terça-feira, 25 de outubro de 2022

Baixa cobertura vacinal contra o HPV: tragédia anunciada para o futuro

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados para 2022 mais de 16 mil casos de câncer do colo do útero no país. De acordo com a entidade, em 2020 ocorreram 6 627 óbitos de mulheres brasileiras pela doença, o que leva à ocorrência de cerca de 18 mortes por dia, uma morte a cada duas horas aproximadamente. Isso é extremamente chocante! Principalmente por tratar-se de mortes evitáveis, seja pelo programa de rastreamento com exames, seja pela vacinação.

Sim, vacinação! O câncer de colo do útero é uma doença de origem infecciosa, causada pelo HPV, o papilomavírus humano. Em algumas pessoas, esse vírus provoca, ao longo do tempo, alterações celulares capazes de levar ao surgimento de um câncer. Para evitar que isso aconteça, podemos investigar a presença dessas alterações nas consultas ginecológicas. Ainda assim, novas lesões podem surgir com o passar dos anos.

Daí a importância da vacina. Fora o câncer de colo de útero, alguns tipos de HPV podem levar a tumores na boca, na garganta, no pênis, na vulva, na vagina e no ânus. O vírus é transmitido em relações sexuais e sabemos que a vacina é o meio mais eficaz de prevenir a doença.

O imunizante utilizado no Brasil, fruto de anos de estudo, é quadrivalente, ou seja, atua contra quatro tipos do vírus, e altamente eficiente na prevenção da infecção e, por consequência, das verrugas genitais e das lesões malignas que ela pode desencadear.

Também é extremamente seguro, pois não contém o vírus vivo. Vários países iniciaram a vacinação em massa, de homens e mulheres, a partir dos 9 anos de idade, antes do início da vida sexual desse público e, claro, do risco de infecção.

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Aqui no Brasil, a vacina contra o HPV foi introduzida no Programa Nacional de Imunizações (PNI) inicialmente apenas para crianças e adolescentes mulheres. A primeira dose foi feita nas escolas, resultando em uma ótima cobertura vacinal, acima de 95%.

Mas a segunda dose foi aplicada em unidades básicas de saúde, com uma queda na cobertura para cerca de 60%. Mesmo posteriormente sendo disponibilizada para o público masculino, a cobertura da vacina para ambos os gêneros vem patinando. Segundo o Ministério da Saúde, em 2019, a taxa de vacinação foi de 55% entre meninas e 36% entre meninos.

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Dados coletados em serviços privados mostram realidade semelhante, sobretudo se levarmos em consideração o período pós-pandemia. No Grupo Pardini, só entre janeiro e agosto de 2022, houve um aumento de 11% no volume de vacinas contra HPV aplicadas em relação ao mesmo período de 2021. Mas, quando olhamos os anos anteriores, vemos uma queda acentuada.

No primeiro ano de pandemia, em 2020, tivemos uma redução de 43% em relação a 2019. Embora tenhamos agora números ligeiramente melhores, ainda são preocupantes. Estamos longe de atingir o patamar antes da Covid-19, quando já estávamos bem abaixo da meta do Ministério da Saúde.

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Nos serviços particulares, a vacinação está disponível para ambos os gêneros dos 9 aos 45 anos, muito além do sistema público, que a oferece até os 15 anos.

A situação apresentada hoje no Brasil é completamente absurda. Temos uma vacina segura e eficaz para evitar doenças graves, mas a adesão e a cobertura vacinal são insuficientes. Toda uma geração está sendo condenada a enfrentar problemas sérios como o câncer de colo de útero, levando dor e sofrimento a milhares de pessoas e famílias.

É urgente que cada município brasileiro trace estratégias de incremento da cobertura vacinal. E que crianças e adolescentes, incentivadas por suas famílias, possam aderir a essas estratégias preventivas. Junto à ampliação de programas de rastreamento de lesões no útero em mulheres adultas, as principais vítimas do HPV, a imunização faz parte do roteiro para prevenir uma tragédia anunciada.

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* José Geraldo Ribeiro é pediatra e epidemiologista do Grupo Pardini

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