quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Reconstrução mamária: um direito que faz diferença no tratamento

O câncer de mama é o segundo tipo de tumor que mais acomete as mulheres no Brasil, estando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 66 280 novos casos da doença no país em 2021. Com o adequado rastreamento, por meio de mamografia e exame físico, o câncer pode ser detectado em estágio inicial, o que aumenta consideravelmente as chances de cura.

O diagnóstico precoce também permite tratamentos menos agressivos, sejam eles cirúrgicos, sejam sistêmicos. Em relação à cirurgia, a técnica conservadora seguida de radioterapia, ou seja, quando não há necessidade de remoção de toda a mama, é o tratamento de escolha sempre que possível. Isso porque inúmeros estudos demonstram segurança oncológica e impacto positivo na preservação da mama – propiciando boa recuperação, satisfação pessoal e ganhos na autoestima e nos relacionamentos.

Isso porque inúmeros estudos demonstram segurança e impacto positivo na preservação da mama – propiciando boa recuperação, satisfação pessoal e ganhos na autoestima e nos relacionamentos.

Outra questão importante é o resultado estético, tanto que, em determinadas situações, é necessário associar a cirurgia conservadora a técnicas de cirurgia plástica. É o princípio da chamada oncoplastia, descrita inicialmente pelo cirurgião alemão Willian Audretsch. Nesse modelo, a mama é reparada com o próprio tecido mamário remanescente ou com tecidos adjacentes.

Entretanto, há situações em que a mama não poderá ser preservada e é preciso lançar mão da mastectomia. O procedimento mudou e atualmente, se possível, busca-se a preservação da pele, da aréola e do mamilo.

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Existem diversas formas de, após a operação contra o câncer, realizar a reconstrução mamária. Ela pode envolver tecidos da própria paciente (como os retalhos miocutâneos, que englobam pele e músculo) ou materiais externos, caso dos implantes de silicone.

Por muitos anos, questionou-se a segurança da reconstrução mamária imediata, logo após a mastectomia. Estudos foram realizados e hoje sabemos que ela é segura sob o ponto de vista oncológico, além de ser extremamente benéfica quando avaliamos questões físicas, psíquicas e sociais da paciente.

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Dessa maneira, a reconstrução mamária imediata deve ser oferecida às mulheres, desde que não haja contraindicações, e, no Brasil, isso é assegurado pela Lei Federal nº 12 802, de 2013.

Apesar do aparato legal, infelizmente os números mostram que a maior parte das mulheres submetidas à mastectomia no SUS não fazem a reconstrução mamária imediata, em contraste com as portadoras de planos de saúde.

Apesar disso, houve avanços, uma vez que a reconstrução mamária imediata na rede pública aumentou no período de 2008 a 2015 de 14,9% para 29,3% entre as mulheres submetidas à mastectomia – em 2017, o número chegou a 34%.

Nos últimos anos, porém, a crise financeira em nosso país impactou tanto a realização de cirurgias oncológicas como reconstrutivas, e o problema foi potencializado com a pandemia de Covid-19, gerando retrocessos na área. Outra situação que dificulta a realização imediata da reconstrução mamária é a falta de profissionais capacitados.

Existem iniciativas para melhorar o cenário, como os cursos de aperfeiçoamento e capacitação apoiados e realizados pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) desde o início dos anos 2000, e principalmente a partir de 2008, que elevam o número de médicos aptos a realizar os procedimentos. Vale lembrar que a reparação e a reconstrução das mamas fazem parte da matriz curricular das residências médicas em mastologia e cirurgia plástica.

É de suma importância, contudo, que outras medidas sejam tomadas, como maior investimento do setor público no tratamento do câncer, o que envolve a cirurgia reparadora e reconstrutiva das mamas. Só assim teremos mais mulheres com as mamas reparadas e reconstruídas após a cirurgia.

* Fábio Bagnoli é mastologista, médico do Hospital Paulistano e do Hospital Israelita Albert Einstein, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, membro das Comissões de Oncoplastia da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e diretor da SBM-SP

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