quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Aleitamento materno: estigmas, mitos e desafios

Os bebês devem receber apenas leite materno até os seis meses de vida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Após esse período, é preciso começar a introdução alimentar, conforme a orientação do pediatra, mantendo a amamentação até os dois anos ou mais.

Entretanto, o processo de aleitamento é diferente para cada mulher, e a falta de informações corretas e seguras acaba atrapalhando essa experiência. Quando o assunto é amamentação, alguns estigmas e mitos ainda permeiam o tema, facilitando a circulação de desinformação.

Muitas mulheres já escutaram que a mama tem que doer ao amamentar, que a descida do leite já acontece em abundância logo após o parto, ou mesmo que acolher o bebê quando ele chora nas primeiras noites fará com que seja uma criança mimada.

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Além disso, existem características da mãe, do bebê e da família, que a sociedade ou a própria lactante e seu entorno consideram impedimentos à amamentação. E que, na verdade, são conceitos equivocados.

Vamos explicar alguns deles a seguir:

Amamentação e trabalho

Podemos começar falando, por exemplo, sobre a lactante que trabalha. Algumas mães têm a licença maternidade por seis meses, outras trabalham como autônomas ou sem carteira assinada.

Com isso, parece impossível continuar o aleitamento após o retorno ao trabalho, principalmente, para aquelas que não podem fazer home office.

A produção do leite depende do estímulo para que ele saia das mamas. Assim, a mãe que trabalha fora precisa planejar como será o seu retorno à rotina.

Enquanto ela está em casa, o bebê mama a cada 2, 3 ou 4 horas. Depois que volta ao trabalho, a retirada do leite (ordenha) deve acontecer nesses intervalos para que a produção não seja reduzida.

O leite ordenhado no local de trabalho pode ser deixado em casa para ser ofertado no dia seguinte por quem estiver cuidando do bebê.

Importante, ainda, lembrar que a ordenha deve ser feita com cuidados de higiene e o alimento precisa ser resfriado e armazenado em recipientes e locais adequados.

+ Leia também: Cirurgia plástica nas mamas atrapalha a amamentação?

Aleitamento depois do silicone

As mulheres que realizaram cirurgias nas mamas antes de engravidar costumam ficar na expectativa de saber se conseguirão amamentar ou não.

A verdade é que a colocação de próteses com as técnicas cirúrgicas atuais raramente prejudica o aleitamento, exceto se alguma outra condição clínica estiver presente.

Adoção

Até as mães adotivas podem conseguir amamentar seus filhos por meio da indução da lactação.

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Nesses casos, a produção de leite poderá eventualmente não suprir totalmente as necessidades do filho, mas fornece nutrientes importantes para a defesa de infecções e o crescimento saudável.

Problemas nos mamilos

Muitas vezes, mães com mamilos invertidos, planos ou grandes, são desencorajadas, mas esse é um conceito equivocado.

Embora até exista uma dificuldade inicial para fazer a pega nessas situações, isso não impede o aleitamento. O acompanhamento com especialistas pode ajudar o bebê a abocanhar e sugar.

Vale lembrar que obstáculos iniciais são comuns para quase todas as mães, independentemente do tipo de mamilo.

Na prematuridade

Alguns bebês prematuros que ficam na UTI Neonatal não podem sugar no seio nos primeiros dias de vida.

Nesses casos, o leite deve ser ordenhado e oferecido a ele, o que é muito importante para o desenvolvimento do prematuro.

O ideal é que a retirada ocorra poucas horas após o nascimento para estimular o aumento da produção de forma progressiva.

+ Leia também: Aleitamento materno é um direito de toda criança

Os primeiros dias

Quase toda mãe pode amamentar, mas muitas passam por dificuldades iniciais.

Apesar de haver informações disponíveis sobre os benefícios do leite humano, as posições, a pega correta etc., a maioria das lactantes nunca viu um bebê mamar pessoalmente, tampouco cuidou de um recém-nascido.

O sono do recém-nascido, por exemplo, é bastante irregular. Às vezes, é difícil acordá-lo durante o dia para mamar e ele pode passar a noite toda chorando e querendo colo. Nessas situações, pode pegar no colo, ele não vai ficar mal-acostumado.

Aquele leite chamado colostro – um líquido espesso e amarelado – é produzido em pequena quantidade, mas muito rico em anticorpos. Ele defende o bebê contra infecções e é suficiente para alimentá-lo nos primeiros dias.

Alguns dias do parto, a mãe começa a sentir a chegada do leite: as mamas ficam mais quentes, túrgidas e aumentam de tamanho. Além disso, a pega correta não provoca dor. Se estiver doendo e com lesões nos mamilos, é necessário buscar maneiras de corrigir.

A família, os amigos, o companheiro ou companheira tem papel fundamental nestes momentos e suas palavras devem ser de apoio, conforto e otimismo. Respeitar e reconhecer as particularidades de cada mulher e seu bebê é essencial para um processo saudável e empático.

*Mônica Vilela Carceles Fráguas, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista

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