domingo, 2 de outubro de 2022

Precisamos dar mais atenção e cuidado a pessoas e famílias LGBTQIA+

O respeito à diversidade de orientação sexual e de gênero é uma conquista recente, que requer constante vigilância e atenção de todos. De nossa parte, acredito que a medicina deve exercer um papel fundamental nessa conquista, em especial no que tange aos cuidados que os profissionais devem dedicar a essa população.

Antes, alguns esclarecimentos sobre a sigla. Para quem não sabe, “LGB” se refere à orientação sexual e significa lésbicas, gays e bissexuais; “TQI” corresponde à identidade de gênero: transexuais, queer e intersexo; o “A” se refere a assexuais; e o sinal de “+” engloba pessoas não binárias, pansexuais e demais identidades.

Muito além da sigla, sempre aberta a incluir, essas pessoas merecem, como qualquer cidadão ou cidadã, a atenção especial dos integrantes dos serviços de saúde e a compreensão de suas particularidades.

Esse é um assunto que não pode mais passar batido pela ginecologia e a obstetrícia, por exemplo. Não à toa, a 14ª edição do livro Rezende Obstetrícia (clique para comprar), manual destinado a profissionais da área editado pela primeira vez pelo médico Jorge Rezende em 1961, traz um capítulo especial a essa questão.

Entre conceitos, ensinamentos e sugestões, a obra lembra que os profissionais devem tratar os pacientes pelo seu nome e pronome de escolha. O atendimento às pessoas trans precisa ser multidisciplinar e contar com vários especialistas, entre eles psicólogos e psiquiatras.

+ LEIA TAMBÉM: A saúde mental da população LGBTQIA+

Anamnese e exame físico devem ser realizados respeitando-se as peculiaridades de cada indivíduo. Por exemplo: a rotina ginecológica para mulheres que fazem sexo com mulheres é idêntica à da população geral. A colpocitologia oncótica, que rastreia lesões no útero, deve ser realizada em todas as pessoas com esse órgão, seguindo o calendário estabelecido para a população geral, assim como a mamografia.

Em relação à parentalidade LGBTQIA+, a experiência é complexa, envolve fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais e apresenta significados e percursos distintos em cada sociedade. As famílias podem se configurar de múltiplas maneiras (monoparentais, homoparentais, adotivas…) e inclusive ser recompostas.

Diante desse cenário, os centros de reprodução assistida devem considerar as particularidades do atendimento aos indivíduos e às famílias LGBTQIA+, que podem buscar serviços diversos como doação de esperma, inseminação intrauterina ou fertilização in vitro.

Continua após a publicidade

Na assistência pré-natal, são mantidos os protocolos de exames, vacinação, número de consultas e acompanhamentos em geral. Cabe ressaltar que casais LGBTQIA+ podem ser atendidos no âmbito da assistência pré-natal a despeito de suas configurações, o que inclui homens e mulheres transexuais e casais homoafetivos.

A assistência ao parto também deve contemplar essa diversidade, evitando-se a intersecção da violência obstétrica. Essas famílias merecem ser respeitadas em seus arranjos, e nunca devem ser questionadas com perguntas inconvenientes ou comentários preconceituosos.

BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

DISTRIBUÍDO POR

Consulte remédios com os melhores preços

Favor usar palavras com mais de dois caracteres
DISTRIBUÍDO POR

Nessa linha, também se deve respeitar o direito ao acompanhante de escolha da pessoa gestante. E é preciso contemplar a possibilidade de outra pessoa, além daquela que teve o parto, amamentar, o que pode envolver não apenas duas mães, mas combinações diversas de casais transexuais. Hoje existem protocolos específicos de indução da lactação em pessoas não gestantes.

Auxiliar e orientar famílias na aceitação e na compreensão de seus membros LGBTQIA+ tem impactos importantes na vida de todos os envolvidos. Essas pessoas têm os mesmos direitos de qualquer cidadão, apenas possuem particularidades que precisam ser respeitadas, inclusive na gestação, no parto e no pós-parto.

Eis um compromisso que a medicina deve abraçar; e a nova literatura médica, propagar.

Compartilhe essa matéria via:

* Jorge Rezende Filho é professor titular da cátedra de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Nacional de Medicina

Continua após a publicidade

Precisamos dar mais atenção e cuidado a pessoas e famílias LGBTQIA+ Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário