quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Os trunfos e os desafios do Brasil na área de pesquisas clínicas

O Brasil é a nação que mais concentra pesquisas clínicas na América Latina. De cada dez estudos conduzidos no continente, mais de quatro são realizados por aqui.

No recorte da América do Sul, a vantagem é ainda maior, com 68% do total. Atualmente, 8 805 pesquisas clínicas estão em andamento no país.

Apesar da liderança no cenário regional, essa marca representa apenas 2% do total de estudos realizados em todo o mundo. Estados Unidos e Europa são os principais mercados, e a China vem crescendo de forma consistente e ocupa a terceira posição desse ranking.

A pesquisa clínica, vale lembrar, é aquela que testa e valida uma nova solução, produto ou medicamento em humanos. Dividida em fases, é indispensável para aprovar (ou não) um remédio ou uma vacina que será utilizada pela população.

Alguns trunfos podem fazer com que o Brasil cresça de forma significativa nesse setor nos próximos anos, tornando-se um dos grandes players globais em pesquisa clínica.

Primeiro, os centros de estudo e os pesquisadores brasileiros já contam com grande reputação no exterior. A pandemia de Covid-19 e o desenvolvimento de vacinas para a doença, que se deu em tempo recorde, trouxe muita visibilidade para a área de pesquisa clínica no país.

Nos últimos seis anos, o tempo de aprovação para uma checagem de eficácia pelas autoridades regulatórias caiu em cerca de 40%. Além disso, há um projeto de lei, atualmente em tramitação no Congresso, que busca aprimorar a regulação das pesquisas no Brasil, garantindo mais agilidade e segurança jurídica para os participantes e as empresas. Todos esses fatores colaboram para que sejamos mais produtivos e atrativos nesse contexto.

+ LEIA TAMBÉM: As descobertas do atlas das células humanas

Afinal, trata-se de um grande mercado. Desde 2016, as grandes companhias farmacêuticas aumentaram em 44% o investimento em pesquisa e desenvolvimento, chegando a um total de 133 bilhões de dólares no último ano.

Continua após a publicidade

Uma das áreas que vêm recebendo mais recursos é a farmacogenética, que estuda a forma com que variações presentes no genoma dos indivíduos influenciam a resposta do organismo aos medicamentos. O objetivo é personalizar o tratamento de acordo com as características genéticas de cada pessoa.

O Brasil tem uma população multiétnica de quase 220 milhões de habitantes que falam o mesmo idioma e dimensões continentais com diferentes tipos de clima. Reúne, assim, condições ideais para ser um polo de pesquisa em farmacogenética.

BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

DISTRIBUÍDO POR

Consulte remédios com os melhores preços

Favor usar palavras com mais de dois caracteres
DISTRIBUÍDO POR

A falta de infraestrutura, principalmente em localidades mais afastadas das grandes cidades, é um dos principais gargalos existentes. Esse problema pode ser contornado com uma pesquisa clínica mais descentralizada, capaz de eliminar as barreiras tradicionais para pacientes (voluntários), médicos e empresas.

Nesse novo modelo, que dispõe de uma combinação de infraestrutura móvel para pesquisas, profissionais itinerantes e cientistas atuando também de forma virtual, podemos desenvolver pesquisas com potencial de salvar vidas e criar novas terapias mais rapidamente. Isso já existe nos EUA, onde a pesquisa clínica atrai investimento e oferece a comunidades diversas e mais carentes acesso a tratamentos de ponta.

Graças aos estudos com medicamentos, vacinas e equipamentos médicos, a população mundial vem alongando seu tempo médio de vida, ultrapassando os 80 anos de idade em muitos países.

O Brasil ainda perde oportunidades de acesso a estudos clínicos devido a burocracia regulatória e falta de logística adequada. Precisamos mudar esse cenário, inclusive para dar à nossa população a possibilidade de viver mais e melhor.

Compartilhe essa matéria via:

* Luis Russo é endocrinologista, membro da Academia Nacional de Medicina Farmacêutica e CEO da IBPCLIN Instituto Brasil de Pesquisa Clínica, empresa do grupo Care Access Brasil. Entre outros trabalhos, liderou estudos para a aprovação da utilização da vacina da Janssen contra Covid-19 no país

Continua após a publicidade

Os trunfos e os desafios do Brasil na área de pesquisas clínicas Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário