terça-feira, 6 de abril de 2021

Um novo modelo de assistência para cuidar da saúde dos brasileiros

A saúde suplementar no Brasil é cara. Somente 22,7% dos brasileiros têm um plano de saúde privado, de acordo com dados de 2019 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). E, para piorar, a qualidade desses serviços deixa a desejar.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) de 2020 revela que 80% dos consumidores reclamam de suas operadoras de saúde. Além disso, nada garante que essas pessoas estejam mais protegidas ou saudáveis dentro desse sistema.

Isso acontece porque seguimos um modelo chamado “fee for service”, ou seja, “taxa por serviço”. Esse modelo é focado em pagamentos, não em saúde. Nele, hospitais, laboratórios e profissionais são remunerados pela quantidade de procedimentos feitos, e não pela qualidade desse cuidado. Isso incentiva desperdícios de recursos.

Vou dar um exemplo dentro da minha área de atuação, a ortopedia. Um estudo de 2017 conduzido por pesquisadores brasileiros mostrou que 66% das indicações de cirurgia de coluna são desnecessárias.

A pesquisa revelou que, no lugar de uma intervenção cirúrgica, um tratamento fisioterápico seria suficiente para melhorar a dor, a função e a qualidade de vida dos pacientes. Mas por que tantas cirurgias são feitas? Porque hoje se trabalha dentro de um paradigma “fee for service”, e não de promoção da saúde.

A boa notícia aqui é que há solução para esse cenário. E ela se chama “value-based healthcare” (VBHC) ou, no bom português, “saúde baseada em valor”. Neste modelo, a melhora da saúde das pessoas é premiada.

O conceito foi proposto em 2006 pelo americano Michael Porter, economista da Escola de Negócios de Harvard. Ele introduziu a ideia de que os sistemas de saúde devem focar em entregar o melhor resultado em saúde com a melhor experiência para a pessoa, sem desperdício de recursos.

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A Alice, empresa de tecnologia da qual sou diretor médico, é hoje a primeira gestora de saúde a usar esse modelo pra valer no Brasil. Tudo o que fazemos tem como foco a entrega de melhores resultados de saúde para nossos membros, medidos de forma individual através de métricas, como preconiza o VBHC. Se não for assim, não é “saúde baseada em valor”.

São essas métricas que, além de mostrar o resultado clínico, definem a remuneração dos profissionais e instituições, com o objetivo de entregar o melhor cuidado para os membros e promover efetivamente a saúde.

Aqui está o pulo do gato. São os indicadores que revelam se as pessoas estão de fato ficando mais saudáveis. Na Alice, usamos vários desses indicadores clínicos e cirúrgicos. Eles consideram desde critérios de qualidade de vida, grau de ansiedade e depressão das pessoas até sintomas como dor no joelho.

A partir desses dados e das respostas aos questionários que aplicamos, conseguimos quantificar o sucesso do tratamento, se houve entrega de qualidade na condução dos casos e, assim, podemos ter a certeza de que estamos entregando valor em saúde.

Tudo isso só é possível a partir de uma tecnologia proprietária, que permite a interconectividade entre todos os nossos parceiros, caso do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Hospital Israelita Albert Einstein, ambos referência na América Latina. Junto a eles a ideia é propiciar um cuidado integral à saúde do indivíduo.

O modelo “value-based healthcare” está dando os primeiros passos no Brasil e, com a ajuda das healthtechs, iremos chegar muito mais longe.

* Mario Ferretti é diretor médico de Alice

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