437 moradores de condomínio em Seul, na Coreia do Sul, foram testados. Dez deles estavam infectados – e moravam em apartamentos conectados à mesma tubulação de ar
No começo da pandemia, acreditava-se que o Sars-CoV-2 só fosse transmitido por meio de objetos e superfícies contaminadas, ou se alguém espirrasse/tossisse em cima de você. Hoje é consenso que os aerossóis (vírus em suspensão no ar, onde podem permanecer 3 horas) são um meio importante de transmissão. Agora, um estudo publicado por cientistas da Universidade Nacional de Seul sugere que o coronavírus pode circular em dutos de ventilação – e, assim, passar de um apartamento para outro.
A história narrada pelo estudo começa no dia 23 de agosto, quando uma moradora do sexto andar do prédio testa positivo para o coronavírus (o marido e a filha também). No dia seguinte, um bebê de 19 meses, morador do apartamento de baixo, é levado ao hospital para tratar de um problema urinário – e testes revelam que também está com o Sars-CoV-2. No dia 25 de agosto, uma mulher do quarto andar testa positivo. Ela conta que vinha tendo febre desde o dia 22.
Então as autoridades coreanas colocam o complexo de prédios em quarentena, e testam todos os 437 moradores. Mais cinco pessoas são diagnosticadas com o vírus: a mãe do bebê do quinto andar, e moradores do segundo, décimo e décimo primeiro andares. A origem da infecção parece ser o décimo andar, onde a pessoa que testou positivo (uma mulher de 48 anos) revela que estava com dor de garganta desde o dia 16.
Dois elementos chamam a atenção. A esmagadora maioria dos moradores, 427, não está infectada. E os dez contaminados não se conhecem, não tiveram contato, e uma investigação epidemiológica não revela sua exposição a focos do vírus fora do prédio. (A Coreia do Sul rastreia atentamente as pessoas infectadas, e por isso teve apenas 76 mil casos, e 1.300 mortes, até agora – em uma população de 51 milhões de pessoas).
A transmissão dentro do prédio provavelmente não ocorreu no elevador, ou em outras áreas comuns. Se fosse assim, raciocina o estudo, haveria mais gente infectada. Mas há um elemento em comum entre os dez contaminados: seus apartamentos compartilham os mesmos dutos de ar. “O exaustor do banheiro pode ter expelido os aerossóis para o duto, e eles se espalharam para os andares superiores, e principalmente para os inferiores, pelo efeito chaminé reverso (reverse stack effect)”, diz o estudo.
Esse efeito ocorre por diferenças na temperatura do ar, que pode se deslocar para cima ou para baixo no duto conforme as diferenças de temperatura entre os banheiros e o ar externo (veja diagrama acima). O estudo não analisou amostras de ar, e não explica porque as pessoas de outros andares entre o sexto e o décimo andar não foram infectadas. Mas levanta um ponto interessante, e com precedentes: no surto de Sars-CoV-1, em 2003, um estudo constatou que o vírus se espalhara pela tubulação hidráulica do Amoy Gardens, um prédio residencial em Hong Kong onde 300 pessoas foram infectadas.
Duto de ventilação do banheiro pode ter espalhado coronavírus por 7 apartamentos, diz estudo Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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