sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

De onde veio o símbolo de coração?

O símbolo talvez tenha na natureza: ao longo da história, diversas espécies de plantas inspiraram imagens nesse formato.

Um dos registros mais antigos é o do silphion, uma planta de flores amarelas que, há 2,5 mil anos, era um produto valioso no Mediterrâneo. Crescia apenas em Cirene, colônia grega localizada na atual Líbia, que enriqueceu às custas do comércio da planta. Era uma commodity tão importante que, nos séculos 5 a.C. e 6 a.C., passou a aparecer nas moedas de prata da cidade. E a figura da semente, cunhada no metal, é idêntica ao símbolo de coração (❤):

<span class="hidden">–</span>T. V. Buttrey, via K. Baty/Wikimedia Commons

Tanto valor vinha de supostas mil e uma utilidades do silphion: tempero (seria uma especiaria afrodisíaca), perfume e remédio para vários problemas (febres, calafrios, dores no estômago e até calvície). A planta ainda tinha fama de método anticoncepcional rudimentar: o médico grego Sorano de Éfeso (98–117) teria recomendado seiva de silphion para prevenir (ou interromper) gestações.

A popularidade do silphion nas culturas que deram origem ao pensamento ocidental pode ter colaborado para que a imagem da semente passasse a representar o amor. E por consequência, o coração (órgão que acelera quando você vê o ser amado, e que por isso mesmo era tido como a fonte das emoções).

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Mas a ocorrência mais antiga de um símbolo de coração retratando de fato um coração é relativamente recente. Aparece numa ilustração francesa do século 13, na qual um jovem entrega seu coração à amada.

Por que, então, haveria um hiato milenar entre a imagem da semente de silphion e o símbolo no contexto que a gente conhece? Porque talvez uma coisa não tenha a ver com a outra.

Muitos historiadores entendem que a imagem é apenas uma simplificação do coração anatômico. Num mundo em que a informação em forma de imagens não circulava, pouca gente conhecia as formas de um coração humano de verdade, claro. Mas basicamente todo mundo já tinha visto um coração de porco, por exemplo, que é bem parecido com o nosso. Remova a artéria pulmonar, a aorta e a veia cava, e o coração de porco fica parecido com o ❤.

Logo, a popularização do símbolo que serve ao mesmo tempo para o amor e para o órgão que bombeia sangue pode ser só uma espécie de meme da Idade Média que atravessou os séculos. E que segue pulsante nos emojis.

Na ciência, há o conceito da “navalha de Occam”. Grosso modo, ele diz que a hipótese menos rebuscada para a origem de um fenômeno tende a ser a correta. A Super valoriza esse princípio. Portanto, votamos na segunda teoria.

Fonte: Why Does the Heart Symbol Look That Way?, da PBS Origins.

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