Seríamos todos viciados por natureza? Reformulando: seríamos todos potencialmente reféns de vícios, ávidos por alguns comportamentos ou substâncias? Nossa infraestrutura cerebral parece ser propícia a isso — não que tenha sido concebida para tal finalidade.
No meio dos miolos há o sistema de recompensa, cuja moeda básica de troca é tudo aquilo que nos dá prazer. Ao mesmo tempo que esse circuito nervoso nos instiga e empurra para a vida, pode sediar o mecanismo da dependência.
Ainda que a gente tome a liberdade de empregar o termo “vício” em contextos amigáveis e desejáveis — viciados em livros ou esportes, por exemplo —, o fato é que o fenômeno em si é coisa séria. Na verdade, os especialistas nem gostam dessa palavra, pela carga simbólica de preconceito nela embutida.
O correto mesmo é falar em dependência. E tem as químicas e as não químicas, como você verá explicado na reportagem de capa do nosso brilhante colaborador André Bernardo (que também assina a coluna Saúde é Pop).
Perdão por usar a expressão outra vez, mas vício de verdade é algo que arruína a qualidade de vida — sobrando, tantas vezes, para as pessoas no entorno. É um transtorno com uma carga de danos psíquicos e físicos, que ainda se aproveita de situações desestabilizadoras como a pandemia para vencer o braço de ferro disputado com as resistências da consciência.
Sim, algumas pessoas têm maior propensão, por motivos genéticos, comportamentais e sociais, a certas compulsões. Mas o mundo também confabula a favor dos vícios. E está aí a dependência tecnológica para não me desmentir.
Não me considero um fã de redes sociais, mas já me flagrei passando uma hora ininterrupta deslizando o dedo na tela do celular vendo fotos e posts dos quais não guardo a mínima recordação. E cada vez mais gente admite que perde o controle com a internet, games e afins. Chega um momento em que isso prejudica estudo, trabalho e o próprio bem-estar — pois é, já não estamos mais no comando.
Fissura por meios eletrônicos, compulsão alimentar, alcoolismo e tabagismo (que revigoraram com a Covid-19), compras compulsivas… Tudo isso diz respeito aos novos e velhos vícios, um assunto que me faz lembrar de um capítulo do livro Dez Drogas (Todavia), do jornalista americano Thomas Hager, que narra como a guerra contra o ópio na China do século 19 pariu, no fim das contas, outras substâncias viciantes, como heroína e cocaína.
A impressão é que, com os dedos do homem, o mundo e as dependências se reinventam. Para lidar com elas, precisamos entender como a mente e o corpo funcionam — e as tentações à nossa volta.
Te cuida, homem!
Viramos a página do Outubro Rosa e entramos na do Novembro Azul, um movimento que completa dez anos no Brasil. A campanha começou mirando o câncer de próstata, mas hoje também contempla a saúde masculina de uma forma mais global.
A pandemia pisou na bola de diversos avanços nesse sentido. Temos que correr atrás do prejuízo! “É um absurdo que, em 2021, as mulheres ainda sejam as maiores responsáveis por levar os homens ao médico. Eles precisam aprender a se cuidar”, diz Chloé Pinheiro, autora da reportagem sobre o assunto.
Entre novos e velhos vícios Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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