O stop-motion usa o mesmo princípio da animação tradicional: vários frames com sutis diferenças entre si são exibidos em alta velocidade para dar a ilusão de movimento. Só que, em vez de um desenho em cada quadro, o stop-motion usa fotos de bonequinhos ou fantoches. Pense em clássicos como O Estranho Mundo de Jack (1993), A Fuga das Galinhas (2000), O Fantástico Sr. Raposo
(2009) e Paranorman (2012).
É um processo trabalhoso e lento, quase artesanal. Para ter uma ideia, a série Rilakkuma e Kaoru, que a Netflix produziu no Japão, começou a ser pré-produzida em 2017 e filmada a partir de março de 2018 para estrear só no segundo trimestre de 2019. Para entender mais sobre a técnica do stop-motion, conversamos com o diretor Masahito Kobayashi e Hiro Minegishi, animador-chefe dos estúdios Dwatf, que produziu a série.
Stop-motion é uma técnica é demorada e cara. Por isso, tudo é planejado para que quase não haja erros (e, portanto, refilmagens). Primeiro, os roteiros são gravados com humanos, de uma maneira bem simples, só para os animadores terem referências dos movimentos dos personagens – especialmente os da boca, conforme eles falam, e o jeito como andam. É a chamada “pré-visualização” (ou “previz”).
Então começa a fase de pré-produção. Enquanto os dubladores já gravam os diálogos finais (sem poder improvisar), a equipe de direção de arte tem que produzir, na escala proporcional, todos os cenários que serão utilizados na série. No caso de Rilakkuma, por exemplo, foi preciso construir parques, prédios, escola, o interior do apartamento do ursinho, o céu, a cidade ao fundo… Tudo isso levou cerca de seis meses.
Paralelamente, é preciso criar as estrelas do show: os bonecos. A Netflix contratou a empresa inglesa Mackinnon and Saunders, de filmes como A Noiva Cadáver (2005) e O Fantástico Sr. Raposo. Mais de 70 fantoches de 25 cm foram feitos por uma impressora 3D com resina ABS (a mesma das peças de Lego). A ilusão da pele é criada com uma fina camada de tecido.
Por falar em bonecos, há sutis mecanismos dentro da cabeça, acionáveis por uma microchave, que controlam diferentes aspectos da expressão do personagem: os olhos, a sobrancelha, a boca etc. Eles são tão delicados que os animadores passam por um mês de treinamento antes de poder mexer neles. E só podem tocá-los com luvas para evitar deixar manchas na “pele” das estrelas.
Hora de filmar
As filmagens não ocorrem em ordem cronológica. Geralmente, cada animador faz todas as cenas específicas de um cenário. Tem um que só grava na réplica do apê, outro só no parque, e assim por diante. Para poderem trabalhar paralelamente, foram feitos sete bonecos de Rilakkuma e sete de sua melhor amiga, Karuo. Mas, ainda assim, o cronograma é um grande quebra-cabeça.
Cada segundo da série é composto por 12 fotos. Portanto, a série toda, com 13 episódios de 11 minutos, exigiu mais de 102 mil fotos – cerca de 10 mil por animador. Cada um deles trabalha em um estúdio isolado por cortinas pretas para controlar a luz. Sobre o cenário, uma grua permite posicionar a câmera com firmeza em diferentes ângulos
O profissional ajusta a luz e a câmera, posiciona o boneco e faz o clique. Então, retorna ao boneco, altera levemente sua posição ou expressão e clica de novo. E assim por diante – como na ilustração acima.
Algumas ações exigem truques. Para o personagem dar um passo (ou seja, ficar com uma perna no ar), por exemplo, ele é afixado com um alfinete. Para segurar um objeto, este é fixado com uma tachinha.
As imagens clicadas vão todas para um software chamado DragonFrame. Ele é muito útil para que o animador possa comparar a foto anterior e a atual. O programa também facilita a edição final, reunindo os “trechos” gravados por cada animador (você pode entender melhor como ele funciona neste vídeo). Depois, basta aplicar os diálogos gravados, a trilha, e pronto.
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