sábado, 6 de fevereiro de 2021

Flores se aquecem até 30 ºC para atrair besouros polinizadores

O texto desta semana é assinado por Arodí Prado Favaris, bióloga do Laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos da ESALQ-USP, a convite da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas – acesse o site. 

Quais características de uma flor são importantes para atrair um polinizador? Cor e cheiro são as respostas mais óbvias – e, de fato, estão corretas. Mas você já imaginou que insetos e outros animais podem se interessar pelo calor irradiado pelas plantas? A maior parte das flores possuem pigmentos que permitem reter o calor da radiação solar em partes específicas das pétalas, formando um padrão de distribuição de regiões quentes e frias. 

As abelhas identificam esses padrões por meio dos sensores térmicos que elas têm nas antenas e nos tarsos (os “pezinhos”). Assim, o calor pode ser utilizado pelos polinizadores para selecionar as flores que lhes darão uma recompensa em forma de néctar.

Também existem espécies vegetais cujas flores e inflorescências produzem calor por conta própria, independentemente da incidência de radiação solar. Bons exemplos são as plantas do grupo das aráceas – que é a família dos copos-de-leite, costelas-de-adão e taiobas. Também manifestam esse comportamento os vegetais do gênero Philodendron, usados para ornamentar muitas salas de estar por aí. Os insetos que mais caem nesse truque quentinho são os besouros. 

E põe quentinho nisso: o aumento de temperatura atinge marcas impressionantes. A flor pode alcançar uma diferença de 30°C em relação ao ambiente circundante. O calor incentiva a liberação do cheiro da flor, que atrai os polinizadores. Além de encontrarem fontes de nutrição nessas flores, os besouros as utilizam para se protegerem de predadores. A flor é como uma pousada aquecida para os insetos pernoitarem: fazem check in e partem na manhã seguinte. 

Além de abrigo, o calor produzido pela flor também pode ser utilizado pelos insetos para economizar energia durante a realização de suas atividades biológicas – em vez do inseto produzir calor por conta própria para o seu metabolismo, ele aproveita o calor da planta de forma passiva. Sendo assim, a alta temperatura das flores não é só um método de atração: do mesmo jeito que o néctar é uma recompensa nuticional, o calor pode ser considerado uma recompensa energética para os insetos.

E o que as plantas ganham com isso? É só lembrar da aula de biologia: os insetos garantem a polinização ao levar os gametas masculinos de uma flor, por meio do pólen, à parte feminina de outra flor – o que permite a fecundação e, logo, a reprodução. Nesse calorzinho, todo mundo sai ganhando.

Este é o quarto post do blog Bzzzzz, em que pesquisadores membros do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) e outros cientistas colaboradores vão comentar a vida, os hábitos e a importância econômica de diversos insetos – além de nos atualizar sobre as mais recentes descobertas no campo desses pequenos artrópodes. Até a próxima!

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