A Indonésia aprovou nesta segunda-feira (11) a autorização para o uso emergencial da vacina Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac. Segundo testes feitos pelo BPOM, órgão regulador indonésio equivalente à Anvisa, a vacina apresentou eficácia de 65,3% contra a Covid-19.
Com mais de 836 mil casos de Covid-19 registrados, a Indonésia é o terceiro país a aprovar o uso da Coronavac – China e Bolívia também o fizeram. O governo indonésio recebeu 1,2 milhão de doses do imunizante ainda em dezembro de 2020. Outro lote, de 1,8 milhão, deve chegar ao pais até o fim de janeiro. A ideia é que a vacinação, começando pelos profissionais de saúde, tenha início por lá ainda nesta semana.
Apesar de mais baixa que o percentual de imunização de vacinas como as da Pfizer, Moderna e Astrazeneca, a taxa de 65,3% é superior aos 50% de eficácia recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O que chama atenção, no entanto, é o fato de o percentual ser diferente daquele que a Coronavac registrou em outros países. Em testes feitos na Turquia, a vacina indicou 91,25% de eficácia. Já no Brasil, de acordo com o Instituto Butantan, que desenvolve a Coronavac no Brasil em parceria com a Sinovac, o imunizante protegeu em 78% dos casos leves – e em 100% dos casos graves.
Mas o que, afinal, explica essa diferença na taxa de imunização entre os países? É natural que populações diferentes entreguem resultados diferentes. Mas a resposta também está na maneira como os dados foram apresentados – mas também no número de pessoas considerado nos testes.
Antes de entender por que testes com a mesma vacina podem indicar eficácias diferentes, vale um breve adendo sobre os resultados do Brasil. Algo reiterado pela comunidade científica desde o anúncio feito pelo Instituto Butantan, no último dia 7, é que os 78% anunciados não contam a história inteira. O valor indica que, em um grupo hipotético de 100 vacinados, 22 teriam casos leves. Segundo o infectologista Esper Kallas, que conduz os testes no Hospital das Clínicas da USP, esse percentual não considera os voluntários assintomáticos ou que, por terem apenas sintomas muito leves da doença, não precisaram de assistência médica.
A forma como dados relativos à eficácia de uma vacina costuma ser divulgada ao público, porém, é outra. Em vez de dizer a porcentagem das pessoas imunizadas de acordo com o grau de severidade da doença, a eficácia está em observar o número de pessoas contaminadas nos dois grupos – o dos que receberam a vacina e o dos que não foram imunizados.
É como fez a farmacêutica Pfizer, por exemplo, ao anunciar seus resultados em novembro. O estudo de Fase 3 do imunizante envolveu 42 mil pessoas (metade recebeu a vacina, e a outra metade recebeu o placebo). Desse total, 170 pessoas ficaram doentes: 162 não foram vacinadas e só 8 haviam recebido a vacina. Esses números indicam que, se ninguém tivesse sido vacinado, o total de contaminados deveria ser de 162 em cada grupo. Por tabela, a vacina evitou que 154 pessoas do segundo grupo pegassem a doença. Daí vem os 95% de eficiência em proteger contra o novo coronavírus. Essa conta, porém, não considera 3.410 pessoas que sofreram sintomas de Covid-19, mas não foram testadas – desses, 1.594 haviam sido vacinadas. Um novo estudo, que inclua esses números, pode indicar eficácia menor do que os 95% apresentados.
Quando observados sob essa ótica, os dados de eficácia da Coronavac no Brasil podem de figura. Na conferência do último dia 7 de janeiro, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirmou que 218 casos leves de Covid-19 foram detectados entre as 12.476 pessoas que participaram do estudo. Sem dizer o número exato, Covas estimou que cerca de 160 deles eram do grupo placebo – e menos de 60, do grupo vacinado.
Se confirmados, esses números implicariam numa taxa de imunização de 63% – mais baixa, portanto, que os 78% divulgados inicialmente. Essa relação, no entanto, não é direta. Se uma vacina protege um número maior de pessoas de enfrentarem casos graves, por exemplo, sua eficácia é maior.
As informações sobre a eficácia constam no relatório encaminhado à Anvisa para a autorização do uso emergencial, mas ainda não tinham sido divulgadas à imprensa, como aconteceu com outras vacinas.
O índice geral de eficácia, que complementa as informações iniciais, foi revelado nesta terça-feira (12) – 50,38%. O número inclui, também, dados sobre casos com sintomas leves – diferentemente do feito pela Pfizer, por exemplo.
Era natural que a eficácia ‘revisada’, portanto, ficasse mais próxima do número dos testes feitos na Indonésia. Segundo informações da agência Reuters, a eficácia de 65,3% foi calculada com base em em 25 casos de Covid-19 entre 1.600 voluntários. O governo indonésio, no entanto, também não detalhou esses números.
O baixo número de voluntários analisados pode estar por trás da eficácia discrepante notada em testes na Turquia, de 91%. Apesar de vir sendo testada em 7 mil voluntários, os dados preliminares, divulgados em 24 de dezembro, consideram um grupo de apenas 1,322 pessoas. Foram 26 casos em 570 participantes do grupo placebo (não vacinados) e apenas 3 entre os 752 voluntários imunizados com a Coronavac. A próxima análise vai acontecer quando forem registrados 40 casos de infecção – o que pode alterar o percentual inicial de imunização.
Coronavac teve 65,3% de eficácia na Indonésia. Por que os números variam? Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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