sobre doação de órgãos e tecidos no Brasil. E escrevi o livro “Coração de Atleta” (Garoa Livros)** onde conto sobre essa jornada e os aprendizados que ela me ensinou.
Tudo que eu vivi antes me permite hoje ser muito mais feliz.
Respirar não é banal. E dormir e acordar descansado no outro dia é algo mágico.
Em certos aspectos, o sofá não é muito diferente de uma cama de UTI. Abra a porta de casa para descobrir o mundo!
Aproveite que suas pernas o levam onde quiser e suba em uma bicicleta, ou calce os patins, ou ande de skate só pelo prazer de cair e se ver capaz de levantar de novo. Corra sem motivo na praia. Chute as ondas do mar como criança. Cante no carro de vidros abertos. Seja ridículo. Tudo isso passa tão rápido.
O sangue que corre nas suas veias é um presente. Seu coração está pulsando: faça ele bater forte!
*Patricia Fonseca é triatleta e autora do livro Coração de Atleta – Renascendo na Mesma Vida: Uma Jornada de Ousadia, Superação e Conquistas
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A nova vida que um transplante de coração oferece Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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