segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Nobel de Medicina 2022: entenda as descobertas que levaram ao prêmio

Cada ser vivo tem um código genético – “genoma”, em sua totalidade. Imagine que ele funciona como um manual de instruções para construir e operar o organismo, e é feito de um alfabeto com quatro letras: A, T, G e C, as bases nitrogenadas do DNA. Para estudar este código, os cientistas precisam sequenciá-lo – ou seja, decifrar letra por letra.

Uma tarefa deste gênero uniu pesquisadores no Projeto Genoma Humano, que começou em 1990. O esforço internacional durou quase 13 anos e virou um marco na história da ciência: foi a primeira vez que se mapeou todo o nosso DNA.

Na mesma época, o biólogo sueco Svante Pääbo estava ocupado com outro código genético: o dos neandertais, parentes extintos do Homo sapiens. Depois de anos de trabalho, ele conseguiu decifrar o genoma desses hominídeos, descobriu outros e fez nascer um novo campo científico: a paleogenética, que relaciona a paleontologia e a genética para estudar antigos seres vivos.

Graças ao biólogo, hoje os cientistas conhecem partes do código genético de nossos parentes extintos que influenciam nossa fisiologia – como genes neandertais que afetam a resposta do nosso sistema imunológico a infecções.

A relevância do trabalho foi oficialmente reconhecida nesta segunda (3): o sueco ganhou o Prêmio Nobel 2022 em Medicina, e levou 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,8 milhões).

A trajetória do cientista

Svante Pääbo nasceu em Estocolmo, em 20 de abril de 1955. No início de sua carreira como biólogo, ele percebeu que estudar o DNA dos neandertais envolvia alguns desafios técnicos. Imagine que, depois de milhares de anos, restam apenas vestígios de DNA nos fósseis, contaminados com o material genético de bactérias e humanos contemporâneos, por exemplo.

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Então, Pääbo teve que desenvolver métodos para estudar o DNA dos hominídeos extintos – um trabalho que durou décadas, mas valeu a pena. 1990 foi o ano de seu primeiro grande feito: ele decifrou o código genético encontrado em um pedaço de osso de 40 mil anos.

Este DNA neandertal vinha de mitocôndrias: estruturas celulares que produzem energia e têm material genético próprio. O DNA mitocondrial contém só uma fração da informação genética de uma célula – a maior parte fica em seu núcleo. Por isso, essas análises de Pääbo forneceram informações limitadas.

Ele partiu para um desafio maior: sequenciar o genoma neandertal, vindo do núcleo das células. O cientista foi convidado a estabelecer um Instituto Max Planck na cidade alemã de Leipzig e reuniu colaboradores. A partir daí, ele e sua equipe melhoraram os métodos para isolar e analisar o DNA de fósseis. Em 2010, Pääbo publicou a primeira sequência do genoma neandertal.

A equipe de Pääbo também sequenciou o DNA de outro osso de 40 mil anos, encontrado em 2008 na caverna Denisova, ao sul da Sibéria. O código genético era diferente de todas as sequências conhecidas de neandertais e de humanos atuais. Ali estava um hominídeo anteriormente desconhecido, que batizamos de denisovano.

As comparações entre o material genético dos hominídeos, possibilitadas pelo trabalho do biólogo sueco, foram essenciais para o estudo da evolução e migração humana. Hoje, acredita-se que na época em que grupos de Homo sapiens migraram da África para o Oriente Médio (a cerca de 70 mil anos), duas populações extintas de hominídeos habitavam a Eurásia: os neandertais e os denisovanos.

Nessa época, os neandertais teriam ocupado a Eurásia ocidental, e os denisovanos a oriental. Durante a expansão do Homo sapiens para outras regiões do globo, eles teriam encontrado e cruzado com ambas as populações.

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