segunda-feira, 12 de abril de 2021

DNA antigo aponta diferentes eventos de reprodução entre humanos modernos e neandertais

Na última década, o sequenciamento de DNA mostrou que os humanos modernos são fruto da mistura de diferentes espécies de hominídeos. Populações da Europa e Ásia, por exemplo, possuem 2% de DNA neandertal, enquanto as da África têm 0,3%. Em outras palavras, nossos ancestrais se reproduziram com neandertais no passado, e as marcas desses hominídeos extintos permanecem em nós até hoje. Dois estudos publicados na última semana revelam mais detalhes sobre os encontros entre neandertais e sapiens na Europa.

Antes de entrar nas revelações dos estudos, vale uma breve recapitulação da expansão humana. Já se sabe que o Homo sapiens surgiu na África, cerca de 300 mil anos atrás. A teoria mais aceita afirma que alguns humanos saíram do continente entre 60 e 80 mil anos, enquanto outros ficaram por lá. 

Nesse caminho, os sapiens cruzaram com neandertais pelo menos uma vez – provavelmente no Oriente Médio, há 50 mil anos. As principais evidências disso vêm de ossos de um homem que viveu há 45 mil anos na Sibéria, e de um jovem da Romênia, com ossos datados entre 37 mil e 42 mil anos atrás. 

Os sapiens seguiram no mapa até a Europa, que já era um território neandertal. Esses primos nossos surgiram há 400 mil anos e foram extintos entre 40 e 30 mil anos atrás – um pouco depois de darem as caras com os sapiens. 

Agora, podemos partir para as revelações de duas cavernas localizadas na Europa.

Os homens de Bacho Kiro

A caverna de Bacho Kiro, na Bulgária, foi a casa de neandertais e sapiens. Segundo os registros de ferramentas deixadas no local, os neandertais foram os primeiros moradores da caverna, há 50 mil anos. Só depois vieram os humanos modernos, há 45 mil anos – um dos primeiros grupos de sapiens que se estabeleceram na Europa.

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Um estudo publicado na Nature investigou justamente esse grupo de humanos. Eles possuem entre 3 e 3,8% de material genético neandertal no genoma, reunidos em grandes “pedaços” de DNA. A pesquisa sugere que eles tenham cruzado com a espécie extinta apenas seis gerações antes, algo entre 160 e 180 anos. Essa conclusão é possível porque o material genético se recombina ao ser passado para a geração seguinte. Quanto mais fragmentado ele está, mais distante foi o evento de reprodução.

Ou seja: alguns dos avós dos tataravós desses humanos eram neandertais. Esse encontro provavelmente se deu diretamente na Europa, e não no Oriente Médio. 

O grupo de Bacho Kiro não tem nenhuma relação com a população europeia atual. Na verdade, as análises mostraram que eles são parentes distantes dos humanos que foram para a Ásia e migraram para a América, incluindo populações nativo americanas atuais. Eles também estão relacionados a um esqueleto de 40 mil anos encontrado na China.

A mulher de Zlatý kůň

Mas isso não significa que os sapiens e neandertais não tenham cruzado também no Oriente Médio. Uma outra pesquisa, publicada no mesmo dia no periódico Nature Ecology & Evolution, sequenciou o genoma de uma mulher sapiens que viveu entre 45 e 47 mil anos na caverna de Zlatý kůň, onde hoje fica a República Tcheca. A história dela é bem diferente dos humanos de Bacho Kiro.

Acredita-se que esse seja o genoma mais antigo da Europa já sequenciado, que foi recolhido de um crânio na caverna. A mulher também tinha 3% de DNA neandertal, mas ele estava bem mais fragmentado. Diferente dos humanos do Bacho Kiro, seus ancestrais devem ter cruzado com neandertais entre 60 e 80 gerações antes (cerca de 2 mil anos). Esse é o encontro que pode ter acontecido há 50 mil anos no Oriente Médio.

A humana de Zlatý kůň é avó distante do homem siberiano que mencionamos antes. No entanto, ela não parece fazer parte de uma linhagem com descendentes vivos hoje.

No final das contas, ambos os estudos mostram que o sexo entre sapiens e neandertais é bem mais complexo e fragmentado do que se imaginava. Provavelmente nos reproduzimos continuamente com eles, em diferentes momentos da história. Além disso, nem todos os descendentes dessa união geraram populações vivas hoje, o que torna as análises ainda mais desafiadoras.

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