quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Brasileiros têm 2,5% de DNA neandertal no genoma

A relação entre Homo sapiens e Homo neanderthalensis sempre foi motivo de disputa científica. Durante muito tempo, acreditava-se que os neandertais eram uma espécie completamente distinta e até inferior aos sapiens. Agora, graças a uma enxurrada de novas pesquisas, sabemos que esse não é o caso.

Os neandertais não só tinham hábitos e técnicas semelhantes às nossas, como também mantinham relações com nossos antepassados – relações mais do que amistosas. A reprodução entre essas duas espécies fez com que elas trocassem genes entre si, e agora, uma parcela do seu DNA é um “DNA neandertal”.

Desde 2010, quando foi montado o primeiro genoma neandertal completo a partir dos ossos de três fêmeas de 40 mil anos atrás, os pesquisadores sabem que compartilhamos DNA com esses indivíduos. Mas cada pessoa pode ter mais ou menos dessa parcela.

Isso contraria também uma ideia equivocada, mas muito comum, de que os neandertais e os sapiens eram duas espécies totalmente diferentes. Se assim fosse, não poderiam gerar descendentes férteis (exemplo: as mulas e burros, que são filhos de éguas com jumentos, são inférteis). Agora, ambos são entendidos como uma possível subespécie que possuía vínculo genético suficiente para ter filhos que podiam ter filhos também.

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Os povos da Europa, Ásia, América e Oceania têm cerca de 2% de seu DNA formado pela parte neandertal. Para africanos é menos, cerca de 0,5%. Os neandertais já viviam na Eurásia, e só começaram a cruzar com sapiens depois que alguns deles migraram para a região. Quando esses hominídeos migrantes se dispersaram para o resto do mundo, levaram consigo os resquícios neandertais em seus genes.

Uma análise do laboratório Genera, feita com 200 mil brasileiros, afirma que temos, em média, 2,5% de DNA neandertal em nosso próprio código genético. Eles analisaram 600 mil pontos do genoma dos envolvidos e compararam com o genoma neandertal em busca de pontos em comum.

O serviço faz parte de um painel realizado pelo laboratório; pagando determinado valor, a pessoa tem acesso a essas e outras informações sobre seu próprio código genético.

Os dados foram retirados de assinantes do serviço que, por consequência, têm maior poder aquisitivo, e média de idade entre 25 e 45 anos. “No fim, a gente fez uma estimativa baseada na nossa base de dados”, afirma Ricardo di Lazzaro, mestre em genética e cofundador da Genera. “Então não foi um estudo para ser necessariamente representativo da população brasileira, e sim, um levantamento com o maior número de pessoas.”

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Mesmo assim, a Genera tem a maior base de dados genômicos do país, então esses números podem ser um bom indicativo de uma tendência nacional.

O DNA neandertal não é só um enfeite no seu código genético. Ele é responsável por algumas características importantes do seu fenótipo – desde aspectos físicos, como altura e formato do nariz, até resistências naturais a vírus, fungos, bactérias e propensão a anemia.

Para Di Lazzaro, é importante entender e desmistificar a imagem do neandertal. Muitas vezes retratado como uma figura extremamente primitiva e retrógrada perto do Homo sapiens, ele também tinha sociedades complexas e técnicas comparáveis às de seus parentes.

“Ajuda um pouco também a quebrar algumas imagens do ser humano como superior, e mostrar que a gente, como todos as outras espécies, tivemos diferenças, tivemos subespécie, tivemos cruzamentos. A gente, como qualquer outro ser vivo, faz parte desse processo biológico evolucionário”, afirma.

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