terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O mundos dos estúdios fitness

Imagine treinar 45 minutos com um professor superempolgado, numa turma pequena em que você conhece todas as pessoas, com música animada e fazendo exercícios que queimam até mil calorias por aula!

Essa é a proposta de boa parte dos estúdios fitness, a grande tendência no universo da atividade física que se populariza pelo Brasil.

Lá fora, esses espaços menores que academias ganharam até o nome de “boutiques”: são compactos, exclusivos e representam o que há de mais moderno dentro do seu nicho, a exemplo do que acontece no mundo da moda.

Pesquisas de mercado e especialistas na área indicam que eles vieram para ficar, renovando e ampliando o cardápio de treinos e modalidades à nossa disposição. Mas qual seria exatamente seu trunfo?

De forma geral, os estúdios são miniacademias que concentram aulas específicas em grupos, de forma mais intimista e individualizada.

Três características se destacam logo de cara: o foco em um ou alguns tipos de exercício, a preocupação com a exclusividade da proposta e o senso de comunidade — você não seria só mais um passando pela catraca do clube ou se esgueirando em meio a equipamentos numa sala enorme e lotada.

A experiência começa com as boas-vindas na recepção e segue adiante em aulas que buscam evitar o caráter solitário e tedioso de atividades mais convencionais como a musculação.

O professor não está lá apenas para instruir exercícios e tirar dúvidas, mas também para dar palavras de incentivo dignas de um coach.

Quase todos os estúdios trabalham com hora marcada e agendamento online. Em alguns, os clientes nem precisam pagar mensalidade; podem comprar pacotes de créditos gastos à medida que treinam.

A estética do local também tem seu chamariz: buscando atrair uma nova geração que nasceu rodeada pelas redes sociais, as “boutiques” procuram ostentar uma marca forte e reconhecível e espaços projetados para ser instagramáveis — e os posts em Instagram, TikTok e afins acabam reforçando o vínculo entre a turma e estimulando o engajamento nas aulas.

+ Leia também: Não abuse dos fones na academia

Nos Estados Unidos, a maior holding do setor é a Xponential Fitness, que possui mais de 2 mil estúdios de diversas modalidades espalhados pelo país. Em crescimento, ela já chegou a Europa, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Austrália.

No Brasil, o primeiro estúdio inaugurado com essa proposta foi a Velocity, focada em sessões de bike indoor.

O interessante é que não se trata de um modelo essencialmente importado dos EUA. “Precisamos de um ano e meio para ajustar o produto e as aulas e entender o que os brasileiros realmente buscavam”, conta Shane Young, cofundador e CEO da Velocity, hoje com mais de 200 mil alunos pelo Brasil.

“As pessoas não queriam uma aula de spinning. Elas queriam, sim, um bom exercício, mas algo que se sentissem bem praticando, como uma terapia”, nota a educadora física e diretora técnica da marca, Ana Paula Simões.

Duas grandes redes brasileiras de academia também estão pegando essa onda e investindo pesado nos estúdios. O grupo Ultra, que já possui seis marcas específicas e 24 unidades, pretende chegar a 200 até 2025; e a SmartFit, com quatro serviços e 11 unidades do gênero no portfólio, tem planos de expansão em curso.

“Mesmo oferecendo academias a baixo preço e funcionando 24 horas, percebemos que muitas pessoas querem fazer um treino rápido, intenso e divertido. Essa é exatamente a pegada dos estúdios”, avalia Ana Carolina Corona, diretora desse segmento na SmartFit.

Um número expressivo desses estabelecimentos, independentes ou conectados a grandes grupos, aposta suas fichas em exercícios funcionais e intervalados, praticados com música alta e salas iluminadas por lâmpadas de LED.

+ Leia também: O que são e o que fazem pelo corpo os exercícios aeróbicos?

A sensação aqui é um método que nem é tão novo, o HIIT, do inglês high intensity interval training. São treinos que botam a pessoa para suar a camisa em alta intensidade com pequenos intervalos de descanso. E há várias formas de fazer isso — algo bem explorado pelos estúdios.

“Esse método tem uma proposta que veio dos esportes de alto rendimento. E é atrativo porque promete mais benefícios em menos tempo. Mas não existe um consenso científico de que seja mais efetivo que treinos convencionais feitos de forma adequada e regular”, analisa a educadora física Fúlvia Gobatto, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

As sessões de HIIT de fato têm o poder de desenvolver o condicionamento cardiorrespiratório e torrar calorias, mas a especialista aconselha ir devagar com o andor e os excessos. “Muita gente quer treinar assim todo dia, só que não está preparada para estímulos físicos de intensidade tão alta”, avisa.

“O recomendado é ter um preparo físico de moderado a avançado para o HIIT. Quem está sedentário e parte para um treino intenso está sujeito a lesões, principalmente nos ligamentos e nas articulações”, concorda e orienta o ortopedista David Gusmão, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

São ponderações valiosas diante da empolgação inicial ao estrear e evoluir nos estúdios. Até porque eles têm uma vantagem e tanto nesse sentido: a maior adesão às aulas.

Respeitando os limites, dá para tirar o melhor proveito desse universo em expansão e múltiplas opções, como você vai ver nesta reportagem.

+Leia Também: Qual a intensidade de exercício físico ideal para você?

ANTES DE SUAR A CAMISA

O que levar em conta ao se matricular num estúdio

  • Defina seu objetivo
    Em primeiro lugar, é importante saber o que você quer. Sair do sedentarismo? Emagrecer? Ganhar músculos? Isso ajuda a guiar a escolha.
  • Analise opções perto de casa
    Tempo demais de locomoção é um fator decisivo para a pessoa deixar de fazer atividade física. Prefira o que seu bairro oferece.
  • Descarte o que não faz seu estilo
    Se você é iniciante, é pouco efetivo começar com exercícios que acha complicados ou entediantes. Pense no que realmente o estimula.
  • Busque orientação
    Pesquise sobre a modalidade, seus benefícios e contraindicações. E consulte um profissional ou um professor antes de começar o treino.
  • Experimente
    Está difícil escolher? Teste! Uma vantagem dos estúdios é poder comprar aulas avulsas — em vez de pagar mensalidade. Dá para alternar entre as opções.

+ Leia também: Vamos à luta? As artes marciais como exercício físico

Funcionais e personalizados

Quase todos os estúdios seguem preceitos do treino funcional, baseado em exercícios que prezam o aprendizado motor e ensinam o corpo a ganhar força e habilidade para as situações de esforço físico no dia a dia.

Redes como a Kore trabalham com aulas em grupo e circuitos exclusivos e variáveis que mesclam exercícios aeróbicos e de resistência.

Um segmento em crescimento no Brasil é o de estúdios focados em treinos funcionais individualizados e monitorados — um educador físico planeja e acompanha caso a caso. A proposta é compartilhada por academias como a Leven e a Team Panzer e até aplicativos com sessões virtuais.

Foco em corrida

Correr é uma das atividades físicas mais democráticas, e claro que não ficaria de fora dessa nova onda. Já está mais do que comprovado que a modalidade queima calorias, protege o coração e é positiva para a mente.

Alguns estúdios juntam a corrida em esteiras com exercícios de força e definição, combinando o benefício do aeróbico clássico com o ganho de massa muscular.

Seguem essa linha, por exemplo, o Just Run Club e o Race Bootcamp: os treinos promovem tiros de corrida na esteira alternados com exercícios com peso livre fora dela.

É bom lembrar que o praticante já deve ter um condicionamento razoável antes de se lançar às corridas e precisa definir limites até para preservar as articulações.

O ritmo varia de pessoa para pessoa: tem gente que treina no máximo numa velocidade 8 e outros conseguem chegar a 15. Não adianta forçar a barra!

Bike indoor

É considerada uma ótima opção para quem quer um exercício eficiente e de baixo impacto para as articulações. Nas aulas de 45 minutos da Velocity, acompanhadas de música, luzes piscando e instruções do professor, dá para limar calorias, ganhar condicionamento físico e trabalhar não só as pernas.

Pois é, até os membros superiores são recrutados, com flexões de braço na bicicleta ergométrica durante a aula e uma pausa para exercícios com halteres fora dela.

O professor corrige pessoalmente a postura dos alunos, dá estímulos e recomenda, em alguns momentos da aula, que eles fechem os olhos e relaxem um pouco. Os adeptos afirmam que o clima é bem acolhedor. Sessões de bike indoor também são o carro-chefe de estúdios como Ride State e Cycle.

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Luta fit

A prática de artes marciais ajuda no controle do estresse, melhora a aptidão cardiorrespiratória e confere potência e resistência muscular. Academias de lutas em si existem há décadas, mas a busca por novas modalidades e por defesa pessoal inspirou a criação de treinos funcionais ancorados em golpes.

Um exemplo é o Spider Kick, estúdio que oferece um treino HIIT misturando exercícios de força e agilidade e golpes de muay thai.

O objetivo é simular a preparação física do ex-lutador profissional Anderson Silva, padrinho da casa. O método envolve até o uso de um relógio esportivo para medir as calorias gastas e a frequência cardíaca durante a aula — o que auxilia a verificar a evolução de maneira personalizada.

Outra opção com essa pegada é o estúdio Jab House, que faz um mix de treino funcional com golpes clássicos do boxe.

+Leia Também: Malhação para o cérebro: exercícios contra Parkinson, Alzheimer e cia.

Hot yoga

Exercícios que trabalham corpo e mente são cada vez mais requisitados, e não é de hoje que academias investem em modalidades como a ioga. Para fazer a diferença num meio que já conta com muitos instrutores e espaços consolidados, algumas marcas apostam em derivações do método com o propósito de aumentar o gasto energético.

É o caso do Vidya Studio com suas aulas de Hot Yoga. A ideia aqui é fazer uma sessão de ioga numa sala aquecida, com temperatura beirando os 40 graus (como uma sauna mesmo).

Fora o suadouro, o ambiente quente facilita a realização de algumas posturas. No entanto, pode levar um tempo até que o corpo se acostume com essas condições, então é bom respeitar os sinais que ele dá. Pessoas com hipertensão ou outras doenças crônicas devem pegar aval do médico antes de começar.

Pilates like

Modalidade cada vez mais popular, o pilates também vive uma fase de inovações. Além da versão clássica, estúdios trazem agora o pilates aéreo e aulas que envolvem fitas e outros acessórios circenses para complementar o que é feito solo ou com o apoio dos aparelhos.

Alguns espaços reforçam a proposta de trabalhar a consciência corporal e a preservação das articulações. Exemplo dessa corrente é o Gyrotonic: enquanto o pilates prioriza molas e movimentos controlados em uma única direção, esse método recorre a cordas de suspensão e movimentos circulares que aumentam a amplitude dos exercícios, feitos em equipamentos.

A técnica já está disponível em diversos estúdios de pilates, mas é preciso se certificar de que os instrutores têm formação para lecionar o método — uma dica é checar recomendações no site do Gyrotonic Instituto Brasil.

Dança Fit

Além da tradicional zumba, que invadiu há anos as academias, estúdios estão investindo em modalidades dançantes famosas pelo alto gasto calórico e pela tonificação muscular.

Um deles é o BYD, que traz no cardápio de aulas o Ballet Fit, criado pela bailarina brasileira Betina Dantas, e alia elementos básicos do ballet clássico com exercícios funcionais de ginástica, trabalhando ainda mais resistência e consciência corporal.

No Estúdio V, o destaque vai para a Pole Dance Fitness, uma versão esportiva da dança feita em cima de uma barra vertical. A modalidade, que já possui federações internacionais, abarca movimentos e acrobacias na barra, desligando-se do aspecto sensual pelo qual o pole dance ficou conhecido mundo afora. As aulas desenvolvem bastante força física, equilíbrio e flexibilidade.

Eletroestimulação

Para quem quer um treino rápido e eficiente, exercícios com eletroestimulação podem ser a saída. Várias redes já apostam nessa estratégia, a mais famosa delas a TecFit, que dispõe de mais de 40 unidades pelo país.

O treino, feito com um colete de eletrodos que estimula a contração dos músculos, dura apenas 20 minutos e deve ser repetido no máximo três vezes por semana.

É intenso e usa o peso do corpo do aluno, junto a movimentos funcionais, para obter ganho de músculo e perda de gordura — por se valer de pulsos elétricos, existem contraindicações, caso de gestantes.

Falando em tecnologia, os experts acreditam que a próxima tendência são estúdios de treinos com realidade virtual: você bota óculos especiais e malha integrado a um cenário criado pelo computador. Promissor, mas ainda não chegou por aqui.

+Leia Também: Eletroestimulação substitui academia?

Musculação especial

Exercícios de força são extremamente importantes para a saúde: ajudam a preservar a massa muscular, que naturalmente declina com a idade, e conservar a autonomia para as tarefas do dia a dia.

Mas muitas pessoas torcem o nariz para a musculação por achá-la monótona demais ou coisa de gente bombada. Alguns estúdios querem mudar essa imagem.

No Tonus Gym, por exemplo, cada aluno possui uma estação própria, com halteres, barras, banco e colchonete. Usando esses equipamentos, você é convidado e instruído pelo professor a realizar um circuito de exercícios, embalados por muita música e estímulos para malhar até seu limite. A meta é acabar com aquele preconceito de que musculação é algo chato e sempre a mesma coisa.

Crossfit

Os boxes de crossfit não são exatamente estúdios, mas estão entre os precursores desse movimento que busca quebrar o padrão da academia tradicional ao propor aulas capazes de gerar resultados, engajamento e senso de comunidade.

Alternando exercícios aeróbicos (como remo indoor, corrida e bicicleta), de ginástica e de levantamento de peso olímpico, o método trabalha o corpo todo e é um dos mais bem-sucedidos exemplos de treino funcional de alta intensidade.

As aulas são divididas em três etapas: aquecimento, técnica (ensino de alguns movimentos) e o treino do dia em si.

Existem centenas de boxes espalhados pelo Brasil. Se você nunca fez crossfit ou é iniciante, prefira estabelecimentos e instrutores que priorizem um bom ensino dos movimentos e possam adaptar os exercícios a eventuais limitações.

Esportes de areia

Outra modalidade que foge do padrão convencional e se tornou um fenômeno — não só em cidades com praia. O leque de exercícios na areia (principalmente a fofa) exige bastante do condicionamento físico e dos músculos. Contempla de treinos funcionais individuais a esportes coletivos.

Quem popularizou essa história foi o beach tennis, praticado em quadras de areia nos centros urbanos próximos ou distantes do mar. Mas ele não está sozinho.

Nas redes Riplay Sports, Fun Beach e Posto 011, além de aulas de beach tennis, dá pra fazer vôlei de praia, futevôlei ou circuitos funcionais. Indivíduos que estão sedentários ou têm alguma lesão articular devem receber ok do médico antes de pisar na areia.

Treinos na água

Todo mundo já ouviu que a natação é uma modalidade completa por colocar o corpo todo em movimento e não impor impacto demais às articulações.

Mas, para além das aulas comuns, já existem treinos pensados exclusivamente para a piscina, como o Hidropower. Essa é uma variação da hidroginástica, mas focada em exercícios de alta intensidade recrutando tanto membros inferiores como superiores.

Com o Aqua Training, por sua vez, você pratica corrida, faz bicicleta e até dá pulos numa cama elástica debaixo d’água.

Já no Aqua Float, a proposta é se exercitar em cima de uma prancha sobre a água, o que fortalece especialmente a região do abdômen.

Não existem estúdios dedicados a treinos aquáticos no país, mas você encontra as modalidades citadas em grandes academias com piscina, caso de unidades das redes Body Tech e Bio Ritmo.

+ Leia também: A explosão do crossfit

Academias full service

Os estúdios estão na crista da onda, mas todos os espaços têm seu lugar ao sol em matéria de atividade física. As academias tradicionais full service continuam atraindo bastante gente por concentrar inúmeros treinos e modalidades num lugar só.

Além das salas de musculação com equipamentos de ponta, elas costumam contar com uma extensa grade de aulas — de pilates, de ioga, de lutas… E algumas redes podem ter até mesmo estúdios dentro de suas unidades.

Essa já é uma realidade, por exemplo, em centros de treinamento da Bio Ritmo. Nessa linha, algumas academias mais completas (e com mensalidades mais salgadas) dispõem de piscinas e equipamentos de alta tecnologia como coletes de eletroestimulação. O aluno só precisa se planejar para reservar as aulas com antecedência porque elas são bem concorridas.

 

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