A boa e velha metformina está fazendo 100 anos! E essa é mais uma data comemorativa na endocrinologia.
Brinco com meus colegas médicos nos congressos da área: se você fosse paciente, botaria fé num remédio para diabetes que tem uns 100 anos e é fornecido de graça pelo SUS? Provavelmente, não! E ainda julgaria que o doutor está desatualizado e não conhece as novidades no tratamento da doença.
De fato, tivemos inúmeros lançamentos de medicamentos para o diabetes tipo 2 nos últimos anos. Mas as novas classes e princípios ativos não eliminam do jogo um comprimido que conhecemos de longa data e continua tendo um papel a cumprir.
A metformina foi isolada em laboratório por uma dupla de químicos da Irlanda, Werner e Bell, em 1922. A substância foi extraída originalmente de uma planta chamada lilás francês (Galela officinalis).
Os estudos com a molécula evoluíram até termos a versão sintética que as pessoas tomam hoje. E, apesar de ser centenária, ainda estamos aprendendo como ela promove a redução dos níveis de glicose no sangue.
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Classicamente, o que se sabe é que a metformina ajuda a contornar a resistência à insulina, um problema que faz o açúcar sobrar na circulação. Isso porque ela diminui a produção de glicose pelo fígado e, mais recentemente, descobriu-se que o remédio instiga as mitocôndrias (a usina de energia das células) a gastar mais energia consumindo glicose.
Cientistas já desvendaram também que o fármaco parece modificar a flora intestinal, melhorando indiretamente a resistência à insulina, e induz as células do intestino a captarem mais glicose, fazendo com que ela diminua no sangue. Em suma, ainda há muito a ser decifrado.
Na prática, pessoas com diabetes tipo 2 são orientadas a ingerir a metformina diariamente, independente de terem se alimentado ou não. Alguns pacientes se queixam de diarreia ou mesmo que o comprimido foi expelido nas fezes, o que não significa que o remédio não está agindo no organismo (o princípio ativo pode ser absorvido e o corpo só está descartando os demais componentes do comprimido).
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A metformina pode levar a uma modesta perda de peso, e sabemos que há pessoas sem diabetes usando erroneamente a droga para emagrecer. Digo erroneamente porque o medicamento possui baixa eficácia para essa finalidade (o foco é controlar a glicemia) e existem contraindicações, como presença de insuficiência renal ou hepática. Só dá para utilizar após uma consulta médica.
Fora tratar o diabetes tipo 2, no Brasil a medicação também pode ser indicada para pacientes com pré-diabetes e síndrome dos ovários policísticos.
Quer uma prova de que a metformina ainda é importante? Todas as sociedades médicas de respeito pelo mundo continuam prescrevendo a substância como um dos pilares do tratamento do diabetes tipo 2 (muitas vezes, ela é associada a outras classes terapêuticas).
Parabéns a esse remédio tão longevo! E que ele continue salvando vidas por muitos e muitos anos!
100 anos da metformina: um remédio antigo, bom e barato para o diabetes Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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