A OMS declarou recentemente que a Covid-19 não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. O anúncio acabou sendo interpretado como o “fim da pandemia”, mas não é bem assim.
Na verdade, tecnicamente ainda vivemos uma situação pandêmica. A diferença é que agora o coronavírus não está mais sobrecarregando os sistemas de saúde.
“Uma emergência é quando uma doença leva a um número exacerbado de casos e óbitos e faltam coisas básicas, como leitos e equipamentos para a assistência dos doentes”, explica o infectologista Alexandre Naime, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A OMS tomou a decisão por orientação de seu comitê de especialistas. A Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou uma nota onde concorda com a posição da comunidade internacional. “Ainda é um problema de importância, mas não com a magnitude de antes”, afirma Naime, também membro da SBI.
Os especialistas explicam que essa é uma decisão política. “Em nível global, deixa de existir uma mobilização coordenada, com empenho de recursos para a assistência e o desenvolvimento de medicamentos e vacinas”, explica o infectologista Julio Croda, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Com o avanço da vacinação e a conquista de uma imunidade coletiva — também porque boa parte da população foi infectada —, a pior fase da doença parece, enfim, superada. Mas isso não quer dizer que é hora de baixar totalmente a guarda.
Vejamos: no Brasil, a emergência já terminou há mais de um ano. O fim foi declarado pelo ex-ministro Marcelo Queiroga, em abril de 2022. Desde então, mais de 38 mil pessoas morreram. E o Sars-Cov-2 ainda é o vírus respiratório que mais mata no país.
A título de comparação, em 2022, o influenza respondeu por menos de 1% dos óbitos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O Sars-Cov-2 provocou 94% dos óbitos. “E hoje cerca de 40% das internações por SRAG ocorrem pela Covid”, aponta Naime.
Pandemia não acabou
A decisão da OMS tem como objetivo nortear políticas públicas. Do ponto de vista científico, a Covid ainda é uma pandemia: uma doença distribuída em todos os continentes com impactos relevantes para a saúde pública.
Tanto que a própria entidade destaca a necessidade de manter ações de vigilância e prevenção. “Eles ressaltam que é importante monitorar o surgimento de novas variantes, pois a taxa de mutação do coronavírus é duas vezes maior do que a da influenza”, aponta Croda.
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Isso significa que há maior potencial para o aparecimento de mais mutantes. “As que vimos até agora têm impacto menor, até por conta da imunidade adquirida, mas pode surgir uma que escape melhor das nossas defesas”, diz o infectologista.
A situação da Covid-19 no Brasil
Aqui vivemos uma epidemia: isto é, a doença continua causando um número relevante de infecções, hospitalizações e óbitos. A média móvel de mortes está na casa de 50 por dia. “É muito menor do que o nosso pico, que ultrapassou 4 mil, mas não é baixo”, pontua Naime.
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A gripe, salvo surtos ocasionais, é uma endemia: os casos acontecem dentro de um padrão previsível e manejável. “Como na Covid não temos ainda um grande histórico, não é possível identificar um padrão, mas os números ainda estão altos para virar uma endemia”, diz Naime.
A situação pode mudar?
Sim, mas é pouco provável. Do ponto de vista evolutivo, as variantes que costumam se tornar predominantes são aquelas menos agressivas.
“Isso porque o vírus consegue infectar mais gente e manter seu hospedeiro vivo. É comum na história das doenças virais que elas se tornem mais transmissíveis e menos letais”, explica Naime.
Entretanto, a própria história do influenza, causador da gripe, mostra que nem sempre é assim que acontece. Vira e mexe, surge algum subtipo que provoca uma emergência global ou surtos atípicos.
“Não temos como prever que tipo de mutações irão ocorrer. O Sars-Cov-2 está no nosso ambiente, na natureza, em reservatórios animais… Ele pode sofrer mutações ou entrar em contato com outro patógeno em uma pessoa imunossuprimida, por exemplo, e gerar um vírus recombinante”, pondera Croda.
Lembrando que temos apenas três anos de convivência com a Covid-19, o que é pouco do ponto de vista científico. “O que é certo é que ela vai permanecer entre nós, como mais uma doença viral respiratória que traz impactos à saúde pública”, aponta Croda.
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A vacinação a partir de agora
A recomendação principal da OMS para manter a Covid sob controle é não descuidar da vacinação. As vacinas não evitam 100% das infecções, mas reduzem significativamente o risco de hospitalização e morte pelo coronavírus.
O alerta vale em especial para os indivíduos mais vulneráveis às versões graves da Covid. “São os idosos e indivíduos imunossuprimidos, nos quais a vacina tende a não gerar uma resposta tão robusta, e pessoas sem o esquema vacinal completo”, relembra Naime.
Para essas pessoas, a recomendação é tomar uma dose de reforço além das três do esquema primário. O problema é que a adesão tem deixado a desejar. Tanto que o Ministério da Saúde ampliou sua campanha com a vacina bivalente para todos acima de 18 anos.
A OMS recomenda que os países insiram a imunização dentro de suas campanhas regulares de doses infantis e para públicos específicos. Neste segundo caso, em um esquema parecido com o da gripe, a cada seis meses ou um ano, a depender da evolução do cenário.
Orientações individuais
A principal coisa a se fazer agora é manter o cartão de vacinação o mais atualizado possível.
Outro ponto importante é tomar atitudes diferentes ao notar sintomas respiratórios. “Independente de que vírus for, devemos nos isolar e usar máscaras para evitar transmitir o que quer que seja”, aponta Naime.
Naime também orienta a população a procurar atendimento médico, porque há diferentes tratamentos para as doenças virais.
No cenário atual, não é preciso mais adotar medidas como o uso de máscaras, mas o grupo de risco pode seguir utilizando em locais com muita gente, para garantir proteção extra.
Covid: o que significa o fim do estado de emergência decretado pela OMS? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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