domingo, 1 de agosto de 2021

Fóssil de 890 milhões de anos pode ser mais antigo indício de vida animal

Um fóssil de 890 milhões de anos encontrado no Canadá pode ser o mais antigo indício de vida animal já encontrado. Trata-se de um calcário entremeado por uma rede de minúsculos túneis, duas vezes mais estreitos que um fio de cabelo. Esse padrão, conhecido dos paleontólogos, é típico da fossilização de esponjas – sim, esponjas como o Bob Esponja –, que se alimentam filtrando a água do mar e disputam o título de animais mais antigos da Terra.

O consenso atual é que as primeiras formas de vida filtradoras surgiram a partir de 630 milhões de anos atrás, no período Ediacarano. Animais com estruturas de locomoção e comportamento predatório só vieram depois, com o início do Cambriano há 542 milhões de anos. A possibilidade de que já existissem esponjas há 890 milhões de anos abala os alicerces da paleontologia e foi recebida com uma dose saudável de ceticismo pelo comunidade científica.

A rocha, extraída da Cordilheira Mackenzie, próxima à fronteira com o Alasca, se formou no fundo do mar graças ao acúmulo de carbonato de cálcio oriundo do metabolismo de bactérias. Esses corais microbianos, conhecidos como estromatólitos, são nossa principal janela à atividade de seres unicelulares nos primórdios da vida na Terra. Depois, processos geológicos a ergueram até o local em terra firme onde foi encontrada.

A foto no início do texto não é do fóssil canadense. Ela mostra o padrão deixado por uma Spongia officinalis, uma espécie de esponja contemporânea típica da Grécia que ilustra bem o complexo desenho deixado por esses animais após a fossilização. Essas são as mesmas esponjas de origem natural usadas até hoje por quem quer desembolsar uma nota para tomar banho.

Esponjas se dividem entre espécies de contituição mais rígida, que se mantém em pé graças a estruturas chamadas espículas, e esponjas fofinhas, com textura adequada para se esfregar no chuveiro, que se sustentam com filamentos de uma proteína chamada espongina. São esses filamentos que criam a rede de túneis no fóssil.

É sempre arriscado interpretar fósseis antigos com base nas espécies que existem hoje – principalmente neste caso, em que o fóssil foi datado como radicalmente antigo. Porém, neste caso específico, há um argumento forte a favor da hipótese de que essa seja mesmo uma esponja: o fato de que ela vivia apoiada na estrutura calcária já mencionada (o estromatólito), formada por bactérias fotossintetizantes.

A oxigenação da atmosfera terrestre nessa época era um bocado baixa para a respiração celular de um organismo de grande porte. Mas esses recifes microbianos, repletos de criaturinhas que emitiam o gás, formariam oásis de O2 no fundo do mar, capazes de sustentar os primeiros experimentos de vida multicelular. Ou seja: há boas chances de que nossos antepassados mais antigos sejam mesmo Bob Esponjas. E você aí se esfregando com eles.


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