Na última quinta (6), a escritora francesa Annie Ernaux venceu o Nobel de Literatura deste ano e levou 10 milhões de coroas suecas (R$ 4,8 milhões) para casa. Ela já era uma das autoras mais aclamadas de seu país e estava entre os favoritos para ganhar o prêmio.
Mas a escolha da Academia Sueca surpreendeu Ernaux. Ela contou a jornalistas que seu telefone tocou a manhã inteira, mas ela não atendeu – já pensou ter chamadas perdidas do Prêmio Nobel, em vez de telemarketing? Ela é a primeira mulher francesa a receber o prêmio de literatura. “Eu nunca pensei que isso estaria no meu horizonte como escritora.”
Ernaux nasceu em 1940 na pequena cidade de Yvetot, na Normandia. Ela se tornou professora universitária de literatura moderna na década de 1970 e, ao longo de sua carreira, escreveu mais de 20 livros – que ganharam adaptações para o teatro e traduções para o inglês, alemão, português e outros idiomas.
Sua obra é majoritariamente composta por romances de caráter autobiográfico e trata de temas como a vida cotidiana na França, a dominação das classes sociais e o amor. A Academia Sueca entregou o Prêmio Nobel para a escritora “por sua coragem e acuidade clínica com as quais ela descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições da memória coletiva”.
“É uma grande responsabilidade testemunhar, não necessariamente em termos de minha escrita, mas testemunhar com precisão e justiça em relação ao mundo”, ela afirma.
Em 2021, quem levou o Nobel de Literatura foi o tanzaniano Abdulrazak Gurnah, que escreveu livros (principalmente em inglês) sobre os refugiados, o colonialismo e o racismo.
A obra de Ernaux
Ernaux se considera mais uma “etnóloga de si mesma” do que uma escritora de ficção. Ela se dedica a uma “reconstrução metódica do passado”, segundo Anders Olsson, membro do Comitê do Prêmio Nobel, e a uma tentativa de escrever uma prosa crua em forma de diário, registrando eventos externos.
Há também uma importante dimensão política no trabalho de Ernaux, que nasceu em uma família pobre de Yvetot mas ascendeu socialmente. Para ela, escrever é um ato político, que pode abrir nossos olhos para a desigualdade social. Segundo Olsson, Ernaux examina, de maneira consistente e a partir de diferentes ângulos, uma vida marcada por fortes disparidades relativas ao gênero, linguagem e classe.
Ernaux estreou no mundo literário em 1974 com Les Armoires Vides (“Os armários vazios”, em tradução livre), mas a obra que a tornou famosa foi seu quarto livro, publicado em 1983: La Place (“O lugar”, também sem versão em português). Em La Place, Ernaux faz um retrato de seu pai e do meio social em que ele esteve inserido – e aí começa uma série de trabalhos autobiográficos.
Esse retrato paterno (e a reconstrução do passado) continua em La Honte (“A vergonha”), de 1996, livro em que Ernaux começa com esta frase: “Meu pai tentou matar minha mãe em um domingo de junho, no começo da tarde”. A própria escritora afirma que sempre quis escrever o tipo de livro que, depois de ler, parece impossível falar a respeito.
A autora ficou conhecida internacionalmente com Les Années – “Os Anos”, este sim publicado em português. Lançado em 2008, o livro foi chamado de “épico sociológico” pioneiro do mundo ocidental contemporâneo pelo poeta alemão Durs Grünbein.
Já o trabalho mais recente de Ernaux é Le Jeune Homme (“O jovem”), lançado em maio pela Gallimard, editora que a acompanhou durante toda a carreira.
Este ano, ainda serão entregues os prêmios Nobel da Paz e da Economia. Você pode conhecer as pessoas e entender as descobertas por trás deles acompanhando nosso site.
Quem é Annie Ernaux, ganhadora do Nobel de Literatura 2022 Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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