Engana-se quem acredita que o encanamento é uma invenção recente. Alguns dos primeiros “canos” eram de cerâmica e datam da Idade do Bronze – 3 mil anos atrás, aproximadamente. Eles eram feitos do mesmo jeito que artesãos fazem vasos hoje em dia, moldando argila em uma plataforma giratória.
Esses cilindros vazados eram justapostos para construir um tubo maior – como crianças entediadas em um restaurante, que prendem vários canudinhos um no outro para formar um só canudo gigante.
A maioria dos sistemas de encanamento do mundo primitivo eram voltados à irrigação, mas um assentamento urbano na China Antiga pensava diferente: eles criaram algo como os nossos bueiros, para drenar a água das chuvas intensas que caem na região.
Um novo estudo, realizado por pesquisadores do University College London, descreve a descoberta deste que é o mais antigo sistema de canos de cerâmica já encontrado no leste asiático.
Ele foi feito há aproximadamente 4 mil anos e é interessante não só por se tratar de um feito de engenharia avançado, mas porque a população que o criou aparentemente não era governada por uma autoridade centralizada. Até então, acreditava-se que obras públicas desse porte só ocorressem em sociedades hierarquizadas.
A cidade de Pingliangtai, hoje um sítio arqueológico localizado no distrito de Huaiyang, cidade de Zhoukou, no centro da China, chegou a abrigar cerca de 500 pessoas dentro de seus muros. O clima da área era marcado por grandes mudanças climáticas sazonais; as monções de verão despejavam chuvas muito intensas, com grande potencial para alagamentos.
Cuidar desses alagamentos era importante para evitar que problemas para a comunidade. A fim de mitigar o excesso de água durante as estações chuvosas, o povo de Pingliangtai construiu e operou um sistema de drenagem avançado para a época.
Canaletas inclinadas localizadas entre as casas desviavam a água da área residencial para os canos de cerâmica na rua – que, por sua vez, conduziam a chuva para fora da aldeia, para evitar alagamentos. Os tubos tinham de 20 a 30 cm de diâmetro e 30 e 40 cm de comprimento.
Essas tubulações são tão complexas que desafiam um entendimento comum da arqueologia e da antropologia: o de que apenas um poder estatal centralizado com elites governantes seria capaz de reunir a organização e os recursos para criar projetos comunitários complexos.
O assentamento de Pinliangtai mostra pouca evidência de hierarquia social. Olhando para ruínas de uma vila ou cidade qualquer, não é incomum notar que algumas casas são maiores do que as outras, ou que algumas pessoas foram enterradas com ouro e joias em criptas chiques.
Esses são sinais de desigualdade social, mas em Pinliangtai, as casas eram uniformemente pequenas; até cavando o cemitério os pesquisadores não encontraram evidências claras de uma hierarquia social forte.
Nunca dá para descartar completamente que houvesse algum grau de estratificação (afinal, só temos acesso a restos materiais, mas nem toda forma de riqueza ou poder deixa rastros). Mas outras civilizações da Antiguidade tinham sinais claríssimos de poder e submissão. O mais famoso deles, claro, são as pirâmides egípcias.
Segundo os arqueólogos, a descoberta é extraordinária justamente por esse aspecto. O sistema teria exigido um nível significativo de planejamento e coordenação, e tudo foi feito de forma comunitária; espontânea. Os pesquisadores ainda não conseguem especificar como o povo de Pingliangtai organizou e dividiu o trabalho entre si.
Cidade chinesa de 4 mil anos atrás tinha sistema antienchentes Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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