sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Coronavírus: faz sentido usar máscaras N95/PFF2 por causa das mutações?

Com as notícias de que variantes do novo coronavírus podem ser mais transmissíveis, Alemanha, Áustria e França passaram a recomendar máscaras de uso profissional ao público em geral. Os dois primeiros países agora exigem o equivalente à nossa PFF2 (também conhecida como N95) no transporte público e em comércios. Já o governo francês sugeriu a adoção das máscaras cirúrgicas descartáveis ou das feitas de pano, porém industrializadas.

A forma de transmissão da Covid-19 não mudou, mas agora temos mutações que podem fazer com que uma pequena quantidade de vírus provoque a infecção”, aponta o engenheiro biomédico Vitor Mori, pós-doutorando em medicina e membro do Observatório Covid-19 BR.

O objetivo de preferir modelos reforçados é justamente evitar ao máximo o contato com as partículas virais que viajam na respiração, mesmo de indivíduos assintomáticos ou pouco doentes. Mas a recomendação de produtos do tipo para a população em geral não é uma unanimidade.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) segue valorizando as versões caseiras, com alguns critérios. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) também adota essa norma, exigindo ao menos duas camadas. O CDC inclusive desencoraja o uso em larga escala de equipamentos médicos por temer a escassez de material entre quem mais precisa.

“Não há evidências científicas que comprovem a necessidade de uma máscara N95 ou PFF2 pela população em geral”, aponta o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O consenso é de que precisamos melhorar o uso de máscaras, não importa qual sejam. Esclarecemos alguns pontos sobre o assunto abaixo:

Máscaras N95/PFF2 protegem melhor da Covid-19?

Pra começas, as duas siglas se referem ao mesmo tipo de equipamento: a PFF2 é a certificação brasileira e a N95, a norte-americana. Ambas têm um poder de filtragem superior aos das máscaras cirúrgicas e de pano, e são recomendadas para barrar vírus disseminados por aerossóis (que permanecem suspensos no ar em minúsculas partículas por horas e horas).

É nesse ponto, aliás, que mora parte da polêmica. Tecnicamente, o Sars-CoV-2 se espalha principalmente por gotículas respiratórias, produzidas quando uma pessoa infectada respira, fala, tosse ou espirra. Ou seja, ele não ficaria no ar por muito tempo. Só que o contágio através de partículas virais suspensas já foi comprovado em determinadas situações, principalmente em locais fechados, mal ventilados e cheios, como bares, restaurantes, lojas etc.

Mais estudos são necessários para compreendermos qual a real importância da transmissão da Covid-19 por meio de aerossóis. De qualquer modo, usar bem a máscara se torna especialmente importante em lugares públicos (muito mais do que medir a temperatura).

Devo começar a usar a máscara N95/PFF2?

“Há poucas informações e iniciativas governamentais em relação ao assunto, então ficamos sem saber se devemos recomendar ao público ou se essa atitude vai gerar uma falta de equipamento para os profissionais”, admite Mori.

Diante das incertezas, ele sugere tomar a decisão a partir de uma análise de risco e o uso consciente, reaproveitando essas máscaras reforçadas e deixando-as como último recurso – quando a ida a um local fechado e mal ventilado for inevitável. “Em tempos de pandemia, elas podem ser consideradas em ambientes de maior risco, sim”, concorda Weissmann.

Ou seja, você não precisa investir em um acessório do tipo para caminhar na rua ou para atividades ao ar livre, mas se pega metrô todos os dias, por exemplo, talvez valha a pena considerar.

Um ponto positivo dessa categoria é que ela pode ficar no rosto o dia todo, desde que permaneça seca, e é reaproveitável. “Com as devidas precauções, é possível usar por muito tempo”, aponta Mori. Os cuidados envolvem:

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  • Não lavar
  • Não passar álcool em gel
  • Deixar descansar por três dias entre um uso e outro
  • Sempre verificar a integridade das camadas

“Se você trabalha fora de casa, dá para comprar sete máscaras e usar uma por dia, num esquema de revezamento”, sugere o administrador público Ralph Rocha Holzmann Nader, de Rezende/RJ. Ele criou, com a esposa, o perfil Qual Máscara, onde divulga dicas para utilizar o acessório.

Mas atenção: há modelos de N95 com válvula. Nesse caso, o ideal é tampar a saída, porque ela filtra o ar que entra, mas deixa passar o que sai pela boca e pelo nariz, colocando outras pessoas em risco.

Outras máscaras seguras

Uma alternativa a se considerar em situações de risco é a utilização das máscaras cirúrgicas descartáveis. É o que a OMS indica para indivíduos com mais de 60 anos, ou com comorbidades que podem agravar a Covid-19. Sim, elas protegem mais do que as de pano.

“Mas é preciso ficar atento ao ajuste, porque elas podem ficar mal encaixadas e permitir o escape de ar pelas laterais”, aponta Mori. Outro cuidado é trocar assim que ficarem úmidas ou depois de quatro horas de uso.

A Anvisa também sugere os respiradores PFF1, usados na construção civil, que são relativamente baratos e facilmente encontrados por aí. “Apesar de não serem adequados para os profissionais de saúde, podem ser úteis na população em geral, uma vez que limitam a propagação de gotículas”, escreve a entidade em sua recomendação.

A máscara de pano ideal

Elas são mais eficazes em proteger as outras pessoas do que evitar a Covid-19 em quem as utiliza. Porém, com certeza são bem-vindas no contexto atual. As de tecido industrializadas são consideradas mais seguras, pois passam por processos de garantia de qualidade. Se for comprar uma caseira, fique especialmente de olho na escolha.

“O ideal é que sejam feitas de tecidos hidrofóbicos, como o TNT e o poliéster. Ou mesmo o algodão, desde que com várias camadas”, explica Weissmann. Melhor ainda se entre essas camadas houver um filtro, como os de café mesmo, que devem ser trocados.

Máscaras antivirais são mais eficazes para conter a Covid-19?

“Elas não têm maior eficiência de filtragem. A ação antiviral está na superfície”, afirma Weissmann. E a questão é que, segundo Mori, as infecções entre pessoas que usam máscaras não ocorre por causa de vírus que ficam retidos na frente do acessório, mas sim quando eles passam pelas laterais do equipamento ou mesmo entre as fibras de tecido.

Ou seja, na prática a ação antiviral oferece pouca ou nenhuma proteção extra. Dá até para argumentar que elas necessitam de menos lavagens e poderiam ser armazenadas com mais facilidade. Por outro lado, são consideravelmente mais caras.

Há um ponto a se destacar: esse tipo de material está ligado a uma falsa sensação de segurança, que pode culminar no abandono de outras medidas de segurança imprescindíveis.

Mais importante que o tipo é usar bem

De nada adianta montar um arsenal de máscaras N95 e achar que elas são um passe livre para se expor a situações de risco. Ou ter modelos de pano com três camadas e filtro, mas que deixam escapar ar pelas laterais. Confira aqui vários erros comuns que sabotam sua segurança.

O mais importante de tudo é garantir que o acessório esteja bem ajustado. “Prender na nuca e fechar as laterais com esparadrapo são estratégias que podem ajudar”, pontua Mori.

Para encerrar, não custa lembrar que o uso da máscara não zera o risco de infecção pelo coronavírus. “Além dela, deve-se manter o distanciamento social de ao menos 1,5 metro, a higienização frequente das mãos e a preferência por ambientes abertos e bem ventilados”, encerra Weismann.

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Coronavírus: faz sentido usar máscaras N95/PFF2 por causa das mutações? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

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