Em mais uma daquelas tardes que se resumem a espiadas distraídas no celular, me deparei com uma thread da fotógrafa americana Isabelle Baldwin, no Twitter: “Fotos famosas e as câmeras com as quais elas foram feitas”. Normal: lá estavam a capa de Abbey Road (1969), dos Beatles, o retrato de Salvador Dalí e… um campo verde com céu azul.
“Bliss, 1996, [tirada com uma] Mamiya RZ67”, era o que dizia a legenda da imagem: nada menos que o papel de parede padrão do Windows XP, o sistema operacional lançado pela Microsoft em 2001 (e que você, se não for Geração Z, certamente usou).
Arregalei os olhos. Até aquele instante, eu nunca tinha parado para pensar que aquele fundo de tela era um cenário real – e que a fotografia tinha autor e data de criação.
O autor de Bliss (“contentamento”, em português), é Charles O’Rear, nascido em 1941, nos Estados Unidos – e que, claro, não fazia ideia de que a fotografia se tornaria a mais vista do planeta.
Entre colinas e estradas sinuosas
Lá pelos seus 20 e poucos anos, Charles entrou para o time de fotógrafos da National Geographic, onde ficou por quase três décadas. Nesse tempo, a revista o enviou para Napa Valley, região de vinícolas da Califórnia, e ele passou a percorrer um trajeto de 80 quilômetros entre lá e a cidade de São Francisco todas as sextas para visitar sua namorada.
O caminho com estradas sinuosas e pequenos montes ao redor era o cenário perfeito para uma foto, pensou Charles. “Em janeiro [no inverno americano], havia um período de no máximo duas semanas em que a grama dos montes ficava verde e brilhante e que tempestades passavam limpando o céu”, contou o fotógrafo em uma entrevista gravada em 2014, em Sydney, na Austrália.
“Mas você não podia prever quando o tempo estaria bom [para a foto]. Então, existe muito trabalho duro envolvido na tentativa de estar no momento certo, na hora certa.” Em 1996, numa dessas sextas-feiras, ele saltou do carro com a câmera que sempre carregava e a posicionou para alguns cliques. Deu certo: lá estava a foto com que ele estava sonhando. (Veja neste link outra imagem do mesmo local, tirada anos mais tarde, em 2006.)
Do banco à tela
A foto foi para um banco de imagens do qual Charles participava, o Corbis (adquirido em 1989 pelo dono da Microsoft, Bill Gates). Na época, os engenheiros da Microsoft estavam desenvolvendo o Windows XP – e precisavam de uma imagem para a tela inicial.
Eles, então, vasculharam o Corbis – que, àquela altura, tinha uma pequeníssima parcela das 100 milhões de imagens que tem hoje – em busca de um bom papel de parede. O vencedor, você sabe, foi o cenário clean de Charles.
A empresa comprou a fotografia, e Charles nunca revelou quanto recebeu por ela. Mas já confessou que poderia ter se saído melhor. “Se soubesse o quão popular a imagem se tornaria e em quantos computadores estaria, eu poderia ter fechado um acordo melhor e dito: me dê apenas uma fração de centavo a cada vez que ela for vista.”
A história por trás do papel de parede do Windows XP Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
Nenhum comentário:
Postar um comentário