Neste mês de dezembro, acontece o 64º Congresso Anual da Sociedade Americana de Hematologia (ASH), o maior do mundo e que lidera as principais pesquisas cientificas nesse campo.
Um tema abordado são os cânceres no sangue. O interesse nesse assunto é cada vez maior, já que há um notável avanço em métodos de diagnóstico e também o surgimento de tratamentos inovadores – e, consequentemente, melhores prognósticos.
Vale destacar que o tratamento mais adequado para o câncer no sangue depende do melhor entendimento da doença. Os principais tipos de câncer no sangue são: leucemias, linfomas e mielomas e seus subtipos. A diferença entre os três diz respeito ao local em que as células doentes se formam, quais são essas células e a velocidade do curso da doença.
As leucemias têm início nas células-tronco da medula óssea – as células doentes se formam por mutações genéticas, diminuindo a produção de células saudáveis. As leucemias podem ser mieloides ou linfoides (dependendo de onde as células doentes têm origem) e crônicas (de desenvolvimento lento, como a leucemia linfocítica crônica, a LLC) ou agudas (os sintomas se manifestam em dias).
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Enquanto as leucemias afetam a medula óssea, os linfomas impactam o sistema linfático. Já o mieloma ocorre a partir de um tipo específico de célula da medula óssea (os plasmócitos), que atua na produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias.
As semelhanças entre os três tipos de câncer no sangue estão em alguns dos sintomas: sensação de cansaço, palidez, febres ou calafrios e perda de peso – além de sinais específicos de cada uma das doenças.
A boa notícia é que todas as formas são potencialmente curáveis – considerando “cura” como a ausência da doença por um certo período, sem necessidade de tratamento após um prazo pré-determinado e finito.
Mesmo para formas agressivas há boas perspectivas, como no caso da Leucemia Mieloide Aguda (a LMA): durante décadas contamos com opções limitadas de tratamento e baixa expectativa de vida. Hoje, temos novas alternativas que ampliam essa sobrevida de poucos meses para anos, preservando a qualidade de vida do paciente – mesmo aqueles mais idosos e mais sensíveis (ou não elegíveis) para tratamentos mais agressivos.
As causas por trás do câncer de sangue
Salvo raras exceções, eles não são hereditários. Isto é, são doenças adquiridas, pois acontecem como resultado de mutações genéticas ao acaso.
Ao contrário de outros tipos de câncer – como pulmão, bexiga e mama – os cânceres no sangue não estão geralmente associados a comportamentos ou hábitos. Portanto, são difíceis de serem prevenidos.
De qualquer forma, uma boa alimentação, a prática de exercícios físicos e não fumar são comportamentos que facilitam o tratamento quando a doença é diagnosticada.
E a rapidez do diagnóstico depende da velocidade do seu desenvolvimento. As formas agudas são geralmente descobertas em serviços de pronto-atendimento, já que o paciente se sente mal em questão de dias.
As formas crônicas, por sua vez, são detectadas em consultas e por exames médicos de rotina – como uma alteração em hemograma.
As leucemias agudas são comuns na infância; o linfoma de Hodgkin é mais observado em adolescentes e adultos jovens; e a LLC e LMA acometem principalmente pessoas acima dos 60 anos de idade.
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O tratamento dos cânceres no sangue pode incluir quimioterapia, imunoterapia (que inibe as mutações que geraram o “defeito” nas células), transplante de medula óssea (que fabrica as células sanguíneas), e as terapias-alvo (que têm ação direta nas células defeituosas, protegendo as células sadias).
Mais recentemente surgiu a tecnologia Car T Cell (Chimeric Antigen Receptors -T Cell), terapia personalizada, que age em alvos específicos, usando células do paciente no lugar de medicamentos sintéticos. Essas células são tratadas e infundidas de volta no paciente, reprogramando as próprias células do paciente contra a doença.
A terapia personalizada está disponível, e novas formas de imuno-oncologia vêm sendo estudadas e estão em fases adiantadas de desenvolvimento.
Esta é uma evolução científica que acontece no mundo inteiro, com inúmeros estudos clínicos em desenvolvimento, incluindo no Brasil.
Portanto, diante de um diagnóstico de câncer no sangue, calma! O paciente deve conversar com seu médico sobre as possibilidades de tratamento, considerando seu perfil, estilo de vida e estágio da doença – e, juntos, eles vão decidir qual a abordagem mais adequada.
*Otavio Baiocchi é oncologista, professor do Departamento de Oncologia Clínica da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP e diretor de Hematologia, Onco-Hematologia e Terapia Celular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Câncer no sangue: a ciência dá boas notícias Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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