Gestantes infectadas com a bactéria causadora da sífilis podem transmitir a doença aos bebês. A chamada de “sífilis congênita” atrapalha o desenvolvimento do feto, levando a malformações, lesões de pele e mesmo aborto ou morte do bebê. Dados do Ministério da Saúde destacam uma mortalidade de 40% entre as crianças afetadas.
Em 2020, foram identificados 22 065 casos no Brasil. Uma taxa de 7,7 para cada 100 mil pessoas, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico da pasta, divulgado no início de outubro, durante o lançamento da Campanha Nacional de Combate à Sífilis.
Embora indique uma melhora em comparação com os números de 2019, quando a incidência da sífilis congênita foi de 8,5, não significa necessariamente uma redução real. Os diagnósticos podem ter sido prejudicados pela pandemia da covid-19, de acordo com Igor Marinho, infectologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Nos últimos 10 anos, a tendência tem sido um aumento no número de casos. [A queda] pode estar relacionada ao subdiagnóstico, mas também temos que lembrar que o grau de exposição das pessoas também diminuiu [no ano passado], já que deixaram de sair tanto e, por isso, um ‘controle’ da doença. Mas a tendência até aqui sempre foi de aumento”, explica.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, todos os anos, 12 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com sífilis. Com a congênita, são 1,6 milhões. “A doença se apresenta como uma epidemia no mundo nos últimos 20 anos. Apesar dos esforços no pré-natal, ainda há esse risco”, completa Marinho.
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O que é?
Considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível, a sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum, adquirida via relações sexuais desprotegidas. No caso da sífilis congênita, a bactéria é repassada da mãe ao feto por meio da placenta, em qualquer momento da gestação ou etapa da doença, e mesmo durante o parto.
Em alguns estágios clínicos da sífilis, a transferência ocorre com mais facilidade. Na fase primária e secundária, por exemplo, a taxa de transmissão fica entre 70% a 100% em mulheres não tratadas, segundo dados do Ministério da Saúde. Nas etapas terciária e latente, reduz a 30%.
Etapas da sífilis
O primeiro estágio da doença se caracteriza por uma lesão (cancro) que aparece no local de entrada da bactéria, como a região urogenital ou a boca. Em geral, não há dor, coceira ou ardência, mas pode vir acompanhada de ínguas na virilha. Como se resolve sozinha, entre duas a quatro semanas, a sífilis pode passar despercebida no início.
Na fase secundária, a pessoa infectada pode apresentar manchas pelo corpo, inclusive nas palmas das mãos e plantas dos pés. Os sintomas surgem entre seis semanas a seis meses após a cicatrização da primeira lesão. Pode haver também febre, mal-estar, dores de cabeça e ínguas pelo corpo. Novamente, em poucas semanas os sintomas se dissipam, o que prejudica o diagnóstico.
Caso não seja tratado, o paciente entra, então, na fase da sífilis latente, ou assintomática. Ela se divide entre latente recente, ou até um ano da infecção; e latente tardia, com mais de um ano. A duração total dessa etapa varia, e a pessoa pode apresentar sintomas da fase secundária e da terciária.
Entre um a 40 anos após o contato com a bactéria, dá-se início à etapa terciária. Lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas são registradas nesse momento, segundo informações do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. A pessoa identificada nessa fase também está em maior risco de morte pela doença.
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Danos ao bebê
Se a sífilis não for diagnosticada e tratada na gestante, os riscos para a saúde do feto crescem conforme o tempo de exposição à doença. A recomendação dos especialistas é que a mulher faça o teste rápido — disponível nas unidades de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) — durante o pré-natal e em outros três momentos da gestação: primeiro e terceiro trimestre, e no momento do parto ou em casos de aborto.
Das complicações da doença, são listadas:
• Abortamento espontâneo;
• Natimortalidade (morte no útero ou no parto);
• Parto prematuro;
• Malformação do feto;
• Surdez;
• Cegueira;
• Alterações ósseas;
• Deficiência mental.
“Dependendo da fase da gestação que ocorre [a transmissão] e sua gravidade, pode causar aborto ou mesmo óbito do feto”, explica Lessandra Michelin, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Os sintomas podem não aparecer logo ao nascer, mas nos primeiros três meses ou durante, e mesmo depois, dos dois anos de vida. O diagnóstico da criança envolve exames físicos, de imagem e de sangue, além da coleta do líquor – fluído corporal presente na medula espinhal, que ajudará a identificar o estágio da doença e o comprometimento do sistema nervoso central.
Para a sífilis congênita, o tratamento é realizado com o antibiótico penicilina cristalina, ou procaína, durante 10 dias. Para pessoas com a sífilis adquirida, ou as gestantes infectadas, indica-se a penicilina benzatina. As doses variam conforme o estágio da doença.
*Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein.
Sífilis congênita: saiba o que é e como prevenir Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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