Foi-se o tempo em que o câncer de pele, o tumor maligno mais frequente no Brasil, se manifestava apenas em idosos. Com o passar dos anos, observamos uma maior propensão ao diagnóstico em indivíduos cada vez mais jovens e – ao que tudo indica – isso pode ser resultado dos hábitos protetores que negligenciamos durante a juventude, sobretudo nos primeiros 20 anos de vida.
O câncer de pele se divide entre dois tipos básicos: o melanoma, que se origina nas células produtoras de melanina (o pigmento da pele); e o não melanoma, que pode ter início nas células basais ou nas células escamosas da epiderme e corresponde a 95% do total de casos.
A cada ano, são registrados cerca de 185 mil novos episódios do câncer não melanoma na população brasileira, mas estima-se que esse número seja ainda maior, considerando que os tipos mais prevalentes não exigem notificação compulsória junto ao Ministério da Saúde.
O tipo não melanoma já é considerado uma patologia com baixos níveis de mortalidade, graças à eficácia dos tratamentos disponibilizados com o avanço da medicina. Contudo, conta com índices elevados de morbidade, ou seja, é uma doença que atinge parte expressiva da população e de maneira impactante, tanto em forma de deformações estéticas quanto alterações funcionais. Como consequência, compromete a qualidade de vida.
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A exposição prolongada ao sol é responsável por quase 90% dos casos de câncer de pele e, infelizmente, ainda encontramos uma grande resistência em relação a uma de suas principais medidas de prevenção, o uso do filtro solar diariamente.
Com a utilização do produto nos primeiros 20 anos de vida, o risco de uma pessoa desenvolver o câncer de pele é reduzido em 78%. Para obter tal eficácia, entretanto, é necessário utilizar o protetor na quantidade e nas condições adequadas e recomendadas pelos especialistas.
Nesse cenário, um erro comum que ainda permeia o dia a dia da população brasileira é pensar na proteção solar apenas no verão, ou quando se vai à praia ou à piscina.
Sabemos que, com o avanço do aquecimento global, a incidência solar em centros urbanos tem crescido cada vez mais, bem como a nocividade dos raios ultravioletas, mesmo em dias nublados. Dessa forma, os raios UVA e UVB penetram na pele, chegam até o DNA das células e causam lesões e mutações que levam ao câncer.
Um fator importante, e ainda pouco enfatizado, é o caráter cumulativo dos raios solares. Seus efeitos nocivos, adquiridos por meio de queimaduras, permanecem e continuam machucando a pele ao longo da vida. Isso significa que uma pessoa que experimentou um nível elevado de exposição ao sol na juventude provavelmente sentirá suas consequências depois dos 40 anos de idade – faixa etária em que o diagnóstico é mais frequente.
Entendemos, então, que o histórico de proteção (ou a falta dela) na infância e na adolescência é determinante para o aparecimento do câncer de pele na idade adulta, ainda mais se considerarmos que as crianças se expõem cerca de três vezes mais ao sol do que os adultos em razão de atividades recreativas, escolares e esportivas.
Em compensação, especialistas apontam que as crianças também costumam ser mais receptivas às orientações de fotoproteção. A educação sobre proteção solar adquirida na infância pode, inclusive, colaborar com a mudança de hábitos dos pais, mães e responsáveis dentro de casa.
É por isso que familiares, cuidadores e educadores devem sempre estimular o uso diário do protetor solar, evitar a exposição direta entre 10h e 16h e contar com o auxílio de ferramentas de aprendizado que estimulem a reflexão sobre o tema, como o autoexame periódico de manchas e pintas. A prevenção do câncer de pele pode (e deve!) começar mais cedo!
* Bernardo Soares é diretor médico da Sanofi Genzyme, unidade de negócios para doenças de alta complexidade da Sanofi, no Brasil
Por que é preciso pensar no câncer de pele desde a infância Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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