Há uma preocupação de que certas variantes do coronavírus (Sars-CoV-2) reduzam o potencial das vacinas disponíveis atualmente. A empresa Novavax, por exemplo, apresentou dados mostrando que seu imunizante — ainda não aprovado — tem eficácia de 85% contra uma mutação identificada no Reino Unido, mas menor do que 50% contra uma variante sul-africana. Diante disso, os fabricantes já começaram a avaliar a possibilidade de mudar a composição das doses para que elas não deixem novas linhagens do Sars-CoV-2 escaparem de seus efeitos.
Segundo Luiz Gustavo de Almeida, microbiologista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), as atualizações dependem do tipo de tecnologia de cada vacina. “A Coronavac [desenvolvida na China e produzida no Instituto Butantan], por exemplo, não deverá sofrer alteração. Já a da Pfizer e a da Novavax, sim”, compara.
Explica-se: a Coronavac usa uma versão inativada do coronavírus inteiro. Isso significa que o sistema imunológico desenvolve anticorpos contra diferentes partes desse agente infeccioso. Se um desses pedaços sofre uma mutação, o sistema imune continuaria conseguindo atacá-lo por outras vias.
Já as vacinas da Pfizer, da Novavax e algumas outras incluem apenas trechos específicos do Sars-CoV-2 ou do seu código genético. Aí que está: se um desses pedacinhos do vírus sofrer uma ou mais mutações, a variante pode escapar dos efeitos proporcionados pelo imunizante.
“Mas não é toda a formulação que seria afetada. A forma de entregar a informação que o sistema imune precisa para desenvolver suas defesas contra a Covid-19 não muda”, esclarece Luiz Gustavo, que também é coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência. O que provavelmente seria alterado é a informação em si (ou seja, o pedacinho do coronavírus utilizado na receita).
A boa notícia é que a atualização não é tão complexa. “As vacinas contra o Covid-19 são versáteis. A modificação da fórmula pode levar até três semanas”, estima Luiz Gustavo. É possível, por exemplo, trocar aquele trecho ou mesmo adicionar novos pedaços ao imunizante. Ou, ainda, criar uma terceira dose de reforço especificamente contra uma variante.
No entanto, há possíveis entraves. O primeiro consiste em saber se realmente será necessário fazer essa mudança. Os estudos atuais sobre o assunto são poucos. Depois disso, é imprescindível combinar com as agências regulatórias quais tipos de evidências ou estudos serão pedidos para que aplicação em massa das novas versões das vacinas sejam autorizadas. Tem também o fato de que não sabemos se essas atualizações nas doses deverão ser frequentes — como no caso da gripe — ou não.
E também existe o desafio da fabricação em larga escala. “Isso, sim, seria impactado com essas atualizações, porque temos limitações para produzir as doses nesse momento”, arremata Luiz Gustavo. “É por isso que quanto maior o menu de vacinas, melhor será a resposta global”, arremata. Ou seja, se uma deixar de funcionar tão bem, temos outras para assumir seu lugar.
Aqui cabe informar que já foram identificadas mais de 4 mil variações do Sars-CoV-2 original. Apesar de poucas versões causarem preocupação na comunidade médica e científica, isso chama a atenção para o fato de que os agentes infecciosos estão sempre se adaptando.
E uma forma de desacelerar o surgimento de novas linhagens enquanto as vacinas estão restritas a poucos subgrupos da população é adotar hábitos que evitam a transmissão da Covid-19. Pois é: se o vírus não consegue infectar pessoas, ele não se multiplica, nem passa pra frente possíveis mutações perigosas. Mais um motivo para manter o distanciamento físico, fugir de aglomerações, evitar ambientes fechados, usar máscaras e lavar bem as mãos.
Modificações nas vacinas para conter variantes do coronavírus: o que saber Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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