Desde muito nova eu mergulhei no mundo das artes. Aos 3 anos, comecei a estudar balé clássico e, aos 9, entrei na Escola de Bolshoi, em Joinville (SC), a única filial do famoso teatro de Moscou.
Aos 17 anos, comecei a estudar artes cênicas com Wolf Maia e fiz umas incursões no teatro. Até que, aos 20 anos, enveredei pela música, de onde não sai mais.
Enquanto eu brilhava nos palcos, tinha uma vida secreta, que me causava grande angústia. É que sofria com problemas intestinais que incluíam sangue e muco nas fezes, além de até 15 evacuações diárias.
Durante três anos, fiz uma verdadeira peregrinação nos consultórios de proctologistas para descobrir a origem desse sofrimento, mas nada parecia ajudar.
Diagnósticos errados me levaram a usar pomadas e tomar banhos de assento que só proporcionavam alívio temporário, mas nunca uma solução permanente.
Eu sofria calada porque tinha vergonha de falar sobre um assunto tão sensível.
Até que criei coragem e me abri com um amigo médico, que me aconselhou a procurar um gastroenterologista.
Depois de fazer um exame de colonoscopia, descobri um câncer de reto – algo raro para alguém da minha idade, na época com apenas 23 anos.
Foi um choque, mas decidi enfrentar o desafio. Procurei a Oncologia D’Or, onde o Dr. Henry Najman e sua equipe me deram total assistência.
Fiz uma cirurgia e passei por várias sessões de radioterapia e quimioterapia. Hoje, posso dizer que consegui vencer o câncer.
Toda essa luta me incentivou a vir a público e contar minha história para que outras pessoas superem o medo de falar sobre algo tão delicado.
Eu sei que no começo pode ser difícil, mas é importante conversar com amigos e familiares, além de procurar ajuda médica. O pior pode acontecer se você deixar para mais tarde.
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No meu caso, descobri o câncer em estágio 3 e soube que não poderia ter filhos de forma natural por causa do tratamento de radiação, que levaria à falência dos meus ovários.
Foi difícil lidar com essa notícia, mas decidi me concentrar na minha cura. Antes das sessões de radioterapia, congelei meus óvulos.
Durante o tratamento, usei uma bolsa de colostomia por quatro meses, que foi retirada em janeiro passado.
Meses depois, descobri uma metástase no fígado, que foi removida por ablação. Hoje, estou passando pela menopausa precoce.
Apesar de todos esses obstáculos, eu não perdi a alegria de viver.
Em novembro, lancei meu hit “Arretada”, que estará presente no meu primeiro álbum, produzido por Ruxell, Pablo Bispo e Tap, com previsão de lançamento para este ano.
Para aguentar essa vida corrida, procuro cuidar do meu físico – não para ter um corpo perfeito, mas para ter saúde.
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Eu malho e sigo uma dieta balanceada, sem carne vermelha, açúcar e álcool. De vez em quando, eu tomo uma taça de vinho. Mas nada em excesso.
Se eu pudesse voltar no tempo, sabe o que eu faria? Eu falaria para mim mesma: “Conte o que está acontecendo para alguém. Vá ao médico, qualquer médico, mas não desista até ter o diagnóstico correto.”
*Ananda Paixão é cantora e ex-bailarina
“Como ganhei coragem para enfrentar um tabu e vencer o câncer” Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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