A pequena Maya Ramos, de Florianópolis/SC, tinha apenas seis meses de idade quando os primeiros sinais de dermatite atópica, doença caracterizada pela inflamação da pele, começaram a aparecer.
Episódios leves e moderados de coceira, vermelhidão e lesões foram comuns durante a maior parte de sua infância.
Mas hoje, aos 7 anos, ela tem muito o que comemorar. Há cerca de um ano, Maya não apresenta crises e hoje não tem mais lesões na pele.
Assim como a maioria dos pacientes com dermatite atópica, o quadro da menina foi controlado por tratamentos tópicos, uso de medicamentos (como antialérgicos) e cuidados com a pele, tendendo a desaparecer com o passar do tempo.
“Nós também nos atentamos a tudo que ela comia e consumia de forma geral, coisas que pudessem ser gatilhos para as crises”, afirma Fernanda Ramos, produtora de eventos e mãe de Maya.
No Brasil, estima-se que 2,7 mil pessoas a cada 100 mil convivam com a inflamação crônica da pele. Entre crianças, até um quinto pode apresentar a condição.
Com a aprovação de novos tratamentos para a dermatite atópica, muitos pacientes tem conquistado uma melhor qualidade de vida — até mesmo aqueles em condições mais severas.
“Enquanto casos leves podem ser controlados com produtos tópicos [uso de pomadas, por exemplo], quadros agravados requerem abordagem sistêmica”, compara Roberto Takaoka, um dos coordenadores do Ambulatório de Dermatite Atópica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Por muito tempo, os únicos recursos disponíveis para estes últimos se resumiam a corticosteroides, como a cortisona, e imunossupressores, como a ciclosporina e o metotrexato. Agora, porém, o arsenal se expandiu.
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Novos tratamentos para dermatite atópica
Entre as opções mais inovadoras, a primeira a ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi o dupilumabe, em 2017.
Ele é um anticorpo monoclonal pertencente à classe dos imunobiológicos. Em outras palavras, é uma molécula de origem biológica capaz de induzir reações específicas do sistema imune.
O dupilumabe inibe proteínas inflamatórias chamadas interleucinas-4 e 13, reduzindo, assim, a irritação na pele característica da dermatite atópica.
O medicamento é indicado no tratamento de casos graves a partir dos 6 anos (sendo a única terapia biológica contra a doença liberada para crianças) e moderados, a partir dos 12.
Já da classe de micromoléculas (compostos tão pequenos que conseguem atravessar a membrana celular), há os inibidores de JAK. Eles agem em enzimas chamadas janus-quinase (JAK, na sigla em inglês), também inibindo respostas inflamatórias.
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Este tipo de tratamento é o mais inovador na luta contra a dermatite atópica. No Brasil, três inibidores de JAK já foram aprovados para minimizar casos moderados e graves de adolescentes e adultos.
O primeiro deles, liberado em 2021, é o baricitinibe, também indicado para artrite reumatoide. Em 2020, a Anvisa autorizou o uso de upadacitinibe, que também é recomendado no combate da outra doença autoimune.
Por fim, em junho deste ano, foi liberado o abrocitinibe, medicamento oral exclusivamente utilizado contra a dermatite atópica.
Soluções caras
As novidades, no entanto, são de alto custo, com preços que variam de 2 mil a 10 mil reais mensais, e as medicações não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Assim, a maioria dos indivíduos com dermatite atópica moderada a grave que estejam aptos aos tratamentos precisa recorre à Justiça para que o governo forneça o remédio.
O tratamento na rede pública, inclusive, deve ser consolidado em breve. Está sob consulta pública o primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o controle da dermatite atópica pelo SUS.
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“A criação do documento é um passo importante para o correto diagnóstico e manejo da doença na população”, avalia Takaoka, que pesquisa dermatite atópica há mais de 30 anos.
Cuidado integral
O dermatologista da USP faz questão de ressaltar, porém, que a oferta de mais remédios não resolve sozinha todos os quadros.
“Não é tão simples assim. O paciente precisa estar atento ao conjunto: avaliar o ambiente em que vive, os produtos que usa, evitar situações estressoras. É como um processo de autoconhecimento”, descreve Takaoka.
Foi este o caminho trilhado pela família de Maya, que acabou descobrindo que, além da dermatite atópica, a menina também tem algumas alergias.
“Para dar mais conforto a ela, nós tivemos que reajustar a nossa rotina. Guardamos a maioria dos bichinhos de pelúcia, compramos roupas de cama antialérgicas, trocamos a vassoura pelo aspirador e passamo a evitar certos produtos de limpeza”, exemplifica Fernanda.
Após a melhora, a menina se tornou uma das protagonistas da campanha “Dá pra mudar essa história”, da farmacêutica Sanofi Brasil, que produz medicamentos usados no tratamento da doença.
A ciência ainda não conseguiu determinar a causa exata da dermatite atópica. Mas hoje sabe-se que fatores genéticos e ambientais estão relacionados a seu desenvolvimento.
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O aspecto emocional também tem um papel importante.”A irritação e a lesão na pele podem ser influenciadas e, ao mesmo tempo, contribuirem para quadros de depressão ou ansiedade“, afirma o dermatologista da USP, que também é fundador e presidente da Associação de Apoio à Dermatite Atópica (AADA).
“Crianças com dermatite atópica podem acabar sofrendo bullying e desenvolver baixa autoestima”, alerta.
Essa foi uma das preocupações que Fernanda teve com Maya. Por isso, fez questão de fortalecer o amor-próprio da filha. A mãe administra uma página no Instagram em que compartilha o dia a dia e a luta pelo controle da doença.
Graças ao tratamento médico e a readequação da rotina, hoje Maya pode fazer coisas que antes não eram possíveis, como ir na piscina durante o verão e desfrutar de boas noites de sono sem coceiras e outros incômodos.
Tratamentos para dermatite atópica exigem cuidado integral, alerta médico Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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