O Brasil é a nação que mais concentra pesquisas clínicas na América Latina. De cada dez estudos conduzidos no continente, mais de quatro são realizados por aqui.
No recorte da América do Sul, a vantagem é ainda maior, com 68% do total. Atualmente, 8 805 pesquisas clínicas estão em andamento no país.
Apesar da liderança no cenário regional, essa marca representa apenas 2% do total de estudos realizados em todo o mundo. Estados Unidos e Europa são os principais mercados, e a China vem crescendo de forma consistente e ocupa a terceira posição desse ranking.
A pesquisa clínica, vale lembrar, é aquela que testa e valida uma nova solução, produto ou medicamento em humanos. Dividida em fases, é indispensável para aprovar (ou não) um remédio ou uma vacina que será utilizada pela população.
Alguns trunfos podem fazer com que o Brasil cresça de forma significativa nesse setor nos próximos anos, tornando-se um dos grandes players globais em pesquisa clínica.
Primeiro, os centros de estudo e os pesquisadores brasileiros já contam com grande reputação no exterior. A pandemia de Covid-19 e o desenvolvimento de vacinas para a doença, que se deu em tempo recorde, trouxe muita visibilidade para a área de pesquisa clínica no país.
Nos últimos seis anos, o tempo de aprovação para uma checagem de eficácia pelas autoridades regulatórias caiu em cerca de 40%. Além disso, há um projeto de lei, atualmente em tramitação no Congresso, que busca aprimorar a regulação das pesquisas no Brasil, garantindo mais agilidade e segurança jurídica para os participantes e as empresas. Todos esses fatores colaboram para que sejamos mais produtivos e atrativos nesse contexto.
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Afinal, trata-se de um grande mercado. Desde 2016, as grandes companhias farmacêuticas aumentaram em 44% o investimento em pesquisa e desenvolvimento, chegando a um total de 133 bilhões de dólares no último ano.
Uma das áreas que vêm recebendo mais recursos é a farmacogenética, que estuda a forma com que variações presentes no genoma dos indivíduos influenciam a resposta do organismo aos medicamentos. O objetivo é personalizar o tratamento de acordo com as características genéticas de cada pessoa.
O Brasil tem uma população multiétnica de quase 220 milhões de habitantes que falam o mesmo idioma e dimensões continentais com diferentes tipos de clima. Reúne, assim, condições ideais para ser um polo de pesquisa em farmacogenética.
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A falta de infraestrutura, principalmente em localidades mais afastadas das grandes cidades, é um dos principais gargalos existentes. Esse problema pode ser contornado com uma pesquisa clínica mais descentralizada, capaz de eliminar as barreiras tradicionais para pacientes (voluntários), médicos e empresas.
Nesse novo modelo, que dispõe de uma combinação de infraestrutura móvel para pesquisas, profissionais itinerantes e cientistas atuando também de forma virtual, podemos desenvolver pesquisas com potencial de salvar vidas e criar novas terapias mais rapidamente. Isso já existe nos EUA, onde a pesquisa clínica atrai investimento e oferece a comunidades diversas e mais carentes acesso a tratamentos de ponta.
Graças aos estudos com medicamentos, vacinas e equipamentos médicos, a população mundial vem alongando seu tempo médio de vida, ultrapassando os 80 anos de idade em muitos países.
O Brasil ainda perde oportunidades de acesso a estudos clínicos devido a burocracia regulatória e falta de logística adequada. Precisamos mudar esse cenário, inclusive para dar à nossa população a possibilidade de viver mais e melhor.
* Luis Russo é endocrinologista, membro da Academia Nacional de Medicina Farmacêutica e CEO da IBPCLIN Instituto Brasil de Pesquisa Clínica, empresa do grupo Care Access Brasil. Entre outros trabalhos, liderou estudos para a aprovação da utilização da vacina da Janssen contra Covid-19 no país
Os trunfos e os desafios do Brasil na área de pesquisas clínicas Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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