Na última segunda-feira (25), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que irá retomar o projeto do ex-presidente Barack Obama de estampar as notas de US$ 20 com o rosto da ativista Harriet Tubman (1820-1913).
A ideia surgiu em 2016 após Tubman ser escolhida em uma votação online que apontou qual mulher norte-americana deveria aparecer nas cédulas de lá. Desde 1928, o rosto das notas de US$ 20 é o do ex-presidente Andrew Jackson (1767-1845), o sétimo da história do país.
A votação fez parte da campanha “Women of 20s” (“Mulheres dos anos 2020”). O objetivo era que a mudança acontecesse, justamente, em 2020, no centenário da emenda constitucional que garantiu o direito ao voto às mulheres nos EUA. O projeto, contudo, acabou engavetado durante o governo de Donald Trump, admirador de Jackson.
Caso a intenção de Biden se concretize, Tubman se tornará a primeira mulher (e a primeira pessoa negra) a aparecer nas cédulas americanas. Para muitos, é mais do que justo: Harriet escapou da escravidão e, ao conquistar a liberdade, ajudou mais de mil outros negros a fugirem.
A história de Harriet Tubman
Araminta Ross (o primeiro nome de Harriet) nasceu no estado de Maryland no início dos anos 1820 (a data exata é desconhecida). Filha de escravos, ela e seus oito irmãos tiveram uma infância difícil sob muito trabalho e violência.
A garota constantemente apanhava e levava chibatadas. Certa vez, aos 12 anos, foi atingida por um peso de ferro depois que tentou interromper o espancamento de outro escravo. O infortúnio teve graves consequências, e Araminta passou a sofrer de narcolepsia (distúrbio que causa sonolência durante o dia) dali até o fim da vida.
Depois disso, a menina passou a acompanhar o pai, Ben Ross, que era lenhador. Araminta aprendeu o ofício e, com o tempo, passou a lidar com homens negros livres que trabalhavam como marinheiros transportando madeira. Da convivência, ela conheceu John Tubman, com quem se casou em 1844. Foi quando decidiu adotar o sobrenome dele e mudar de nome para Harriet – uma homenagem à sua mãe.
Contudo, as coisas se complicaram pouco tempo depois, em 1849, com a morte do dono de Harriet. Quando isso aconteceu, a esposa dele, agora viúva, decidiu que venderia todos os escravos da fazenda, e Harriet temeu que isso a separasse de John e do resto de sua família.
A Ferrovia Subterrânea
Harriet, então, planejou uma fuga. Na calada da noite, ela e dois de seus irmãos se embrenharam no matagal dos arredores da fazenda. Eles, no entanto, voltaram atrás, alegando que estavam perdidos e não conseguiriam fugir. Mas Harriet continuou e conseguiu cruzar a fronteira com o estado da Pensilvânia, conquistando sua liberdade.
Depois da fuga, Harriet voltou 13 vezes para ajudar seus pais, irmãos, sobrinhos e outros escravos a escaparem. Tudo era feito por meio da Ferrovia Subterrânea, a famosa Underground Railroad. Ela não era, de fato, uma ferrovia, mas sim uma rede de pessoas que forneciam abrigo, barcos e carruagens seguros para que negros saíssem do sul dos EUA, escravagista, e rumassem para o norte, abolicionista, e para o Canadá.
Entre os séculos 18 e 19, estima-se que cerca de 100 mil pessoas fugiram graças à Railroad – destas, 300 contaram diretamente com a ajuda de Harriet. Trabalhando em conjunto com outros abolicionistas, ela ganhou o apelido de Black Moses (“Moisés Negra”), em alusão ao personagem bíblico responsável por libertar o povo hebreu.
Guerra Civil e morte
Durante a Guerra Civil norte-americana (1860-1865), Harriet atuou como enfermeira, batedora e, por vezes, espiã para o exército do Norte, que lutava contra os Confederados, do Sul. Em 1863, ela se tornou a primeira mulher negra dos EUA a liderar um ataque militar. A investida aconteceu no estado da Carolina do Sul e liberou mais de 700 escravos.
Com o fim da guerra e, consequentemente, da escravidão, Harriet continuou seu trabalho como ativista. Nos anos seguintes, ela ajudou a levantar fundos para hospitais e escolas para pessoas negras que, antes, não tinham acesso a isso. Em 1888, ela se envolveu também na luta das mulheres para conseguirem votar. Não raro, era chamada para contar a sua história a outras pessoas. “Eu olhei para as minhas mãos para conferir se eu era a mesma pessoa, agora que estava livre. Havia uma glória sobre tudo. Senti-me no paraíso”, teria dito certa vez.
Foi só ano seguinte, em 1899, que Tubman conquistou o direito de receber uma pensão de veterana pelos serviços prestados ao exército: US$ 20 por mês (o equivalente a US$ 520 hoje em dia). Os mesmos US$ 20 que, agora, ela deve estampar.
Harriet morreu em 1913, e seu funeral teve honras militares. Em 2019, ela ganhou uma cinebiografia: Harriet foi indicado a dois Oscars, incluindo o de melhor atriz para Cynthia Erivo, que a interpretou. Veja aqui onde assisti-lo.
Quem foi Harriet Tubman, que pode estampar as notas de US$ 20 nos EUA Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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