Para trabalhar em Porto Lockroy, é preciso passar por um longo processo seletivo. Em uma das etapas, o RH avalia a sua capacidade de trabalho em equipe. Normal, certo? Nem tanto: o “trabalho em equipe”, nesse caso, envolve organizar cartas e contar pinguins em plena Antártida.
Porto Lockroy fica na Península Antártica, uma pontinha do continente gelado próxima da América do Sul. Ele é administrado pela UK Antarctic Heritage Trust (UKAT), uma instituição britânica responsável pela conservação de lugares e monumentos históricos na região, que é povoada por 1,5 mil pinguins – não à toa, Lockroy recebeu o apelido de Penguin Post Office (Correio do Pinguim).
Trabalhar no Correio do Pinguim não é nada glamuroso. São cinco meses em temperaturas abaixo de zero, dormindo em beliches, sem eletricidade nem banheiro com descarga. Mas administrar a agência de correios mais remota e fria do mundo desperta o interesse de muita gente: neste ano, mais de 6 mil pessoas se inscreveram para ocupar as quatro vagas de trabalho.
A história do local
O Correio do Pinguim atrai visitantes por sua importância histórica. Em 1944, o governo britânico ocupou Porto Lockroy como parte de uma missão militar realizada durante a Segunda Guerra Mundial: a Operação Tabarin. O objetivo era estabelecer uma presença permanente na Antártida com a construção de bases. Porto Lockroy foi a primeira delas.
Dali em diante, o local se tornou uma importante estação de pesquisa (onde rolaram estudos sobre a atmosfera do planeta) e um centro de comunicação entre as bases mais ao sul do continente. Também virou o berço do British Antarctic Survey (BAS), um instituto britânico de pesquisa polar.
Porto Lockroy continuou operando como estação de pesquisa até 1962, quando foi substituído por bases maiores e mais modernas. Em 1995, foi reconhecido como um local histórico. No ano seguinte, UKAHT e BAS trabalharam na restauração dos edifícios e estabeleceram um museu.
Há três prédios em Porto Lockroy. O maior (que é também o edifício original da Operação Tabarin) abriga o museu, a agência postal e uma loja. Tudo isso é dedicado aos turistas que aparecem no verão – e escrevem 80 mil correspondências por temporada.
O segundo edifício, construído em 1957, é um galpão de barcos. Já o terceiro é uma reprodução de uma cabana que ficava no mesmo local em 1944, mas desmoronou cinquenta anos depois. Hoje, é onde moram os funcionários do Correio do Pinguim.
Trabalho duro
A UKAHT abre quatro vagas por temporada: um líder da base, um gerente de loja e dois assistentes gerais. Os contratos são de seis meses, e os salários variam de US$ 1.600 a US$ 2.300 por mês (R$ 8.450 a R$ 12 mil), dependendo da função.
Os funcionários cuidam da manutenção do local, atendem os turistas e cuidam das cartas enviadas para mais de 100 países a cada temporada. Além disso, recolhem e enviam dados para o BAS sobre o ciclo reprodutivo dos pinguins gentoo que vivem na ilha. Para isso, mantêm uma contagem do número de casais de pinguins, dos ninhos que eles fazem, dos ovos que são colocados e dos filhotes que nascem. Tudo isso para entender como a população aumenta ou diminui com o passar do tempo.
Essa investigação começou em 1996, e os pesquisadores publicaram os resultados em 2018. Nesse período, houve uma redução de 25% nos pares reprodutores e de 60% no número de filhotes. Não se sabe ao certo o que provocou o declínio, mas os pesquisadores suspeitam do aumento das temperaturas e do número de turistas no local. O estudo continua, com a ajuda dos funcionários da agência postal.
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