domingo, 31 de janeiro de 2021

Astrônomos criam “balança cósmica” para pesar aglomerados de galáxias

Uma equipe formada por pesquisadores do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, e do Fermilab, nos EUA, desenvolveu uma “balança cósmica” para medir a massa de aglomerados de galáxias – que são algumas das maiores estruturas do Universo.

O novo método usa a luz de estrelas desgarradas – ou seja, que não pertencem a nenhuma galáxia e se encontram sozinhas no espaço entre elas – para calcular a distribuição de massa nos aglomerados (o que inclui a massa indetectável correspondente à matéria escura). 

Aglomerados de galáxias são as maiores estruturas conectadas pela gravidade no Universo. Medir sua massa é uma missão importante para várias empreitadas na astrofísica, mas não é brincadeira – até porque é difícil determinar onde um aglomerado começa e onde termina.

Os astrônomos envolvidos participam do Dark Energy Survey (ao pé da letra, “levantamento da energia escura”), uma colaboração internacional que utiliza um telescópio de 4 m de diâmetro localizado no Chile, equipado com uma câmera de 570 megapixels, a DECam.

(Você pode conhecer melhor o DES e sua super câmera lendo o perfil da astrofísica capixaba Marcelle Soares-Santos aqui na Super. Ela é uma peça-chave desse projeto.) 

Inicialmente, a equipe estava estudando a chamada luz intra-aglomerado (ICL, na sigla em inglês): um tipo de luz muito tênue que vem do interior dos aglomerados de galáxias. Essa luz é gerada pelas estrelas desgarradas – aqueles sóis já mencionados que não pertencem a nenhuma galáxia e flutuam livremente pelo espaço intergaláctico.

O mais provável é que essas estrelas tenham ido parar fora das galáxias devido às interações gravitacionais entre elas. “As galáxias estão em movimento no aglomerado de galáxias”, explica Ricardo Ogando, astrofísico do Observatório Nacional que liderou o estudo. 

“Volta e meia essas galáxias passam muito perto uma da outra e, então, uma galáxia “arranca” uma estrela uma da outra através de um puxão gravitacional. Assim, elas ficam soltas no espaço entre galáxias”. 

(Algumas hipóteses propõem que essas estrelas possam se formar já separadas de galáxias, mas esse é um cenário menos provável.)

No novo estudo, os pesquisadores revelam a medição mais detalhada da ICL já publicada. Além de considerar mais de 500 aglomerados, eles incluiram medições de regiões distantes dos centros dos aglomerados, onde a luz das estrelas desgarradas tende a se concentrar e, portanto, é mais fácil (ou um pouco menos difícil) medir a ICL.

Pesando galáxias por meio da luz

O estudo, publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, deu um passo além. Após medir a intensidade e a distribuição da luz intra-aglomerado, os pesquisadores mediram a distribuição da massa nesses aglomerados usando um método chamado lentes gravitacionais.

O método funciona assim: todas as coisas com massa afundam o tecido espaço-tempo – de maneira similiar à que você afunda o sofá quando senta. Quanto maior a massa, maior a distorção.

Quando a luz que vem de um ponto distante passa pelo meio de um aglomerado de galáxias, sua trajetória é alterada por essa vala que o aglomerado forma na trama do cosmos. A intensidade e as características dessa distorção permitem calcular a distribuição da massa.

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Depois, os astrônomos compararam a distribuição da massa, calculada com as lentes gravitacionais, com a distribuição radial da luz das estrelas solitárias, a LIC. Distribuição radial se refere a maneira como quantidade de ICL varia do centro do alglomerado para as pontas (radial vem de “raio”, o raio de uma esfera).

Os resultados mostraram que há uma relação bastante próxima entre esses dois dados. Ou seja: dá pra “pesar” um aglomerado de galáxias e estimar a distribuição de sua massa a partir da observação da luz emitida por suas estrelas solitárias.

O mais interessante é que esse relação vale tanto para a matéria comum – aquela formada por átomos e partículas que conhecemos bem – como para a matéria escura, uma forma enigmática e fantasmagórica de matéria que é indectável por quaisquer meios conhecidos.

Sabemos que a matéria bariônica – aquela que forma você, um grão de arroz, o Sol e tudo mais que conhecemos – equivale a só 15% de toda a massa do Universo. Os outro 85% são formados pela matéria escura.

Só sabemos que a matéria escura existe por causa dos seus efeitos gravitacionais – como curvar o espaço-tempo e alterar a trajetória de raios de luz, por exemplo.

O novo método criado pela equipe ajuda a entender como ela se distribui pelos aglomerados de galáxias e pode dar pistas para desvendar o mistério desse componente invisível que nos cerca.

A “balança” baseada em luz criada pelos pesquisadores não é o primeiro método para pesar aglomerados de galáxia nem para estimar a distribuição de matéria escura em seu interior. O problema é que os métodos atuais são caros, complexos e nem sempre precisos. A combinação de várias técnicas ajuda a aumentar a precisão desses estudos.

O outro mistério

A medição da massa desses aglomerados também é importante para desvendar um outro mistério – que, apesar do nome parecido, é bem diferente matéria escura: a energia escura.

Essa energia desconhecida é, de longe, a protagonista da composição do Universo – forma 68% do conteúdo total de massa e energia do cosmos, enquanto a matéria escura corresponde a 27%, e a matéria que conhecemos equivale a apenas 5%.

Ninguém sabe ao certo o que essa energia é, mas sabemos que ela é a responsável pelo fenômeno da expansão acelerada do Universo. “De certa forma, [a energia escura] tende a afastar as coisas”, explica Ogando. Ela fica em um eterno cabo de guerra com a gravidade, que quer tudo juntinho. 

A força da gravidade é uma força interativa, então ela formas estrelas, forma galáxias e forma os aglomerados de galáxias. A gente pode calcular essa disputa entre energia escura, que está expandindo no Universo de forma acelerada, e a gravidade, que está aglomerando coisas. Fazemos isso olhando os aglomerados.”

Os algomerados são estruturas imensas. Eles estão sujeitos à gravidade de seus componentes, que tende a mantê-los unidos. Mas também estão sujeitos à expansão do Universo, que tenta separá-los.

“Se a energia escura estiver ganhando, a tendência é que se formem menos aglomerados, ou aglomerados menos massivos”, diz Ogando. Por outro lado, “se a gravidade estiver ganhando essa disputa, há uma tendência de que se formem mais aglomerados, e que eles sejam mais massivos.” 

Assim, métodos confiáveis para calcular a massa dos aglomerados não são importantes apenas para estudar os algomerados em si, mas para responder a algumas questões centrais da cosmologia: por que o cosmos se expande? À que taxa, exatamente, essa expansão acontece? Ela continuará para sempre?

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sábado, 30 de janeiro de 2021

Como as lideranças podem cuidar da saúde mental dos seus colaboradores

A saúde mental nunca esteve tão em alta. Após um ano marcado pela maior crise sanitária do século, vimos crescer consideravelmente a procura por soluções completas para suprir não só o cuidado com a saúde física, mas, principalmente, com a mental e a emocional.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no planeta. Estamos falando de 9,3% da população, o equivalente a mais de 18 milhões de brasileiros que convivem com a ansiedade.

Infelizmente, falar sobre saúde mental ainda é um tabu, especialmente no ambiente corporativo que, muitas vezes, é marcado por pressões, estresse, sobrecarga e insegurança. E o isolamento social, acompanhado das incertezas econômicas, trouxe diversos impactos negativos nesse sentido.

Uma pesquisa do International Stress Management Association (ISMA) revelou que nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apresentaram sintomas de ansiedade e 47% deles tiveram sinais de depressão em algum nível. De acordo com Luciene Bandeira, cofundadora da Psicologia Viva, uma das principais parceiras do Gympass com foco em saúde mental, a procura pelo cuidado com a mente cresceu 1 750% após a pandemia se comparado com os primeiros meses de 2020.

Apesar do aumento expressivo, poucas são as empresas que, de fato, estão proporcionando soluções para que seus colaboradores consigam cuidar da saúde mental. Segundo pesquisa conduzida com exclusividade pela Propeller Insights para o Gympass no ano passado, 57,5% dos empregadores não oferecem nenhum benefício do tipo.

Tal descuido é responsável por gerar diversos problemas para as próprias empresas. De acordo com Rodrigo Roncaglio, cofundador do Guia da Alma, plataforma de terapias holísticas e também parceiro do Gympass, entre os principais agravantes estão a diminuição da capacidade de atenção e concentração, a sensação de inutilidade, a desmotivação, a diminuição do prazer e do ânimo para atividades cotidianas, a perda da capacidade de planejar o futuro e a redução do rendimento e a baixa produtividade.

Hoje, o contexto do home office é a oportunidade ideal para que líderes experimentem e adotem mudanças efetivas que trarão um impacto positivo e duradouro para todo o seu entorno. A seguir, trago três passos que todo líder deveria cumprir para conseguir demonstrar empatia e ajudar seus colaboradores a terem uma relação mais saudável consigo mesmo (física e mentalmente).

Identifique o problema e mantenha as portas abertas

Nem todo mundo consegue lidar tão bem com a pandemia e os desafios que ela traz consigo. Muitos perderam pessoas próximas; outros tiveram que aprender novas dinâmicas de trabalho que passaram a mesclar o profissional com a vida pessoal. Nesse contexto, é muito importante saber defender esse equilíbrio, ser um exemplo de autocuidado e eliminar qualquer tipo de estigma que faça com que seu colaborador não se sinta confortável de falar abertamente com você sobre estresse, frustrações, expectativas e ansiedades.

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Segundo Luciene, para identificar alguma mudança emocional em você ou em um colega de trabalho, é preciso ficar atento a alguns sintomas, como excesso de preocupações; pensamentos frequentes sobre questões a serem resolvidas ou pendências que envolvam a vida pessoal ou profissional; dificuldades para assimilar informações e lidar com tudo à sua volta; incapacidade de se sentir à vontade ou fazer coisas que possam gerar bem-estar, bem como administrar as rotinas de trabalho, sono e alimentação.

Reaja e ponha em prática as soluções

Segundo especialistas do Wellness Orbit, mesmo pessoas que sofrem com problemas psicológicos e emocionais nem sempre colocam a saúde mental como prioridade. No ambiente corporativo, é papel das empresas proporcionar novas e convincentes propostas para um estilo de vida diferente. Seja você o precursor dessas mudanças.

Reforce a importância da atividade física, traga dados científicos, organize atividades em grupo e transforme ideias em hábitos, criando assim uma cultura interna de bem-estar que envolva todo o seu time.

Algumas sugestões do Guia da Alma são: proporcionar aulas de mindfulness e ioga para aliviar a ansiedade e o estresse, melhorar a concentração, a produtividade e o foco; trazer palestras sobre autoconhecimento e bem-estar, com dicas e exercícios práticos sobre como ter uma rotina saudável, pessoal e profissional; e promover sessões individuais de terapias holísticas e integrativas.

Reforce a importância dos esforços coletivos

Uma gestão fraca contribui para o surgimento dos principais sintomas do burnout no ambiente corporativo. Dados da Gallup mostram que as principais causas disso são: tratamento injusto no trabalho; incapacidade de administrar a carga de tarefas; comunicação pouco clara; falta de apoio e pressão indevida sobre prazos. Além do mais, a pandemia da Covid-19 trouxe consigo agravantes, como horas de trabalho pouco saudáveis, falta de interação social, liderança tóxica e controladora e novas demandas domésticas e familiares.

Todas as empresas com altos índices de burnout tem três aspectos em comum: colaboração excessiva, má administração do tempo e tendência a sobrecarregar os mais capazes. Por isso, elogie seus funcionários no dia a dia; empodere sua equipe; dê voz a cada pessoa; reconheça todos os esforços de forma clara, independente e genuína; e, por fim, procure ajuda de parceiros que saibam como auxiliar nessa jornada.

2020 foi o ano em que todos aprendemos que nossa saúde física e mental é o ingrediente mais importante para a estabilidade e o bem-estar no âmbito pessoal e profissional. 2021 será o ano em que passaremos da reação para a construção de uma estratégia de longo prazo que atenda à necessidade de resiliência física e emocional. Vamos juntos nessa?

* Priscila Siqueira é CEO Brasil do Gympass

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Púrpura tíria, o pigmento roxo que fedia a peixe e valia seu peso em ouro

A velha roupa colorida de Belchior pode até não servir mais. Mas se ela for velha mesmo – e colorida em um tom púrpura extremamente brilhante –, talvez renda uma bela supresa financeira no brechó. 

O pigmento mais caro da Antiguidade, chamado “púrpura tíria”, chegou a valer seu peso em prata (ou até ouro, segundo algumas fontes). O nome vem da cidade de Tíria, no atual território da Líbia, na época dominada pelos fenícios – o povo famoso pela fabricação desse cobiçado roxo. De fato, uma explicação etimológica possível para o nome “Fenícia” é que ele venha do grego para “roxo”. 

Vestes dessa cor, não por coincidência, eram a marca registrada da corte romana – nos tempos de vacas magras, quando Roma já estava em colapso econômico, só o imperador em si era autorizado a usá-las. Assim, a cor púrpura se tornou sinônimo de realeza nos séculos subsequentes. 

Ter uma roupa de qualquer cor que não fosse a própria cor do tecido foi um luxo pela maior parte da história da civilização. Obter as tinturas de matérias-primas naturais, sem nenhum conhecimento teórico de química, era uma tarefa dificílima – e isso se refletia no preço das peças tingidas.

A púrpura tíria era extaída de uma secreção mucosa produzida pelas glândulas de diversos moluscos que habitam a porção oriental do Mediterrâneo. Eram necessários milhares de bichinhos para produzir uma quantidade pequena da tintura. As glândulas se decompunham em enormes tanques e exalavam um cheiro de peixe podre tão insuportável que se tornou uma questão constitucional.

O Talmude, um livro sagrado que contém leis e costumes dos judeus, garante o direito a divórcio das mulheres cujos maridos trabalham em tinturarias, pois as mãos destes homens adquirem um cheiro permanente de frutos do mar estragados.

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Agora, há uma evidência arqueológica do uso desse tecido pela elite do reino de Israel na época narrada pelo Antigo Testamento. Três fiapos de tecido roxo datados da época do reino de David, por volta de 1000 a.C., foram escavados no Vale de Timna, em Israel. Você vê um deles na imagem que abre o texto.

“É um período muito antigo para encontrar esse roxo em uso, e a localização é muito estranha”, explicou o professor Erez Ben-Yosef, da Universidade de Tel Aviv, ao jornal The Times de Israel. “O tecido estava no meio do deserto, onde não se pensava, tradicionalmente, que esses materiais de prestígio eram usados.”

Até então, a evidência arqueológica mais antiga do uso de púrpura tíria vinha de Roma, um milênio mais tarde.

Em artigo publicado no periódico PLOS One, os isaralenses descrevem ainda uma recriação, em laboratório, do processo de fabricação do pigmento. Eles buscaram os moluscos necessários em mercados de peixe fresco na Itália, e os enviaram refrigerados a Israel.

Cada glândula contém apenas um grama do pigmento, de forma que milhares de bichinhos são necessários para a fabricação de uma quantidade razoável. “Foi um trabalho muito duro, é bem fedido”, resumiu o professor Zohar Amar, que passou semanas com as mãos azuis. Agora é torcer para o cheiro sair de suas mãos e a esposa dele não pedir divórcio.

 

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Paula Freire analisa RNA para entender por que homens reagem pior à covid-19

Homens e mulheres respondem de forma diferente ao coronavírus. Eles têm mais chances de sofrer complicações graves, enquanto o sistema imunológico delas reage melhor à infecção. Além de serem as principais vítimas fatais da doença, os homens têm até três vezes mais chances de acabar na UTI.

Os pesquisadores ainda estão estudando as razões para isso, mas já temos algumas pistas. Uma das explicações para o fenômeno pode ser a reação exacerbada do sistema imunológico ao vírus, que acaba lesionando os órgãos do paciente.

As mulheres conseguem dar uma segurada nesse contra-ataque porque convocam menos neutrófilos para a batalha – um tipo de célula de defesa que, em excesso, danifica tecidos inocentes.

A geneticista Paula Freire, da Universidade de São Paulo (USP), percebeu essa diferença quando analisava bases de dados de pacientes que contraíram covid-19. Seu objetivo inicial não era comparar a reação de homens e mulheres à doença, mas esse foi o recorte que mais lhe chamou a atenção.

Em suas análises, Paula olha para o transcriptoma nas amostras dos pacientes. Transcriptoma? Calma que vamos explicar.

O DNA geralmente é descrito como o “manual de instruções” do organismo. Ele dá a receita para montar todas as proteínas que formam você – das enzimas que digerem a comida à queratina dos cabelos e unhas. Acontece que o DNA, sozinho, não faz muita coisa: fica guardado no núcleo da célula, distante do chão de fábrica. 

É por isso que existe um garoto de recados chamado RNA mensageiro (RNAm). É a molécula que entra no núcleo da célula, coleta as instruções e leva elas para estruturas chamadas ribossomos, onde as proteínas serão de fato fabricadas. É como se a célula fosse uma multinacional, com sede no núcleo e indústrias no citoplasma. A coleta de instruções se chama transcrição.

Esse processo ocorre dentro de todas as células: pulmão, fígado, coração… Cada uma delas tem uma cópia completa do genoma no núcleo. Mas elas só precisam expressar alguns dos genes: os que geram as proteínas necessárias para as funções que elas desempenham. Nem todo gene é usado por toda célula. 

Se tirássemos uma “foto” do que acontece dentro da célula, a cada momento veríamos quantidades diferentes desses RNAs mensageiros. Isso porque o processo de transcrição é influenciado por dezenas de milhares de outras moléculas. 

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“Na biologia, a gente costuma dizer que não conhece nem 5% do que acontece dentro da célula”, diz Paula. Por isso, mesmo que um gene codifique a mesma proteína em duas pessoas, a expressão dele pode ser diferente em cada uma delas.

Na prática, essas “fotos” são o sequenciamento do transcriptoma – o perfil de todos os RNAs mensageiros em uma amostra. Pesquisadores ao redor do mundo têm analisado as transcrições que circulam nas células do epitélio nasal de pessoas com covid-19. Os resultados são publicados em bases de dados online, junto com a idade, sexo e outras informações do paciente.

Foi com essas informações que Paula comparou o perfil imunológico de homens e mulheres. O “manual de instruções” (os genes) pode até ser igual nos dois sexos, mas isso não significa que ele é lido da mesma forma.

É como se os homens lessem esse manual desesperados, gerando uma reação bioquímica em cadeia que chama todos os neutrófilos possíveis. Já as mulheres conseguem dosar melhor a leitura, modulando a quantidade de células de defesa.

A análise da covid-19 é apenas o estudo mais recente feito pela geneticista. Ela também se interessa em olhar para o transcriptoma de pessoas com caquexia – que é a perda de peso, gordura e músculos, principalmente em pacientes com câncer.

A caquexia também é resultado dessa resposta imune exacerbada ao invasor (o tumor). Nesse caso, as mulheres também levam vantagem por conseguirem modular melhor o sistema imune.

Uma das hipóteses para explicar o refinamento imunológico feminino é a gravidez. A mulher consegue carregar um corpo estranho dentro de si por nove meses sem que o seu organismo ataque o feto, como acontece no caso de um vírus. Por isso, seu sistema imune pode ter evoluído para ser mais controlado do que o do homem.

Paula acabou seguindo para a área da análise de dados porque não conseguiu verba para seu projeto de doutorado, que envolvia pesquisa em laboratório. É mais barato analisar dados já disponíveis do que coletá-los do zero. A vantagem foi que a pesquisadora aprendeu a utilizar ferramentas de biologia computacional – o que foi essencial para o estudo da covid-19, por exemplo. 

No entanto, ela pretende voltar para a bancada do laboratório, levando essa bagagem de análise de dados. O próximo passo será coletar amostras de pacientes brasileiros para validar o que foi observado nos bancos de dados internacionais.

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Na América, macacos daltônicos saíram na vantagem na seleção natural

Nossas retinas têm células receptoras chamadas cones, e cada um deles se especializa em uma cor: vermelho, verde e azul. Essas cores correspondem a ondas eletromagnéticas de comprimento longo, médio e curto dentro do espectro visível. A maioria das pessoas possui os três tipos de cones. Por causa disso, elas são chamadas de tricromatas. Mas há quem tenha apenas dois tipos de receptores, o que gera dificuldade em distinguir cores. Essas pessoas são denominadas dicromatas, mas o mais comum é se referir a elas como daltônicas

O daltonismo não é uma exclusividade dos seres humanos. Outros animais tricomatas, como os primatas não humanos, também podem manifestar um cone a menos. No Velho Mundo – termo que se refere à Europa, Ásia e África –, todos os macacos, independentemente de espécie ou do sexo, são tricromatas. Por outro lado, no Novo Mundo (termo que se refere às Américas), existem espécies em que as fêmeas possuem visão normal, mas quase todos os machos são daltônicos. 

Para um ser humano, a visão tricromata evidentemente é uma vantagem adaptativa – é só pensar nas cores do semáforo, que os motoristas daltônicos só conseguem identificar porque são empilhadas em uma ordem fixa. Na pré-história, diferenciar cores poderia ser uma questão de vida ou morte.  

Mas e no caso dos macacos? O que teria levado os primatas americanos machos a serem predominantemente dicromatas? Será que eles obtém alguma vantagem adaptativa com o daltonismo, em vez de desvantagem – e é por isso que essa característica se espalhou entre eles? Ou será que o daltonismo não afeta tanto as chances de sobrevivência porque existem alguma diferença na maneira como ocorre a predação nas Américas?

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) decidiu investigar esse mistério. O primeiro passo foi partir da hipótese de que a baixa incidência do daltonismo em nós está relacionada à susceptibilidade dos indivíduos à predação. Macacos e humanos com a percepção das cores prejudicada teriam dificuldade em identificar predadores na natureza, o que os tornaria um jantar mais vulnerável para grandes mamíferos carnívoros. 

Para comprovar essa hipótese, os pesquisadores resolveram testaram o tempo que seres humanos levam para identificar predadores na natureza – e a precisão deles na tarefa. Calma, nenhum voluntário virou comida durante o teste. Os pesquisadores tiraram fotos de animais fake na Mata Atlântica e no Cerrado e depois apresentaram as imagens a pessoas daltônicas e não daltônicas. O estudo foi publicado no periódico American Journal of Primatology.

Cada voluntário foi apresentado a quatro fotografias, que apareciam simultaneamente na tela do computador. Uma das imagens continha um animal camuflado; as outras três contavam apenas com vegetação. Como esperado pelos cientistas, os humanos tricromatas conseguiam ver o predador mais rápido e acertavam a foto com mais frequência.

Daniel Pessoa, co-autor do estudo, explicou a importância destes fatores: “se um macaco está no meio do mato comendo e enxerga o predador, ele pode dar o grito de alarme para deixar todo o resto atento e já se proteger. Alguns segundos já são vantajosos neste tipo de situação”.

 

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Permanece, então, aquela dúvida: se a predação é mesmo uma razão importante para a manutenção do tricromatismo, por que há tantos animais dicromatas no Novo Mundo?

Podemos começar com uma sugestão. Nos primórdios da humanidade, o daltonismo evidentemente era uma característica que gerava dificuldades. Mas, conforme os humanos passaram a viver em grupos organizados, a ameaça dos predadores diminuiu e houve um afrouxamento da seleção natural contra essa característica. Não fazia mais tanta diferença assim ter ou não todos os receptores. Algo parecido pode ter ocorrido com os macacos.

No Velho Mundo, os primatas precisavam dividir espaço com felinos, crocodilos e outros predadores de grande porte. Para lidar com isso, os animais não apenas foram ficando maiores como houve uma forte pressão seletiva para que predominassem tricromatas na população – os daltônicos morriam com mais frequência. A visão das cores ajudava não só a fugir dos predadores, como também a identificar frutas e folhas adequadas para a alimentação.

Já no Novo Mundo, há macacos que não precisam fugir tão ativamente da predação. Além disso, alguns encontraram vantagens no dicromatismo. Apesar da condição dificultar a identificação de predadores como gato-do-mato, furão e puma – que foram usados nos testes com fotos mencionados anteriormente –, ela facilita na hora de enxergar insetos na natureza. 

Macacos menores, de até cinco quilos, se alimentam desses bichinhos, o que torna o problema uma vantagem para algumas espécies. Até existem macacos maiores que apresentam o daltonismo, mas eles vivem na copa das árvores e geralmente são grandes demais para serem predados até mesmo pelas maiores aves de rapina. O tricromatismo, embora sempre útil, não apresentaria grandes vantagens na seleção natural, já que eles não correm tanto risco assim. 

Você deve estar se perguntando: “Por que os macacos enxergam bem os insetos e não os predadores?”

A resposta está na camuflagem. Os animais considerados na pesquisa pelos cientistas eram todos carnívoros, e sua pelagem evoluiu para enganar os mamíferos de pequeno porte que eles caçam. E embora o tricromatismo seja comum em primatas, o dicromatismo é bem mais comum nos mamíferos em geral. Isso torna uma onça, por exemplo, bem menos chamativa para uma cotia do que é para um ser humano tricromata. 

Os insetos, por sua vez, são presas fáceis de aves – que possuem uma visão excepcional para cores. Então, a camuflagem deles foca mais em padrões que enganem os tricromatas – mas que podem ser, paradoxalmente, mais suscetíveis aos dicromatas. A desvantagem se converte em vantagem. 

Nos próximos passos da pesquisa, os cientistas querem analisar dados de serpentes, que geralmente são predadas por aves de rapina. As cobras são como os insetos: não evoluíram para enganar mamíferos. Isso significa que os daltônicos talvez tenham vantagem na hora de identificá-las. “Se você enxerga cores muito bem, você não enxerga padrões e bordas com facilidade. Agora, se você não enxerga cores muito bem, você consegue utilizar seu processamento para enxergar as bordas melhor”, diz Daniel Pessoa. 

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Novavax e Johnson anunciam eficácia de suas vacinas: 89,3% e 66%, respecivamente

Duas farmacêuticas relataram nesta semana que suas candidatas a vacina contra a covid-19 tiveram boa eficácia em testes clínicos finais. A primeira foi a Novavax, que anunciou ontem (28) que seu imunizante tem 89,3% de eficácia; hoje, a Janssen – que pertence à Johnson & Johnson –, revelou que o número é de 66% para o seu produto. O minímo recomendado pela OMS é de 50%.

A Novavax, farmacêutica norte-americana, calculou a eficácia com base em dados de mais de 15 mil voluntários do Reino Unido que tem 18 e 84 anos. Desse total, 62 pessoas tiveram infecções sintomáticas de Covid-19 – 56 no grupo placebo e somente 6 no grupo de pessoas vacinadas.

Os resultados são ainda mais promissores se considerarmos que 50% dos casos de covid-19 verificados no estudo foram identificados como sendo causados pela variante B.1.1.7 – que surgiu no Reino Unido no ano passado e parece ser mais transmissível e, possivelmente, mais letal. Havia um temor de que a vacina pudesse não ser tão eficaz contra essa variante.

Outro ponto positivo é que 27% dos voluntários britânicos tinham mais do que 65 anos. Algumas outras vacinas já aprovadas para uso não incluíram tantos idosos em seus testes clínicos e, por isso, há preocupações sobre sua real eficácia nessa população – que é mais frágil e tem um sistema imunológico menos turbinado. Para completar, a empresa não verficiou efeitos colaterais graves em nenhuma faixa etária.

Há apenas uma preocupação: a Novavax também concluiu um estudo menor com voluntários na África do Sul, onde uma outra variante, denominada 501.V2, foi responsável por 90% dos casos. Lá, entre os mais de 4.400 voluntários, houve 29 casos de covid-19 diagnosticados no grupo placebo e 15 no grupo dos vacinados – o que resulta em uma eficácia de 60%. É um bom número para frear o avanço brutal da pandemia, mas chama a atenção por ser bem menor que os 89% do estudo feito no Reino Unido.

Isso é sinal de que a mutação amplamente espalhada na África do Sul é de mais difícil combate por causa de uma mutação conhecida pelo código E484K. Cientistas já haviam especulado que essa mudança no genoma do vírus pudesse facilitar sua fuga da resposta imune do corpo – o que poderia ter um impacto relevante na vacinação. No entanto, não está provado se esse fenômeno realmente acontece. Mesmo assim, a vacina da Novavax, apesar da eficácia menor contra essa mutação, ainda estaria dentro dos parâmetros de eficácia desejados.

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Já a Johnson & Johnson calculou seus dados com base em mais de 43 mil participantes pelo mundo, entre os quais 468 tiveram Covid-19 sintomática. Em geral, a vacina teve 66% de eficácia em prevenir casos moderados e severos de covid-19 28 dias após a vacinação. Os resultados foram consistentes entre diferentes etnias e idades dos participantes, que incluíram um bom número de voluntários idosos.

Houve variações regionais, porém: o nível de proteção contra infecções moderadas e graves foi de 72% nos Estados Unidos, 66% na América Latina e 57% na África do Sul após o mesmo período. Assim como no caso da Novavax, destaca-se a queda de eficácia na África do Sul, potencialmente por causa da variante mais elusiva do vírus, já que 95% dos casos de covid-19 identificados em voluntários no país são causados por essa linhagem.

Você pode ter notado que a gigante farmacêutica divulgou seus dados apenas sobre casos “severos e moderados”. Consideram-se “moderados” os pacientes que apresentaram dois sintomas clássicos da covid-19 ou apenas um sintoma mais grave, como pneumonia ou falta de ar; e “severos” aqueles que precisaram de internação na UTI.

Esse critério é parecido com o usado pelo Instituto Butantan para calcular que a Coronavac é 78% eficaz em reduzir casos moderados da doença (contra os 50% para prevenir todos os casos, incluindo leves). No caso da Johnson, em todas as regiões estudadas a eficácia em se prevenir casos severos da doença foi de 85%, sendo que não houve nenhum voluntário que desenvolveu esse quadro após 49 dias da vacinação.

Os resultados reforçam a ideia de que essa vacina, assim como outras, é bastante eficaz em impedir a progressão da doença para casos mais graves, um objetivo importante considerando o número de mortes no mundo e a pressão sobre os sistemas hospitalares. Ainda não sabemos o quanto essa vacina (e também outras) é boa em impedir a infecção em si, já que os resultados foram divulgados apenas em um comunicado à imprensa, e o estudo não foi publicado em detalhes ainda.

A vacina da Janssen, porém, continua tendo duas vantagens. A primeira é que, diferentemente das outras vacinas aprovadas para uso até então, ela foi testada em regime de uma única dose – o que facilitaria o processo de produção, distribuição e aplicação do imunizante. A outra vantagem é que ela incluiu voluntários brasileiros em seus testes – uma exigência da Anvisa para que as vacinas sejam aprovadas por aqui. Ou seja, é uma boa opção para ser comprada e aplicada por aqui.

O imunizante da Johnson & Johnson se baseia na tecnologia de vetor viral – a mesma usada pela vacina da Oxford/Astrazeneca, em que um outro vírus inofensivo carrega um pedacinho do Sars-CoV-2 consigo – e pode ser armazenada em geladeiras normais (com temperaturas entre 2º C e 8º C) por até três meses. Já a vacina da Novavax é de proteína, ou seja: carrega só um pedacinho do coronavírus para dentro do nosso corpo (um antígeno) para ensinar nosso sistema imunológico a lutar contra ele. Ela também pode ser armazenada em temperatura de geladeira.

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Os cupins desenvolveram a vacinação – e a praticam sem reclamar

O texto é dos convidados Ives Haifig, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), e Luiza Helena Bueno da Silva, doutoranda pelo programa de pós-graduação Evolução e Diversidade da UFABC. Ambos são colaboradores do Wikitermes, site de divulgação científica sobre cupins – onde o texto foi originalmente publicado. Acesse o site ou siga as redes sociais (Facebook e Instagram).

Os cupins às vezes são uma dor de cabeça, mas eles também precisam lidar com suas próprias dores de cabeça: exatamente como os seres humanos, estão sujeitos a bactérias, fungos e vírus, que podem causar diversas doenças.

O problema é que as sociedades desses insetos, exatamente como as nossas, funcionam na base da aglomeração. Em um cupinzeiro, milhares de insetos convivem próximos fisicamente e mantêm contato social constante entre si. Se um patógeno se transmite com facilidade entre indivíduos, a epidemia pode dizimar a colônia rapidamente.

Surtos, porém, são raros nos cupinzeiros. Não por falta de vontade dos patógenos – mas graças aos vários mecanismos de defesa contra agentes infecciosos que esses insetos desenvolveram. Um deles é semelhante à nossa vacinação.

Você já deve ter lido essa explicação por aí com alguma frequência por causa da pandemia de covid-19. Mas vamos repeti-la mesmo assim. Há essencialmente três métodos para fabricar uma vacina: usar um pedacinho do patógeno, uma versão morta do patógeno ou uma versão inativada do patógeno – para não falar em vacinas mais recentes, como as de RNA, que funcionam por um mecanismo mais sofisticado. Entenda aqui.

<span class="hidden">–</span>Tiago Carrijo/Reprodução

Em todos os casos, a ideia é que o corpo passe a reconhecer o micróbio como corpo estranho. Ou melhor: um pedacinho do micróbio, que pode ser uma proteína ou um açúcar específico em sua superfície e serve para identificá-lo. Esse pedacinho-chave para a detecção ganha o nome de antígeno. E ao antígeno que os anticorpos vão aderir. 

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Quando tomamos uma vacina antiviral, por exemplo, somos expostos a uma versão modificada do vírus – que não nos causa os sintomas da doença, mas possibilita que nosso sistema imunológico identifique o agente infeccioso por meio de um antígeno e forme uma memória imune. Assim, quando tivermos contato com o vírus real, nosso organismo saberá responder da forma mais rápida e eficiente, prevenindo a manifestação da doença.

A “vacina” dos cupins funciona quando um indivíduo contaminado transfere para seus companheiros de ninho uma dose bem pequena do patógeno que ele carrega. Isso acontece por meio do hábito rotineiro de limpeza mútua que esses insetos sociais possuem. Os cupins que tiveram esse contato apresentam uma infecção de baixa intensidade, sem apresentar sintomas da doença – mas desenvolvem uma proteção que os torna menos suscetíveis caso tenham contato novamente com o mesmo patógeno. Ou seja: se imunizam. 

No cupinzeiro, as “campanhas de vacinação” têm o mesmo objetivo que aqui na sociedade humana: alcançar a imunidade social. Ela ocorre quando há uma grande proporção de cupins imunizados em uma colônia, e isso corta as rotas do vírus conforme ele tenta “pular” de pessoa em pessoa. Observe as duas ilustrações abaixo – a segunda mostra como os insetos imunizados barram a proliferação do patógeno. 

<span class="hidden">–</span>Arte/Superinteressante
<span class="hidden">–</span>Arte/Superinteressante

Esse fenômeno é conhecido como imunidade coletiva ou “imunidade de rebanho”.  O mesmo vale para as doenças que afligem humanos. Quando há muitas pessoas vacinadas, a propagação da doença diminui na população, beneficiando todos os membros do grupo. Assim, as vacinas não apenas evitam que os indivíduos vacinados contraiam doenças infecciosas – a imunização individual –, mas também beneficiam os membros do grupo não imunizados por meio da imunidade coletiva (a imunização social).

É importante lembrar que, em suas colônias, os cupins adotam ainda outras medidas para evitar a transmissão de doenças entre si. O senso de coletividade desses insetos inclui evitar locais infestados, avisar os companheiros de ninho quando se está doente e usar substâncias antissépticas. Todas lições que alguns de nós, Homo sapiens, ainda não colocamos em prática após um ano de pandemia – mas deveríamos, o mais rápido possível. 

Este é o segundo post do blog Bzzzzz, em que pesquisadores membros do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) e outros cientistas colaboradores vão comentar a vida, os hábitos e a importância econômica de diversos insetos – além de nos atualizar sobre as mais recentes descobertas no campo desses pequenos artrópodes. Até a próxima!

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Afinal, seria o coronavírus capaz de curar o câncer?

Um estudo de caso publicado recentemente pelo periódico científico British Journal of Hematology chamou a atenção da comunidade médica e do público em geral por relatar a dupla cura de um paciente oncológico contaminado pela Covid-19. Segundo o artigo, um homem de 61 anos diagnosticado com linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer hematológico que se origina no sistema linfático, deixou de apresentar sinais da doença após um período de internação para tratar o novo coronavírus.

O relato aponta que o paciente havia descoberto o tumor hematológico em estágio avançado. Mas, antes mesmo de receber as medicações específicas para combater o câncer, ele testou positivo para o Sars-CoV-2. O artigo detalha que, por conta de sintomas respiratórios (falta de ar e pneumonia), o homem precisou permanecer no hospital por 11 dias, tratando exclusivamente a Covid-19.

Recuperado, ele passou por novos exames relacionados ao linfoma, até para definir a estratégia terapêutica. Contudo, os resultados dessa segunda avaliação indicaram que o indivíduo apresentava uma regressão da doença oncológica. Os médicos analisaram minuciosamente o quadro. Conclusão: o linfoma de Hodgkin do paciente foi reclassificado como em remissão — ou seja, sem mais nenhum tipo de atividade ou de avanço.

O fato pode ser explicado por uma forte resposta imune do organismo à infecção por Sars-CoV-2, o que também levou a uma ação antitumoral pelas células de defesa. Em linhas gerais, é como se o vírus da Covid-19 tivesse acordado os soldados de defesa, fazendo com que eles combatessem os dois inimigos de uma só vez.

Possivelmente, o vírus levou ao estímulo do sistema imunológico do paciente ativando Linfócitos T e células natural killers, aumentando a produção de anticorpos pelos linfócitos B ou de outros mecanismos de defesa.

Eu sei que parece estranho, mas isso não é um absurdo de se pensar. Na oncologia, já foram utilizadas terapias que tentam estimular o sistema de defesa de maneira inespecífica. Para ter ideia, o Bacilo de Calmette-Guérin (BCG), um germe usado na vacina contra a tuberculose, também pode ser empregado contra casos de câncer de bexiga inicial, justamente por causa dessa ação imunológica específica.

Vale lembrar ainda que, em algumas circunstâncias, o tratamento desse tipo de linfoma inclui a chamada imunoterapia moderna, que justamente atua na potencialização do organismo para atacar as células do câncer.

Mas, ao contrário das medicações já aprovadas para estimular a defesa do nosso corpo, não há qualquer comprovação científica que aponte que o novo coronavírus poderia ter um “efeito colateral do bem”, capaz de eliminar um ou mais tipos de câncer. Não existe benefício decorrente da Covid-19.

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O vírus, como sabemos, é perigoso e os riscos de complicações geradas por ele são muito elevados. Esse foi um caso raro e extraordinário que impressiona a todos nós, mas a probabilidade de isso acontecer é ínfima.

A boa notícia é que a história desse paciente pode contribuir para melhor compreensão do papel do sistema imunológico e de infecções nos tratamentos oncológicos.

Os tratamentos para enfrentar os linfomas incluem convencionalmente anticorpos monoclonais, quimioterapia e, ocasionalmente, radioterapia. O transplante de medula óssea pode ser uma alternativa, dependendo do caso. Mas, para os que não respondem a essas opções, a medicina tem avançado nos últimos anos com a terapia celular.

As células CAR T são a principal novidade da área. Altamente especializadas, são células de defesa do próprio paciente modificadas em laboratório mais eficientes no combate ao câncer. Elas inclusive já foram aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão regularizador do setor nos Estados Unidos e em outros países.

Esse uso de células de defesa modificadas do próprio paciente está trazendo resultados animadores para aqueles que não apresentaram resposta aos tratamentos convencionais.

Aliada ao diagnóstico precoce, a adoção dessas avançadas técnicas de base imunológica e da medicina de precisão despontam como as chaves para aumentar os índices de respostas positivas no controle do câncer e para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Quem sabe se o caso desse paciente nos ajude a entender um pouco melhor como o nosso corpo responde ao câncer para criarmos terapias ainda melhores?

*Jacques Tabacof é onco-hematologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo

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Coronavírus: faz sentido usar máscaras N95/PFF2 por causa das mutações?

Com as notícias de que variantes do novo coronavírus podem ser mais transmissíveis, Alemanha, Áustria e França passaram a recomendar máscaras de uso profissional ao público em geral. Os dois primeiros países agora exigem o equivalente à nossa PFF2 (também conhecida como N95) no transporte público e em comércios. Já o governo francês sugeriu a adoção das máscaras cirúrgicas descartáveis ou das feitas de pano, porém industrializadas.

A forma de transmissão da Covid-19 não mudou, mas agora temos mutações que podem fazer com que uma pequena quantidade de vírus provoque a infecção”, aponta o engenheiro biomédico Vitor Mori, pós-doutorando em medicina e membro do Observatório Covid-19 BR.

O objetivo de preferir modelos reforçados é justamente evitar ao máximo o contato com as partículas virais que viajam na respiração, mesmo de indivíduos assintomáticos ou pouco doentes. Mas a recomendação de produtos do tipo para a população em geral não é uma unanimidade.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) segue valorizando as versões caseiras, com alguns critérios. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) também adota essa norma, exigindo ao menos duas camadas. O CDC inclusive desencoraja o uso em larga escala de equipamentos médicos por temer a escassez de material entre quem mais precisa.

“Não há evidências científicas que comprovem a necessidade de uma máscara N95 ou PFF2 pela população em geral”, aponta o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O consenso é de que precisamos melhorar o uso de máscaras, não importa qual sejam. Esclarecemos alguns pontos sobre o assunto abaixo:

Máscaras N95/PFF2 protegem melhor da Covid-19?

Pra começas, as duas siglas se referem ao mesmo tipo de equipamento: a PFF2 é a certificação brasileira e a N95, a norte-americana. Ambas têm um poder de filtragem superior aos das máscaras cirúrgicas e de pano, e são recomendadas para barrar vírus disseminados por aerossóis (que permanecem suspensos no ar em minúsculas partículas por horas e horas).

É nesse ponto, aliás, que mora parte da polêmica. Tecnicamente, o Sars-CoV-2 se espalha principalmente por gotículas respiratórias, produzidas quando uma pessoa infectada respira, fala, tosse ou espirra. Ou seja, ele não ficaria no ar por muito tempo. Só que o contágio através de partículas virais suspensas já foi comprovado em determinadas situações, principalmente em locais fechados, mal ventilados e cheios, como bares, restaurantes, lojas etc.

Mais estudos são necessários para compreendermos qual a real importância da transmissão da Covid-19 por meio de aerossóis. De qualquer modo, usar bem a máscara se torna especialmente importante em lugares públicos (muito mais do que medir a temperatura).

Devo começar a usar a máscara N95/PFF2?

“Há poucas informações e iniciativas governamentais em relação ao assunto, então ficamos sem saber se devemos recomendar ao público ou se essa atitude vai gerar uma falta de equipamento para os profissionais”, admite Mori.

Diante das incertezas, ele sugere tomar a decisão a partir de uma análise de risco e o uso consciente, reaproveitando essas máscaras reforçadas e deixando-as como último recurso – quando a ida a um local fechado e mal ventilado for inevitável. “Em tempos de pandemia, elas podem ser consideradas em ambientes de maior risco, sim”, concorda Weissmann.

Ou seja, você não precisa investir em um acessório do tipo para caminhar na rua ou para atividades ao ar livre, mas se pega metrô todos os dias, por exemplo, talvez valha a pena considerar.

Um ponto positivo dessa categoria é que ela pode ficar no rosto o dia todo, desde que permaneça seca, e é reaproveitável. “Com as devidas precauções, é possível usar por muito tempo”, aponta Mori. Os cuidados envolvem:

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  • Não lavar
  • Não passar álcool em gel
  • Deixar descansar por três dias entre um uso e outro
  • Sempre verificar a integridade das camadas

“Se você trabalha fora de casa, dá para comprar sete máscaras e usar uma por dia, num esquema de revezamento”, sugere o administrador público Ralph Rocha Holzmann Nader, de Rezende/RJ. Ele criou, com a esposa, o perfil Qual Máscara, onde divulga dicas para utilizar o acessório.

Mas atenção: há modelos de N95 com válvula. Nesse caso, o ideal é tampar a saída, porque ela filtra o ar que entra, mas deixa passar o que sai pela boca e pelo nariz, colocando outras pessoas em risco.

Outras máscaras seguras

Uma alternativa a se considerar em situações de risco é a utilização das máscaras cirúrgicas descartáveis. É o que a OMS indica para indivíduos com mais de 60 anos, ou com comorbidades que podem agravar a Covid-19. Sim, elas protegem mais do que as de pano.

“Mas é preciso ficar atento ao ajuste, porque elas podem ficar mal encaixadas e permitir o escape de ar pelas laterais”, aponta Mori. Outro cuidado é trocar assim que ficarem úmidas ou depois de quatro horas de uso.

A Anvisa também sugere os respiradores PFF1, usados na construção civil, que são relativamente baratos e facilmente encontrados por aí. “Apesar de não serem adequados para os profissionais de saúde, podem ser úteis na população em geral, uma vez que limitam a propagação de gotículas”, escreve a entidade em sua recomendação.

A máscara de pano ideal

Elas são mais eficazes em proteger as outras pessoas do que evitar a Covid-19 em quem as utiliza. Porém, com certeza são bem-vindas no contexto atual. As de tecido industrializadas são consideradas mais seguras, pois passam por processos de garantia de qualidade. Se for comprar uma caseira, fique especialmente de olho na escolha.

“O ideal é que sejam feitas de tecidos hidrofóbicos, como o TNT e o poliéster. Ou mesmo o algodão, desde que com várias camadas”, explica Weissmann. Melhor ainda se entre essas camadas houver um filtro, como os de café mesmo, que devem ser trocados.

Máscaras antivirais são mais eficazes para conter a Covid-19?

“Elas não têm maior eficiência de filtragem. A ação antiviral está na superfície”, afirma Weissmann. E a questão é que, segundo Mori, as infecções entre pessoas que usam máscaras não ocorre por causa de vírus que ficam retidos na frente do acessório, mas sim quando eles passam pelas laterais do equipamento ou mesmo entre as fibras de tecido.

Ou seja, na prática a ação antiviral oferece pouca ou nenhuma proteção extra. Dá até para argumentar que elas necessitam de menos lavagens e poderiam ser armazenadas com mais facilidade. Por outro lado, são consideravelmente mais caras.

Há um ponto a se destacar: esse tipo de material está ligado a uma falsa sensação de segurança, que pode culminar no abandono de outras medidas de segurança imprescindíveis.

Mais importante que o tipo é usar bem

De nada adianta montar um arsenal de máscaras N95 e achar que elas são um passe livre para se expor a situações de risco. Ou ter modelos de pano com três camadas e filtro, mas que deixam escapar ar pelas laterais. Confira aqui vários erros comuns que sabotam sua segurança.

O mais importante de tudo é garantir que o acessório esteja bem ajustado. “Prender na nuca e fechar as laterais com esparadrapo são estratégias que podem ajudar”, pontua Mori.

Para encerrar, não custa lembrar que o uso da máscara não zera o risco de infecção pelo coronavírus. “Além dela, deve-se manter o distanciamento social de ao menos 1,5 metro, a higienização frequente das mãos e a preferência por ambientes abertos e bem ventilados”, encerra Weismann.

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Na lua cheia, dormimos menos e mais tarde – mesmo quando há luz artificial

Um artigo publicado em 27 de janeiro no periódico Science Advances demonstra que o horário em que seres humanos vão dormir – e a duração do sono – variam ligeiramente de acordo com os ciclos da Lua. Nos dias que antecediam o ápice da fase cheia, os voluntários observados adormeceram mais tarde e passaram menos tempo deitados.

A análise foi possível graças a uma parceria entre as universidade de Washington e Yale, nos EUA, e Quilmes, na Argentina. O efeito foi verificado em  98indígenas argentinos com diferentes graus de acesso à luz elétrica – e também em 464 estudantes americanos, ainda que em menor grau.

“Nós verificamos um clara modulação do sono de acordo com a Lua. O sono diminui e começa mais tarde nos dias que precedem a lua cheia”, afirmou Horacio de la Iglesia, pesquisador da Universidade de Washington e coautor do estudo, em comunicado à imprensa. “Embora o efeito seja mais robusto em comunidades sem acesso à eletricidade, ele também está presente em locais com acesso à luz articial – incluindo pós-graduandos.”

Participaram indivíduos argentinos da etnia Toba-Qom, nativos da província de Formosa. Seu sono foi monitorado por pulseiras ao longo de um ou dois ciclos lunares completos. Eles pertenciam a três comunidades: uma não tinha acesso algum à eletricidade. Na segunda, alguns habitantes possuíam lâmpadas pontuais nas moradias. Uma terceira ficava localizada em uma área urbanizada e seus integrantes estavam habituados à rede elétrica.

Ao longo do ciclo de um ciclo completo de fases da Lua, que dura 29 dias e 12 horas, o tempo total que os indivíduos passaram dormindo em cada noite variou entre 46 e 58 minutos – e horário em que eles foram dormir ficou dentro de uma janela de 30 minutos. Os menores tempos de sono foram verificados nos dias de transição entre a lua crescente e a lua cheia. O brilho propiciado pelo satélite aumenta ao longo desse período, e ele atinge o ponto mais alto no céu justamente no início da noite, quando ainda estamos acordados.

Investigar o sono pessoas de etnias, tradições e hábitos contrastantes é importante porque elas têm diferentes relações com a luz natural. Um povo caçador-coletor isolado que vive em um ambiente pouco poluído tem uma boa visão do céu noturno e depende do luar para realizar atividades à noite. Por sua vez, alguem que faz uma pós passa a maior parte do tempo estudando em cômodos fechados com luz elétrica, geralmente em metrópoles onde a visibilidade do céu é limitada.

Se o efeito fosse verificado apenas nos nativos argentinos, ele refletiria uma mudança esperada: quando há mais luz, nos tornamos mais ativos e a produção do hormônio melatonina, responsável por induzir o sono, é adiada. O fato de que os estudantes em Seattle também responderam à Lua – mesmo que ela não tivesse qualquer impacto prático sobre sua rotina noturna – pode indicar uma base biológica subjacente mais profunda.

“Nossa hipótese é que os padrões observados são uma adaptação inata que permitia aos nossos ancestrais se aproveitar de uma fonte natural de luz noturna que ocorria durante um ponto específico do ciclo lunar”, afirmou Leandro Casiraghi, pós-doutorando que assina o estudo como autor principal. Ou seja: é possível que tenhamos evoluído por seleção natural para exibir esse comportamento no modo automático – e isso explicaria porque ele continua a se manifestar mesmo na cidade grande.

 

“Pode” é a palavra-chave. O ceticismo é especialmente recomendável considerando o longo histórico de fascínico da pseudociência por nosso satélite natural. As amostras utilizadas no estudo são relativamente pequenas – e é importante, agora, que outros pesquisadores tentem reproduzir os resultados de forma independente para reforçar (ou refutar) as conclusões.

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Além disso, é necessário buscar mecanismos fisiológicos que fossem capazes sincronziar nosso organismo com um ciclo natural longo, de um mês. Não é uma tarefa fácil. Decifrar o funcionamento do gene que regula nosso ciclo circadiano – o famoso relógio biológico, que se mantém ajustado com as 24 horas de rotação da Terra – foi algo que rendeu um prêmio Nobel aos pesquisadores responsáveis. Um ciclo mais longo, como o menstrual, é pautado por um sobe-e-desce complexo de hormônios e está sujeito a flutuações e diferenças individuais entre mulheres.

“No geral, há muita suspeita em relação à ideia de que as fases da Lua poderiam afetar um comportamento como o sono – em ambientes urbanos, com grandes quantidades de poluição luminosa, você provavelmente não sabe qual é a fase da Lua a não ser que você fique ao ar livre ou olhe pela janela”, afirmou Casiraghi. “Pesquisas futuras devem focar no como: esse comportamento age por meio do nosso relógio circadiano inato? Ou há outros sinais que afetam os tempos de sono? Ainda há muito a entender sobre esse fenômeno.

Há uma longa lista de superstições sobre a Lua, todas elas falsas. Náo faz diferença cortar o cabelo na lua cheia. O número de suicídios não aumenta na lua cheia. O ciclo menstrual não é sincronizado com as fases da Lua – ainda que as durações de ambos sejam, em média, semelhantes.

A busca por padrões desse gênero é universal e extremamente antiga: de gregos a hindus, todos os povos da Antiguidade usaram os astros como uma forma de registrar o tempo – e buscavam associar mudanças no céu a aconecimentos na Terra. Não havia, evidentemente, um IBGE para verificar se tais observações tinham qualquer validade estatística. Mas elas persistem no imaginário.

A importância prática da Lua no nosso cotidiano já foi bem maior do que é hoje. Prova disso é que o mês, uma das subdivisões básicas do calendário, corresponde aproximadamente ao tempo que o satélite demora para completar uma volta em torno da Terra.

Quando não havia eletricidade ou poluição para encobrir o céu noturno, uma lua cheia ou nova geravam uma diferença perceptível na quantidade de luz que alcançava a superfície da Terra. Sabe-se que esses ciclos, ao longo de milhões de anos de evolução, foram capazes de influenciar alguns aspectos da fisiologia (e até do comportamento) de vários seres vivos – ostras e corais, por exemplo. Não havia, porém, muitas evidências sólidas de que os ritmos biológicos humanos fossem influenciados de qualquer forma pela Lua.

 

 

 

 

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