Como muitas das doenças virais, ela se manifesta com sinais inespecíficos: febre, falta de apetite e dor de cabeça. E, sorrateiramente, surgem as manchas na pele, que podem virar pústulas, que tanto doem como coçam muito.
Em tupi, a doença é chamada de Tatapora, o fogo que salta, que conhecemos por catapora ou varicela, pelas manifestações similares às da extinta varíola humana. Só que a varicela é, digamos, benigna, extinguindo-se em alguns dias.
Embora seja mais associada a crianças, adolescentes e adultos também podem ter varicela. O vírus causador é transmitido pelo ar por meio de gotículas que saem com espirros e tosse e mesmo através de objetos contaminados. Tudo culpa de quem? Do Varicella-zoster.
Ao entrar nas células, esse vírus se multiplica e se espalha pelo corpo, culminando em lesões na pele cheias de suas crias. Mas, como tudo na Virosfera, nem tudo é assim tão simples.
Se o incendiário em questão sentir que a imunidade do hospedeiro não está tão boa, ele ainda entra em um tipo de hibernação no núcleo das células, deixando seu DNA dormindo ao lado do nosso até que o sistema imunológica da pessoa desabe algum dia.
Aí ele sorrateiramente acorda e serpenteia para fora do núcleo, se multiplica e ataca de novo. Esse rastejar deu o nome à família da qual o vírus da varicela faz parte, os herpesvírus – herpes, em grego, remete a serpentes e coisas que rastejam.
Ou seja, quem teve um herpesvírus irá carregá-lo para sempre.
O Varicella-zoster não é o único: temos também os agentes por trás de herpes labial e genital, responsáveis por lesões que vêm e vão de acordo com a maré da imunidade pela vida toda. Segundo um colega virologista, o herpes dura mais do que o amor…
No caso da varicela, quem teve catapora um dia não terá mais, ainda que o vírus esteja lá escondido. Mas outra ameaça rondará o organismo.
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O micro-organismo se esconde em células dos nervos, onde é mais difícil a imunidade identificá-los e eliminá-los.
Quando a imunidade geral cai, e o vírus acorda, ele começa a se reproduzir ali, gerando danos em formato de serpentes na pele (também chamadas de cobreiros). Pode ser pelo rosto, nos braços, na barriga, e por aí vai.
Esse processo costuma gerar dores que podem perdurar anos, chegando, em alguns casos, a paralisar alguns músculos.
Nem as medicações mais modernas e potentes conseguem detê-las totalmente. Essas “serpentes” podem ficar tão extensas que parecem “cintos”. Daí entra de novo o grego, com o termo zoster, que vem a ser… cinto!
Nem tudo está perdido, porém. Temos vacina contra catapora, parte do programa nacional de imunizações para crianças. E temos, para nós com 50 anos ou mais, uma vacina contra o herpes-zóster, essa segunda e dolorosa manifestação.
Pode ser em tupi, em grego, em português ou em cientifiquês, o fato em comum é que a infecção por Varicella-zoster é uma doença complexa e séria que, ainda que seja benigna no começo, pode se tornar terrível e debilitante com mais pra frente.
Por sua vez, os vírus, assim como as serpentes, não escolhem ser bons ou maus, diferentemente de nós, para quem escolher algo como tomar vacinas pode ser a diferença entra a vida e a morte.
De catapora a zóster: as múltiplas línguas e botes da varicela Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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